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Johnson ignorou conselho científico sobre novo confinamento no Reino Unido

O governo de Boris Johnson ignorou, há três semanas, o conselho dos cientistas de impor um breve confinamento para frear os contágios de covid-19

Reino Unido: governo britânico só aplicou medidas restritivas no dia 12 de outubro (WPA Pool / Equipe/Getty Images)

Reino Unido: governo britânico só aplicou medidas restritivas no dia 12 de outubro (WPA Pool / Equipe/Getty Images)

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AFP

Publicado em 13 de outubro de 2020 às 08h33.

Última atualização em 13 de outubro de 2020 às 09h02.

O governo do primeiro-ministro britânico Boris Johnson foi criticado nesta terça-feira (13) após a descoberta de que ignorou, há três semanas, o conselho dos cientistas de impor um breve confinamento para frear os contágios de covid-19, cuja segunda onda afeta o país atualmente.

Publicada na noite de segunda-feira, a ata de uma reunião do Grupo de Assessores Científicos para Emergências (SAGE) mostra que os cientistas recomendaram em 21 de setembro a aplicação de um novo confinamento de uma, ou duas, semanas para "romper o circuito" das transmissões.

Também aconselhou a aplicação "imediata" de medidas como o fechamento de bares e restaurantes, a proibição de receber outras pessoas em casa e que todas as aulas universitárias acontecessem on-line.

O governo Johnson esperou até a segunda-feira de 12 de outubro para impor um novo sistema de restrições em três níveis, no qual apenas o último implicará fechamentos de restaurantes. No momento, a medida extrema é aplicada apenas na região de Liverpool, que registra a média de 600 casos de covid-19 para cada 100.000 habitantes.

"Não tenho confiança, ninguém tem confiança, de que as medidas para o nível três sejam suficientes para controlar o vírus", advertiu o principal assessor médico da Inglaterra, Chris Whitty, ao comparecer a uma entrevista coletiva conjunta com o primeiro-ministro.

A declaração provocou um alerta, e a situação de crise se aprofundou nesta terça-feira.

"Fiquei bastante alarmado quando vi a ata do SAGE durante a noite", declarou ao canal de televisão BBC o porta-voz do opositor Partido Trabalhista para questões de saúde, Jonathan Ashworth.

Johnson "sempre afirma que atua de acordo com a ciência, mas evidentemente rejeitou recomendações científicas importantes", criticou.

Com o maior número de mortes por covid-19 da Europa, quase 43.000, o Reino Unido se esforça para evitar um segundo confinamento de catastróficas consequências econômicas, após a histórica recessão provocada pelo primeiro confinamento.

"O primeiro-ministro tem que encontrar um equilíbrio, protegendo a vida das pessoas (...) ao mesmo tempo em que preserva coisas que nos importam como a educação, manter o maior número possível de empregos e garantir que outros riscos para a saúde, como a saúde psicológica e outras doenças, não sejam descuidados como resultado de um segundo confinamento", afirmou nesta terça-feira o ministro de Comunidades Locais, Robert Jenrick, à rádio BBC.

Alguns parlamentares do Partido Conservador de Johnson criticaram as restrições impostas com o novo sistema em três níveis, por considerá-las muito duras.

Britânicos fecham pubs e mantêm escolas abertas

Criticado em junho por ter planejado a reabertura de zoológicos e bares, mas não a de escolas, Boris Johnson excluiu ontem os estudantes das restrições impostas a partes da Inglaterra em razão do novo avanço da covid-19. Desta vez, os pubs não foram poupados.

As novas diretrizes serão debatidas e votadas hoje no Parlamento e devem entrar em vigor amanhã. Johnson anunciou ainda a liberação de um novo pacote financeiro no valor de 1 bilhão de libras (R$ 7,2 bilhões) para apoiar as áreas mais afetadas pelo avanço da doença.

O sistema adotado ontem pelo governo britânico tem três níveis de alerta - médio, alto e muito alto - e inclui medidas como o fechamento de bares, academias, cassinos e casas de apostas em algumas áreas colocadas no nível de alerta "muito alto". A ideia segundo o premiê, era simplificar e padronizar as regras.

"Não é assim que queremos viver nossas vidas, mas este é o caminho que temos de trilhar, entre o trauma social e econômico de um bloqueio total e o enorme custo humano e econômico de uma epidemia fora de controle."

Pressionado pelo rápido aumento no número de novos casos, Johnson vem evitando paralisar a economia do país. Ontem, ele afirmou que, no momento, existem mais pessoas hospitalizadas no Reino Unido do que quando o país entrou em lockdown, em março, mas ele descartou a possibilidade de medidas mais extremas. "Eu não acho que devemos ter mais um lockdown completo", afirmou.

De acordo com o primeiro-ministro, o governo busca alcançar o máximo de consenso possível sobre os pontos mais duros das medidas. Por isso, ele trabalhará com as autoridades locais para analisar medidas adicionais que possam ser tomadas. "Isso pode levar a mais restrições nos setores de hospedagem, lazer, entretenimento ou cuidados pessoais. Mas o comércio de varejo, escolas e universidades permanecerão abertos."

Neste momento, as áreas mais afetadas estão no norte da Inglaterra, em cidades como Liverpool - a área mais atingida do país. O modelo anunciado ontem em Londres não afetará Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, que, com competências autônomas em matéria de saúde, definem suas próprias políticas contra covid.

Na área de nível médio, onde se enquadra a maior parte do país, reuniões estão limitadas ao máximo de seis pessoas e os pubs e restaurantes podem ficar abertos até 22 horas. Na região de alerta alto, as pessoas estão proibidas até de se encontrarem em casas de outras famílias. E, no nível máximo, bares e restaurantes serão fechados. Reuniões familiares também estão vetadas.

"Se deixarmos o vírus se espalhar, sofreremos não apenas um número intolerável de mortes de covid-19, mas colocaremos uma grande pressão em nosso NHS (sistema nacional de saúde) com um segundo pico descontrolado", disse Johnson, em pronunciamento. "Nossos médicos e enfermeiras não seriam capazes de se dedicar a outros tratamentos."

Andy Burnham, prefeito de Manchester, que deve permanecer na categoria 2, de alerta alto, disse que ficou satisfeito com o fato de o governo não fechar pubs e bares na região - como deve acontecer em Liverpool. No entanto, ele avisou que, se a cidade chegar ao nível 3 (nível mais alto de alerta), ele pressionaria por uma compensação para empresários e trabalhadores que ficarem sem trabalhar.

A maior parte da Inglaterra (69% da população do país) está no nível de alerta mais baixo. Cerca de 28% dos ingleses entrarão no nível 2, de alerta alto. E apenas 3% - basicamente a região metropolitana de Liverpool - viverão sob as restrições estabelecidas no nível muito alto de alerta. 

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