Trump: ex-presidente dos EUA teme consequências das investigações para as próximas eleições (Jeff Swensen/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 3 de agosto de 2023 às 14h41.
Última atualização em 3 de agosto de 2023 às 14h57.
Réu pela terceira vez em um processo criminal, o ex-presidente americano Donald Trump se apresentará nesta quinta-feira, 3, à Justiça para responder às acusações de que teria conspirado para reverter o resultado das últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos. A segurança foi reforçada em Washington para receber o republicano, que há meses difunde a narrativa de "caça às bruxas" como tônica da sua campanha às primárias de 2024.
A preocupação com a integridade física dos envolvidos, no entanto, tem sido ainda maior do lado oposto da Corte, no momento em que ameaças de morte contra juízes e promotores são cada vez mais frequentes. Horas antes de comparecer ao tribunal, Trump denunciou a "instrumentalização sem precedentes da Justiça". Segundo ele, Biden ordenou o Departamento de Justiça a acusá-lo de "todos os crimes que podem ser inventados".
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Um dos principais alvos do ex-presidente e aliados trumpistas é o promotor especial Jack Smith, à frente de duas das três acusações criminais contra Trump na esfera federal: o processo que investiga a conspiração nas eleições de 2020 desta quinta e a apropriação indevida de documentos confidenciais do governo americano após o republicado ter deixado a Casa Branca.
Na terça-feira, 3, logo após a acusação ter sido oficializada, Trump chamou Smith de "lunático" e o acusou de corrupção ao questionar o timing de abertura do processo.
“Por que eles não fizeram isso dois anos e meio atrás?”, Trump escreveu na sua plataforma Truth Social. “Por que esperaram tanto? Porque eles queriam colocá-lo [em referência ao caso] bem no meio da minha campanha. Improbidade do Ministério Público!”
Nos primeiros quatro meses de seu mandato, cerca de US$ 1,9 milhão (R$ 9,1 milhões) foram gastos pelo Departamento de Delegados americano, responsável pela segurança de autoridades jurídicas do país, para proteger Smith, sua família e sua equipe, ameaçados por apoiadores do ex-presidente. Durante a breve coletiva de imprensa que o promotor especial concedeu após apresentar a denúncia, ele estava acompanhado por três seguranças dentro de seu próprio prédio.
Promotor especial do outro caso envolvendo Trump — que investiga uma série de fraudes nas Organizações Trump, incluindo o suposto suborno à atriz pornô Stormy Daniels para abafar o caso que teriam mantido no passado —, Alvin Bragg também é um dos alvos preferidos do republicano e seus apoiadores. Primeiro homem negro nomeado a advogado distrital em Nova York, Bragg foi chamado de "animal" pelo magnata, que chegou a sugerir em um de seus ataques de fúria nas redes que ele era "um psicopata degenerado que realmente odeia os EUA".
No final de março, horas depois de uma postagem do ex-presidente alertar a sua "potencial morte & destruição" caso ele seja condenado pelo Grande Júri no caso liderado por Bragg, o promotor recebeu uma carta com ameaças de morte contendo pólvora. "ALVIN: EU VOU TE MATAR!!!!!!!!!!!!!"″ dizia a nota datilografada.
A ameaça foi apenas uma das centenas recebidas nas semanas que antecederam a apresentação dos resultados da investigação pela Promotoria, direcionadas não só a Bragg mas também à sua equipe. Na época, o local de trabalho precisou reforçar a segurança com mais policiais, barricadas de metal nas calçadas e cães farejadores que faziam varreduras regulares nos prédios, alvos de ameaças falsas de bombas.
Juiz do processo que investiga o suposto suborno da atriz pornô, Juan Merchan já figura entre as personae non gratae do ex-presidente há algum tempo. Em 2022, ele supervisionou o caso que culminou na condenação das Organizações Trump por fraude fiscal. Logo após ter sido designado para a recente ação criminal, o magnata disse que o juiz o odiava.
"O juiz 'designado' para meu caso de caça às bruxas, um 'caso' que NUNCA FOI DENUNCIADO ANTES, ME ODEIA", escreveu em letras garrafais o ex-presidente, afirmando posteriormente que um julgamento justo seria impossível com Merchan à frente do caso.
Nascido em Bogotá, na Colômbia, Merchan e sua família receberam uma série de ameaças de trumpistas, informou a NBC citando fontes familiarizadas com o assunto. Segundo o jornal americano, os agentes de segurança do Tribunal de Nova York aumentaram o número de policias na patrulha. Além do juiz, sua filha, Loren, também tem sido alvo de Trump e aliados, incluindo parlamentares republicanos, por suas conexões com candidatos democratas através da sua empresa de consultoria política, Authentic Campaigns, que teve como clientes a chapa de Biden e Kamala Harris.
Juíza do processo que investiga a retenção de documentos sigilosos do governo americano após Trump ter deixado a Casa Branca, Aileen M. Cannon era vista com desconfiança por opositores do ex-presidente já que foi nomeada para a função durante o seu governo. No entanto, conforme o andamento do caso começava a apontar que a indicação não afetaria seu julgamento, ela também se tornou alvo de ameaças sérias — uma delas resultando na prisão de uma apoiadora do magnata no Texas.
Em 30 de julho, uma reportagem exclusiva do jornal americano "The Messenger" divulgou que mais de duas dúzias de ameaças e comunicações suspeitas direcionadas a Cannon foram registradas no Departamento de Delegados, variando de comentários em redes sociais a mensagens de voz, e-mails e cartas. Duas delas foram encaminhadas ao FBI devido a gravidade.
Em dezembro do ano passado, quando a acusação de Promotoria sequer havia sido oficializada, mas a supervisão de Cannon no caso já tinha vindo a público, uma mulher no Texas foi presa após deixar três mensagens de voz ameaçando a juíza de morte. Tiffani Shea Gish, moradora de Houston, disse que atiraria na magistrada.
"Donald Trump foi desqualificado há muito tempo e está marcado para ser assassinado. Você está ajudando nisso, senhora", teria dito Gish em uma das mensagens de voz, segundo documentos do tribunal. "Ele está marcado de morte e você também", ameaçou, dizendo para a juíza "ficar de pé ou levar um tiro".
Último nome a vir a público, a juíza Tanya Chutkan foi designada ao caso de conspiração nas eleições de 2020. Na quarta, ela disse a um colega advogado que não estava conseguindo dormir desde que foi nomeada para julgar Trump, informou a BBC.
"Por favor, mantenha-se em segurança", respondeu o advogado.
"Vou tentar", disse Chutkan, brincando que manteria sua agenda aberta "caso eu precise sair da cidade, o que está cada vez mais parecendo uma boa ideia".
Não é a primeira e provavelmente nem será a última vez que autoridades responsáveis por investigar Donald Trump têm a sua integridade física ameaçada por fazerem o próprio trabalho. Em 2016, Trump ofendeu o juiz Gonzalo Curiel, responsável pelo um caso de fraude contra a Universidade Trump, chamando-o de "mexicano". Segundo o ex-presidente, Curiel não poderia julgá-lo imparcialmente porque ele havia dito que construiria um muro na fronteira sul dos EUA com o país. O juiz, na verdade, nasceu em Indiana e é filho de migrantes do México.
Mais recentemente, a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, também foi alvo de ataques junto com o promotor especial Alvin Bragg. Ambos são os únicos dos promotores negros do estado americano. Fani T. Willis, promotora distrital do estado da Georgia, onde uma investigação paralela avalia os esforços de Trump para mudar a votação na região, também foi atacada pelo ex-presidente. Ela também é negra. O republicano chamou todos os três de racistas.