João Paulo II: denúncia aconteceu durante as audiências que investigam abusos sexuais a menores em instituições públicas e religiosas na Austrália (José Cruz/Agência Brasil)
EFE
Publicado em 7 de fevereiro de 2017 às 09h15.
Sydney - O papa João Paulo II sabia que havia sacerdotes que abusavam sexualmente de crianças e que a Igreja Católica tentou encobrir as denúncias sobre estes casos, segundo afirmações feitas nesta terça-feira por um advogado especialista em direito canônico.
A denúncia aconteceu durante as audiências da comissão do governo que investiga a resposta institucional aos abusos sexuais a menores cometidos dentro de instituições públicas e religiosas na Austrália.
Também especialista em casos de abusos sexuais do clero, o advogado americano Thomas Doyle afirmou que em 1985, o Vaticano recebeu relatórios de pelo menos quatro diocese dos Estados Unidos sobre abusos de sacerdotes a menores.
Um deles foi preparado pelo próprio Doyle, que solicitou o envio de um bispo até Louisiana para tratar de casos de pedofilia neste estado americano.
"O relatório foi enviado por mensagem rápida ao cardeal arcebispo da Filadélfia, John Krol, que o levou ao Vaticano no dia seguinte quando viajou para lá", explicou Doyle em uma audiência da comissão em Sydney.
Segundo Doyle, Krol entregou o relatório ao papa, que leu o documento e anunciou a nomeação do bispo nos seguintes três dias, o que resultou na nomeação de AJ Quinn.
"(Quinn) acabou por ser parte do problema, não a solução, porque se dedicou a buscar a maneira em que poderiam continuar com o encobrimento", disse Doyle, segundo a emissora "ABC".
A declaração foi feita no dia seguinte da revelação de um vasto relatório da Igreja Católica australiana que revela que entre 1980 e 2015, 4,5 mil pessoas denunciaram casos de abusos sexuais a menores por membros da instituição religiosa.
Segundo o relatório apresentado pela advogada conselheira da Comissão, Gail Furness, entre 1950 e 2010, foram identificados 1.880 como supostos abusadores, entre eles 572 sacerdotes e 597 irmãos religiosos, 543 laicos e 96 eram irmãs religiosas.
Após tomar conhecimento destes dados, o primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, em um discurso no parlamento, classificou os abusos de "vergonha nacional".