Capriles, de 46 anos, se referiu ao ato de Guaidó como um juramento e não como uma autoproclamação (Marco Bello/Reuters)
AFP
Publicado em 1 de fevereiro de 2019 às 08h54.
O líder parlamentar Juan Guaidó fez um juramento como presidente interino da Venezuela, apesar de a maioria dos partidos opositores rejeitar ou duvidar da conveniência desta opção, revelou na quinta-feira (31) o duas vezes candidato à Presidência Henrique Capriles.
Mas uma vez consumada, os adversários do presidente socialista Nicolás Maduro foram surpreendidos pelo enorme apoio internacional a Guaidó - encabeçado pelos Estados Unidos - e que o ex-candidato define como um "efeito dominó".
Capriles, de 46 anos, que se referiu ao ato de Guaidó como um juramento e não como uma autoproclamação, falou com a jornalistas - entre eles da AFP - pela primeira vez desde o fato que mudou o panorama político da Venezuela.
A seguir, trechos de suas declarações.
Como a oposição preparou este momento?
Em 5 de janeiro, quando Guaidó toma posse na Assembleia (Parlamento), a posição majoritária dentro da oposição venezuelana era que Guaidó não devia fazer o juramento como presidente.
Considerava-se que isto poderia desencadear um confronto político (...) Havia a dúvida dentro da oposição que este ato público traria a consequência (que) o governo fechasse a Assembleia Nacional.
Chega o 23 de janeiro e Juan [Guaidó] faz o juramento como presidente interino. Não tínhamos a informação. Surpreendeu muitos dirigentes.
Quem é Juan Guaidó?
É uma pessoa bastante racional, não é um extremista, não é um louco, não é violento; uma pessoa centrada.
A oposição esperava tanto apoio internacional?
[Alguns dizem] que este é um plano que orquestramos: isso não é verdade, porque a conta da oposição eram (só) Brasil, Estados Unidos e Colômbia, em termos de reconhecimento a Guaidó, e o secretário-geral da OEA, Luis Almagro.
Todos ficamos surpresos com o efeito dominó que houve.
Sem este apoio internacional, hoje Guaidó estaria preso?
Provavelmente sim porque o governo diria, 'tenho controle da força, dos poderes, tenho o povo com medo, já baixei o pau no povo em 2017 [em manifestações que deixaram 125 mortos], sigo em frente'. A reação internacional (...) tem sido uma contenção".
Maduro denuncia um golpe de Estado opositor conduzido pelos Estados Unidos: como o senhor responde?
Se vitimiza. Quer fazer crer que Maduro foi um presidente eleito em uma votação e que Guaidó não foi eleito por ninguém, que ele se autoelegeu: isso é falso.
Guaidó é um deputado, presidente da Assembleia Nacional e [cumpriu] a nossa Constituição, ante a usurpação de Maduro.
[Nas eleições presidenciais de maio de 2018,] Maduro inabilita os principais candidatos, ilegaliza os principais partidos e assim quis disputar as eleições. Olha, que fácil!
Então, quem elegeu Maduro? Ninguém, foi uma farsa, foi uma montagem. Diante disso, o que o Poder Legislativo faz? Assumir suas competências constitucionais.
Juan Guaidó tornará possível a unidade opositora?
Qual é o objetivo máximo da oposição? Uma mudança política no país. Onde houve debate? Em como conseguimos essa mudança política, como é possível que a Venezuela possa recuperar a sua democracia porque isto não é uma democracia (...) Isto parece que é um autoritarismo caminhando para um totalitarismo.
O passo que Guaidó deu, (...) sem tê-lo previsto, trouxe um processo de composição imediata interno da oposição, (...) mais uma esperança para o venezuelano, mais uma sensação que vocês colhem na rua: 'agora sim, isto caminha para um desenlace'".
Como pode aumentar a pressão sobre o governo?
O que falta para que isto termine de rachar (...): é preciso explicar ao povo que até que a sociedade internamente não comece a dizer 'reconheço a Assembleia' (não haverá desenlace). Ninguém deu este passo internamente, Fedecámaras, Igreja, sindicatos, ninguém disse: não reconhecemos Maduro. Dizem: reconhecemos a Assembleia. Até que não seja dado este passo, Maduro acredita que tem o controle interno".