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Jihadismo trouxe maior onda de violência à África em décadas

O diretor da HRW para a África, Daniel Bekele, falou em entrevista coletiva sobre esta e outras tendências alarmantes na região


	Violência: "vimos um aumento de grupos fundamentalistas e ataques terroristas, de conflitos armados alimentados por tensões étnicas e disputas políticas"
 (Jean Pierre Harerimana / Reuters)

Violência: "vimos um aumento de grupos fundamentalistas e ataques terroristas, de conflitos armados alimentados por tensões étnicas e disputas políticas" (Jean Pierre Harerimana / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de janeiro de 2016 às 13h24.

Nairóbi - A África Subsaariana vive há alguns anos a maior onda de conflitos armados desde a descolonização, nas décadas de 60 e 70, devido à crescente ameaça de grupos terroristas e fundamentalistas, advertiu a ONG Human Rights Watch (HRW) nesta quarta-feira.

O diretor da HRW para a África, Daniel Bekele, falou em entrevista coletiva sobre esta e outras tendências alarmantes na região, onde o Burundi ostenta os maiores abusos aos direitos humanos registrados em 2015, ano no qual as liberdades políticas retrocederam de forma generalizada no continente.

"Nos últimos anos, vimos um aumento de grupos fundamentalistas e ataques terroristas, de conflitos armados alimentados por tensões étnicas e sectárias e disputas políticas", explicou Bekele.

A ameaça jihadista do Boko Haram na Nigéria, Al Shabab na Somália e Al Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) inverteram a curva descendente da violência, percebida após as guerras que seguiram depois dos movimentos de independentização.

Hoje, os ataques de grupos extremistas são "uma tendência emergente", advertiu Bekele, igualmente preocupado pela resposta dadas pelas forças de segurança a estas ameaças, que contribuem para "perpetuar o ciclo de violência" com seus abusos.

Esta crescente insegurança fermentou o aumento da repressão política, que se traduziu em uma restrição das liberdades de expressão, associação e outros direitos eleitorais.

O destaque do relatório foi o Burundi, que vive "a deterioração mais dramática" da região após a decisão de seu presidente, Pierre Nkurrunziza, de se candidatar a um terceiro mandato, descumprindo a Constituição.

A crescente oposição às aspirações do reeleito Nkurunziza foi violentamente reprimida pelas forças de segurança, que cometeu assassinatos e detenções ilegais, em um ciclo de violência que fez 230 mil pessoas deixarem o país só no ano passado.

Outros regimes autoritários, como Etiópia, Uganda e Ruanda aumentaram a repressão sobre ativistas e sobre liberdades eleitorais básicas para defender as aspirações de seus líderes.

No Quênia, a organização denunciou a repressão à comunidade somali, e especialmente sobre os refugiados no acampamento de Dadaab, perto da fronteira com a Somália, e que é administrado pela Acnur.

Os países da África meridional também sofreram um retrocesso em suas liberdades políticas em 2015, devido a novas leis repressivas e à crescente contundência policial contra os dissidentes.

"No último ano vimos como políticos da oposição, jornalistas e ativistas sofreram mais ameaças, começando por Angola", declarou o investigador para o sul da África, Dewa Mavhinga, em Johanesburgo.

A África do Sul é outro dos países destacados no relatório pela falta de resposta do governo à onda de violência xenófoba que em março e abril de 2015 provocou a fuga do país de milhares de imigrantes africanos e a morte de sete pessoas.

Na raiz destes "abusos generalizados", Bekele identificou fatores que explicam os principais problemas da África: a pobreza, o desemprego e o crescimento exponencial da população, governantes ruins e instituições fracas.

"Isto demonstra a complexidade e a enormidade do problema das violações de direitos humanos, mas não significa que seja um desafio contra o qual a África não possa lutar", sentenciou Bekele.

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