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Jesuíta sequestrado deseja "bom pontificado" a Bergoglio

O jesuíta, que foi torturado e preso pela ditadura argentina, disse que está "em paz" com o papa, acusado recentemente de ter colaborado com os militares


	Papa Francisco em celebração religiosa: a questão da suposta colaboração do papa foi abordada anos atrás por um jornalista argentino e agora ressurgiu após a escolha do pontífice
 (AFP)

Papa Francisco em celebração religiosa: a questão da suposta colaboração do papa foi abordada anos atrás por um jornalista argentino e agora ressurgiu após a escolha do pontífice (AFP)

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Da Redação

Publicado em 15 de março de 2013 às 13h41.

Berlim - A ordem jesuíta na Alemanha comentou nesta sexta-feira a polêmica pela suposta colaboração de Jorge Mario Bergoglio com a ditadura argentina e afirmou que o sacerdote sequestrado pela Junta está "em paz" com o papa, a quem deseja um bom pontificado.

Franz Jalics, sequestrado em 1976 quando Bergoglio era superior provincial dos jesuítas, na Argentina, se aposentou na cidade bávara de Wilhelmsthal, e "está em paz" com o papa, já que "essa questão já foi esclarecida", disse à Agência Efe Thomas Busch, porta-voz da ordem jesuita na Alemanha.

"Eles já fizeram as pazes, estão em paz", disse a fonte, que confirmou que o sacerdote está na Hungria - seu país natal - e não prevê retornar para a Alemanha até 10 de maio, para depois se referir à declaração do próprio Jalics, divulgada nesta sexta-feira no site da ordem.

"Desejo ao papa Francisco a bênção de Deus em seu pontificado", expressou o sacerdote em comunicado, que começa lembrando da época em que trabalhou numa favela de Buenos Aires, onde foi sequestrado em 1976 e torturado durante meses pela ditadura.

"Desde 1957 vivia em Buenos Aires", começa o sacerdote, nascido em 1927 em Budapeste, para explicar que em 1974, "por vontade própria", decidiu exercer sua tarefa evangélica no meio da "horrível miséria", nesse bairro portenho e com permissão de Bergoglio.

Jalics lembra que a Junta argentina desencadeou uma situação "similar a de uma guerra civil", que em dois anos assassinou 30 mil pessoas, incluindo "inocentes", e afirma que em sua favela não tiveram contato "nem com a guerrilha" e nem com os militares.


A Junta caiu sobre as pessoas que moravam no local após o desaparecimento de um de seus colaboradores durante nove meses, vinculado com a guerrilha, que provavelmente sob tortura pôs os sacerdotes em situação comprometida por suas declarações.

Isso produziu sua detenção, um interrogatório durante cinco dias, e, segundo seu relato, ficou mais cinco meses sequestrado, "com os olhos vendados e atados".

Jalics, que afirma não poder fazer "declaração alguma" sobre o papel que Bergoglio pôde ter desempenhado nesse período, explica que após sua libertação deixou a Argentina e acrescenta que anos depois, quando Bergoglio se tornou arcebispo de Buenos Aires, conversaram sobre "o ocorrido".

O jesuíta se refere à viagem realizada a convite do arcebispado portenho à capital argentina, onde aconteceu essa longa conversa cujo conteúdo não revela.

"Me reconciliei com os envolvidos e encerrei o assunto", disse o religioso, que foi sequestrado junto com o também jesuíta Orlando Yorio, da mesma favela.

Yorio faleceu em 2000 no Uruguai, enquanto Jalics se mudou para a Alemanha em 1978 e escreveu um livro sobre meditação.


A questão da suposta colaboração do papa Francisco com a Junta foi abordada anos atrás pelo jornalista argentino Horacio Verbistky e agora ressurgiu após a escolha do pontífice.

O próprio Bergoglio contestou as acusações em 2010, no livro "O jesuíta" e rejeitou tal colaboração.

O ativista de direitos humanos e Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel rejeitou essas acusações em entrevista à televisão britânica "BBC", na qual disse que "houve bispos que foram cúmplices da ditadura argentina, mas Bergoglio não".

A declaração escrita de Jalics se produz no meio a um frenesi da mídia, na Alemanha e na Argentina, para tentar localizar o sacerdote, de 85 anos.

Segundo explicava a rádio pública bávara "Bayerische Rundfunk" (BR), Jalics vive um retiro na cidade bávara e mencionou que sua viagem para a Hungria havia sido planejada há muito tempo.

O porta-voz da ordem insistiu que o jesuíta não se "escondeu" para evitar o frenesi midiático e que sua viagem não tem nada a ver com a escolha do papa. 

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