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Judeus saúdam novos santos papais que revolucionaram laços

Falecidos papas João 23 e João Paulo 2º, que serão canonizados no domingo, muito fizeram para por fim a dois milênios de antissemitismo católico


	Papa João Paulo II: durante seu longo papado, entre 1978 e 2005, João Paulo 2º se tornou o primeiro pontífice desde os tempos antigos a visitar uma sinagoga
 (WikimmediaCommons)

Papa João Paulo II: durante seu longo papado, entre 1978 e 2005, João Paulo 2º se tornou o primeiro pontífice desde os tempos antigos a visitar uma sinagoga (WikimmediaCommons)

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Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2014 às 14h34.

Cidade do Vaticano - Os falecidos papas João 23 e João Paulo 2º, que serão canonizados no domingo, fizeram tanto para por fim a dois milênios de antissemitismo católico que um grupo judeu de direitos humanos os chama de "heróis do povo judeu".

Os dois pontífices marcaram a maior igreja do mundo de maneiras tão variadas que a maioria dos católicos provavelmente listaria o respeito pioneiro pelos judeus, que João Paulo 2º chamou de "nossos amados irmãos mais velhos", depois de seus outros feitos.

Mas, para uma fé minoritária que sofreu séculos de perseguições, vida em guetos e depois os horrores do Holocausto, a mudança que eles operaram nas relações católico-judaicas pode contar como mais um milagre a seu crédito.

João 23 é lembrado em especial por convocar o Segundo Concílio Vaticano (1962-1965), cuja declaração "Nostra Aetate" (Em nossos tempos) marcou época ao repudiar o conceito, nutrido por dois mil anos, de que os judeus tinham culpa coletiva pela morte de Jesus.

"O Nostra Aetate abriu caminho para mudanças esplêndidas nas relações católico-judaicas em todo o mundo, ainda que o grau no qual isso foi absorvido dependesse do quanto católicos e judeus vivessem lado a lado", disse o rabino David Rosen, Diretor Internacional de Assuntos Interreligiosos do Comitê Judaico Norte-americano.

Durante seu longo papado, entre 1978 e 2005, João Paulo 2º se tornou o primeiro pontífice desde os tempos antigos a visitar uma sinagoga.

Em visita ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, ele deixou um bilhete dizendo estar "profundamente entristecido pelo comportamento daqueles que, ao longo da história, causaram sofrimento a estas suas crianças".


"Foi um gesto que nunca será esquecido", afirmou o rabino Abraham Cooper, diácono associado do Centro Simon Wiesenthal, o grupo que saudou os dois novos santos como heróis.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o silêncio público do papa Pio 23 sobre o Holocausto levou a alegações - ainda vivas hoje - de que ele fez vista grossa à agonia dos judeus. Seus defensores dizem que Pio fez tudo que pôde nos bastidores para ajudá-los.

Ao mesmo tempo, na época da guerra o arcebispo Angelo Roncalli usava seu cargo como embaixador do Vaticano em Istambul para organizar uma rede de freiras, diplomatas e outras pessoas para emitir vistos e certificados de batismo e imigração para judeus nos Bálcãs para levá-los à Turquia, e de lá para a Palestina, então sob mandato britânico.

Eleito como papa João 23 em 1958, ele retirou a frase ofensiva "judeus pérfidos" de uma oração litúrgica da Sexta-feira Santa, dia no qual os cristãos lembram a morte de Jesus.

"Durante o Holocausto, o então arcebispo Angelo Roncalli foi essencial para salvar as vidas de um grande número de judeus búlgaros, húngaros e outros", afirmou Menachem Rosensaft, professor de direito do genocídio nas universidades norte-americanas Columbia e Cornell e filho de dois sobreviventes do Holocausto.

Karol Wojtyla, que se tornou João Paulo 2º em 1978, cresceu na Polônia com amigos judeus e, na juventude, testemunhou o cerco nazista a judeus em sua terra natal.

O papa Francisco teve boas relações com os judeus argentinos quando era o arcebispo Jorge Bergoglio em Buenos Aires, e até escreveu um livro com o principal rabino da cidade, Abraham Skorka.

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