Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos (Jabin Botsford-Pool/Getty Images/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 27 de maio de 2024 às 17h00.
O histórico julgamento de Donald Trump em Nova York entra na sua reta final nesta terça-feira, 28, com argumentos finais perante o júri, que deve decidir se proferirá a primeira condenação criminal contra um ex-presidente dos Estados Unidos.
A menos de seis meses das eleições que decidirão se o magnata voltará à Casa Branca, é difícil imaginar o que está em jogo com o veredicto, tanto para o republicano de 77 anos como para o país como um todo.
Trump é acusado de falsificar registros contábeis para comprar o silêncio da ex-atriz pornô Stormy Daniels sobre um caso extraconjugal entre ambos em 2006, que pode ter prejudicado sua candidatura presidencial em 2016.
Se for declarado culpado, enfrentará até quatro anos de prisão por cada uma das 34 falsificações, mas especialistas afirmam que, por não possuir antecedentes criminais, é pouco provável que seja preso.
O fato mais notável é que uma condenação não impediria Trump de concorrer às eleições de novembro como candidato presidencial republicano contra o democrata Joe Biden.
Foram necessárias quase cinco semanas e o depoimento de mais de 20 testemunhas para chegar aos argumentos finais, a última chance da acusação e da defesa de impressionar o júri anônimo de 12 membros.
Sem surpresas, Trump optou por não testemunhar em sua defesa, uma medida que o teria exposto a riscos judiciais desnecessários e a interrogatórios forenses.
Para uma figura que sempre se orgulhou de estar no comando e no controle, o papel de um réu silencioso e passivo não foi fácil.
Houve momentos intensos e humilhantes, como quando o magnata se viu obrigado a ouvir os detalhes do suposto encontro com Daniels.
Diante da imprensa, antes e depois de cada dia de audiência, o republicano lançou ataques contra o juiz Juan Merchan, o qual chamou de "corrupto" e "tirano", e apontou uma "interferência eleitoral" por parte dos democratas com a intenção de deixá-lo de fora da campanha eleitoral.
A dimensão política do caso se destacou nos últimos dias, quando um grupo de republicanos proeminentes, incluindo inúmeros candidatos à vice-presidência, compareceram ao tribunal e se sentaram atrás de Trump em forma de apoio enquanto falava com a imprensa.
Ao todo, Merchan acusou o bilionário de desacato em 10 ocasiões e lhe impôs uma multa de US$ 10 mil (R$ 51.437 na cotação atual) por violar uma ordem de silêncio que o proibia de atacar publicamente testemunhas, magistrados ou membros do júri e seus familiares.
O juiz disse que espera que as alegações finais ocupem todo o dia na terça-feira.
Ele então dará as instruções finais ao júri, que provavelmente iniciará as deliberações na quarta-feira (29).
A unanimidade é necessária para emitir um veredicto de culpado ou inocente. Um único voto negativo significa um júri empatado e a anulação do julgamento.
Além de Daniels, outra testemunha-chave foi o ex-advogado e homem de confiança de Trump, Michael Cohen, agora um inimigo ferrenho, que organizou o pagamento de 130 mil dólares (R$ 668 mil) para comprar o silêncio da ex-atriz pornô.
Cohen explicou aos jurados os motivos dos pagamentos, afirmando que foram feitos "para garantir que a história não se espalhasse, que não afetasse as chances de Trump de se tornar presidente dos Estados Unidos".
A defesa do ex-presidente, por sua vez, enfatizou o histórico de Cohen, que foi condenado a três anos de prisão em 2018 por mentir ao Congresso e por fraude eleitoral e fiscal neste caso.
A defesa convocou apenas duas de suas testemunhas antes de se retirar.
Além do caso de Nova York, Trump foi acusado em Washington e na Geórgia de conspirar para anular os resultados das eleições de 2020. Ele também enfrenta acusações na Flórida por supostamente fazer mau uso de documentos confidenciais após deixar a Casa Branca, mas este último caso foi adiado indefinidamente.
Nenhum destes julgamentos está previsto para ocorrer antes das eleições de novembro.