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Jornalista colaborador da AFP é assassinado no México

A morte eleva para cinco o número de jornalistas assassinados em 2017 no México, considerado o 3º país mais perigoso para o exercício da profissão

México: segundo uma fonte da Procuradoria, o jornalista foi atacado a tiros (Jose Luis Gonzalez/Reuters)

México: segundo uma fonte da Procuradoria, o jornalista foi atacado a tiros (Jose Luis Gonzalez/Reuters)

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AFP

Publicado em 16 de maio de 2017 às 08h18.

Última atualização em 16 de maio de 2017 às 08h21.

O jornalismo mexicano voltou a ficar de luto nesta segunda-feira após a morte a tiros de Javier Valdez, jornalista especializado em crime organizado, um dos repórteres mais respeitados do estado de Sinaloa (noroeste) e colaborador há mais de uma década da AFP.

Sua morte eleva para cinco o número de jornalistas assassinados em 2017 no México, considerado o terceiro país do mundo mais perigoso para o exercício dessa profissão, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Valdez foi assassinado em Culiacán, a capital estatal, perto das instalações do Ríodoce, o semanário que fundou em 2003 e em que conseguiu se destacar profissionalmente em uma região afetada pela autocensura. Desde 1998 também era correspondente do jornal La Jornada.

Uma fonte da Procuradoria confirmou à AFP que ele "foi atacado a tiros".

"Estamos horrorizados com esta tragédia e enviamos nossas condolências à família e aos amigos", reagiu a diretora de informação da AFP, Michele Leridon.

"Solicitamos às autoridades mexicanas que esclareçam este assassinato covarde. Há anos, com extrema coragem, Javier investigava os cartéis da droga, sem desconhecer o perigo que representava para a sua vida", destacou Leridon.

Cuidados com tudo e com todos

"Em Culiacán, Sinaloa, é um perigo estar vivo, e fazer jornalismo é caminhar sobre uma invisível linha marcada pelos bandidos que estão narcotráfico e no governo. Deve-se ter cuidado com tudo e com todos", havia declarado o jornalista em um discurso feito em 2011, ao receber o Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês).

"Ser jornalista é como fazer parte de uma lista negra. Eles vão decidir, mesmo que você tenha blindagem e escoltas, o dia em que vão te matar", comentou Valdez em uma das apresentações de seu último livro, "Narcoperiodismo, la prensa en medio del crimen y la denuncia" ("Narcojornalismo, a imprensa em meio ao crime e à denúncia", em tradução livre).

No entanto, o procurador-geral de Sinaloa, Juan José Ríos, garantiu que não se sabia de ameaças ao jornalista.

"De Javier não havíamos tido nenhuma indicação (de ameaça)", declarou à imprensa.

Rafael Valdez, irmão do jornalista, contou à AFP que o repórter não comentou se estava investigando alguma coisa que o colocasse em risco.

"Era muito reservado sobre seu trabalho, nunca comentava nada para não comprometer ninguém", disse.

"Várias vezes o questionei se tinha medo. Me disse que sim, que era um ser humano. Dizia, então, por que arriscava sua vida e ele respondia: '(o jornalismo é) algo de que gosto, que alguém tem que fazer. É preciso lutar para mudar as coisas'", lembrou seu irmão, totalmente arrasado.

No rastro de "El Chapo"

O ano de 2017 está sendo especialmente trágico para o jornalismo no México. À morte de Valdez nesta segunda-feira somam-se outros três assassinatos em março e mais um em abril, depois de 2016 ter batido um recorde de 11 homicídios.

Valdez conseguiu se tornar um dos repórteres mais respeitados de seu estado. Além do Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa, também ganhou o María Moors Cabot, concedido pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

De rosto largo e sempre sorridente, Valdez costumava ser visto usando chapéu Panamá.

Ao longo de quase três décadas de sua carreira informou ativamente sobre o cartel de Sinaloa e a trajetória de seu fundador, Joaquín "El Chapo" Guzmán, atualmente preso nos Estados Unidos.

Sua última colaboração com a AFP foi precisamente para informar sobre a guerra interna desatada desde a extradição de Guzmán entre várias facções que se disputam a liderança do cartel.

"Cada vez fica pior"

Nos últimos anos, o Valdez testemunhava o recrudescimento da violência em seu estado e do perigo ao qual os jornalistas estavam expostos. Mas profundamente comprometido com sua profissão, sempre decidiu continuar.

"A coisa está feia e cada vez fica pior, mas alguém tem quefazer esse trabalho", afirmou recentemente em uma conversa sobre o cotidiano jornalístico.

Há algum tempo organizações em defesa da liberdade de expressão acusam as autoridades de inação na hora de proteger os jornalistas.

O diretor-geral da RSF, Christophe Deloire, afirmou em fevereiro que o México "é um país aterrador desse ponto de vista. Criaram-se mecanismos para proteger os jornalistas, uma procuradoria especial, mas os resultados infelizmente são desastrosos".

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas denunciou no início de maio a impunidade que existe no país diante dos homicídios de comunicadores.

O presidente mexicano Enrique Peña Nieto escreveu no Twitter que o governo do México "condena o homicídio de Javier Valdez"

"Minhas condolências a seus familiares e companheiros (...) Dei indicações à @PGR_mx (Procuradoria Geral), para que a FEADLE (Procuradoria Especial de Delitos cometidos contra a Liberdade de Expressão) apoie as autoridades locais na investigação deste crime revoltante", garantiu.

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