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Judeus britânicos descendentes do Holocausto pedem cidadania alemã

Britânicos com duas cidadanias de um país europeu como a Alemanha manterão o privilégio de livre movimento nos países da UE

Brexit levou milhares de outros judeus no Reino Unido a requerer a cidadania alemã, que foi tirada de seus ancestrais pelos nazistas durante o Terceiro Reich (Fabrizio Bensch/Reuters)

Brexit levou milhares de outros judeus no Reino Unido a requerer a cidadania alemã, que foi tirada de seus ancestrais pelos nazistas durante o Terceiro Reich (Fabrizio Bensch/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 15h15.

Berlim - Simon Wallfisch cresceu em Londres como o neto de uma sobrevivente de Auschwitz que prometeu nunca mais voltar ao país que matou os seus pais e mais seis milhões de judeus.

Mas, depois de 70 anos do Holocausto, o Brexit levou Wallfisch e milhares de outros judeus no Reino Unido a requerer a cidadania alemã, que foi tirada de seus ancestrais pelos nazistas durante o Terceiro Reich. "Esse desastre que nós chamamos de Brexit me levou a procurar um jeito de garantir o meu futuro e o das minhas crianças", afirmou Wallfisch, com 36 anos, um conhecido cantor clássico e violoncelista que recebeu o passaporte alemão em outubro do ano passado. "Para me manter europeu, eu pedi a minha cidadania europeia."

Britânicos com duas cidadanias de um país europeu como a Alemanha manterão o privilégio de livre movimento e de trabalhar nos países da UE após a saída do Reino Unido.

A embaixada alemã em Londres afirma que recebeu mais de 3.380 pedidos de cidadania desde o referendo do Brexit, em junho de 2016, sob o artigo 116 da Constituição da Alemanha, que permite a descendentes de pessoas perseguidas pelo nazismo conquistar a nacionalidade removida durante 1933 e 1945.

Em comparação, apenas 20 desses atuais pedidos foram feitos nos anos anteriores ao Brexit.

A avó de Wallfisch, Anita Lasker-Wallfisch, tinha 18 anos em dezembro de 1943 quando foi deportada para Auschwitz, o campo de concentração nazista na Polônia, onde mais de um milhão de judeus foram mortos.

Ela sobreviveu porque era membro da orquestra feminina. Como violoncelista, ela tinha que tocar música clássica enquanto os outros judeus eram levados para as câmaras de gás. Em novembro de 1944, ela foi levada para Bergen-Belsen, o campo de concentração onde Anne Frank morreu após ser transferida de Auschwitz na mesma época, e foi liberada pelo Exército britânico em abril de 1945.

Lasker-Wallfisch imigrou para o Reino Unido em 1946, se casou e teve dois filhos. Tocando violoncelo, sua carreira a levou para viajar pelo mundo, levando até os anos 1990 para superar o seu ódio de pisar em solo alemão. Recentemente, com 93 anos, ela se tornou uma visitante regular, educando crianças na Alemanha sobre os crimes nazistas e discursando no ano passado no Parlamento alemão em evento sobre o Holocausto.

No Dia Internacional de Lembrança ao Holocausto, Lasker-Wallfisch, a filha Maya Jacobs e o neto Simon tocaram pela primeira vez no palco do Museu Judaico em Berlim em tributo a sua família. Eles tocaram música com outros parentes e leram cartas do passado como parte de um tributo para aqueles que sobreviveram e que pereceram no Shoah.

Antes do show, as três gerações sentaram juntas no sofá vermelho do camarim do museu e falaram com a Associated Press sobre a decisão do mais novo em tirar a cidadania alemã. "Nós não podemos ser vítimas do nosso passado. Temos que ter esperança de mudança", afirmou Maya, de 60 anos, psicoterapeuta e tia de Simon, enquanto aguarda o pedido da sua cidadania ser aprovado. "Eu me sinto triunfante de alguma forma. Algo está completando o círculo."

Mais do que a habilidade de viajar facilmente ou manter negócios, a tia disse que há outros motivos, mais emocionais, para pedir a cidadania agora que o Reino Unido está para sair da União Europeia, em 29 de março. "Sinto um alívio aqui (em Berlim) que eu não experimentei antes, mas que faz sentido, afinal, eu sou alemã", disse. Ela acrescentou que o país por trás do Holocausto agora ser bem-vindo aos descendentes das vítimas "é uma ótima coisa."

Mas Anita, que viveu os horrores do Holocausto, permaneceu cética e pessimista. "Os judeus nunca se sentem seguros", disse à filha e ao neto, lembrando-os do próprio passado. "Eu tinha a nacionalidade alemã, mas não me comprou segurança." (AP)

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