Brock Turner, ex-aluno da Universidade de Stanford: ele foi sentenciado a seis meses de prisão por abuso sexual, nos Estados Unidos (Reuters/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 6 de junho de 2018 às 11h19.
Última atualização em 6 de junho de 2018 às 11h35.
São Paulo – O juiz Aaron Persky, que ganhou notoriedade internacional ao julgar o escândalo de abuso sexual na consagrada Universidade de Stanford, foi removido do cargo por eleitores do condado de Santa Clara, na Califórnia (EUA). Esta é a primeira vez em 80 anos que um juiz sofre “recall” no estado.
Em janeiro de 2015, uma jovem inconsciente foi violentada no campus por Brock Turner, então 21 anos e membro da equipe de natação de Stanford. O julgamento chamou a atenção mundo afora depois de o relato da vítima ter sido lido em plena corte. Ela não era estudante de Stanford e não teve a sua identidade revelada publicamente.
Turner acabou preso e condenado a seis meses de prisão, uma sentença considerada leniente por ativistas, que alegam que o sistema judiciário americano não protege sobreviventes desses tipos de violência.
Segundo a agência Reuters, casos como esse geralmente resultam em condenações de até 14 anos e ao menos dois deles em regime fechado. O agressor também consta nos registros de criminosos sexuais e foi expulso da instituição de ensino.
Em defesa da sentença proferida na época, Persky chegou a declarar que uma condenação mais rígida “o afetaria seriamente”. No entanto, o ex-atleta foi libertado depois de cumprir três meses da pena, fato que gerou uma nova onda de revolta sobre o caso e reforçando ainda mais críticas a Persky.
Após milhares de reclamações, o então juiz foi investigado por uma espécie de comissão de ética que avalia o desempenho dos magistrados, mas cujo relatório concluiu em seu favor.
A campanha pela remoção de Persky do cargo foi conduzida por uma professora de Direito de Stanford, Michelle Dauber, a partir de uma petição online que recebeu o apoio de políticos e celebridades americanas. As justificativas basearam-se não apenas nesse caso, mas outros em que, segundo a campanha, o juiz teria agido de forma parcial.
O movimento liderado por Dauber, que, segundo o jornal americano The New York Times (NYT), é amiga da família da vítima, não é uma unanimidade entre entidades e ativistas que lutam contra a violência sexual e de gênero. Os críticos temem que uma campanha como essa possa impactar a independência das decisões judiciais.
Sobre a tentativa de “recall”, Persky disse que “como juiz, meu dever é o de ouvir os dois lados. Isso não é popular, mas é a lei. Eu fiz um juramento e vou segui-lo sem considerar a opinião pública”, disse em um comunicado divulgado pelo NYT.
Na Califórnia, os juízes são oficiais eleitos pelo público e, por essa razão, podem ser removidos de seus cargos pelos eleitores, processo chamado de “recall” e previsto na Constituição estadual. Na prática, funciona como uma espécie de antecipação da eleição para o posto.