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Japão fica na linha de frente da crise norte-coreana

A presença de bases americanas em território japonês provoca o temor de que Pyongyang tente atacar os EUA por meio dessas instalações

Japão: para especialistas, o risco de um míssil ser disparado contra o território japonês é baixo (Kim Kyung-Hoon/Reuters)

Japão: para especialistas, o risco de um míssil ser disparado contra o território japonês é baixo (Kim Kyung-Hoon/Reuters)

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AFP

Publicado em 30 de agosto de 2017 às 10h40.

O lançamento nesta terça-feira (29), pela Coreia do Norte, de um míssil que sobrevoou o Japão deixou em evidência a vulnerabilidade do arquipélago nipônico, cujos meios de reação parecem limitados.

Por que atacar o Japão?

De acordo com os especialistas, a Coreia do Norte não mira especificamente o Japão. O risco de um míssil ser disparado contra o território japonês é considerado baixo, exceto no caso de um problema técnico.

A presença de bases militares americanas em território japonês provoca, porém, o temor de que Pyongyang tente atacar os Estados Unidos por meio dessas instalações.

Além disso, levando-se em consideração a posição geográfica do país, dificilmente a Coreia do Norte poderia lançar mísseis em direção ao Oceano Pacífico e aos Estados Unidos sem sobrevoar o Japão.

As autoridades norte-coreanas também são conscientes de que os recursos militares japoneses são limitados e que Tóquio não agirá por conta própria.

"São totalmente conscientes de que o Japão não saberá contra-atacar militarmente, mesmo se um míssil sobrevoar o país", acredita Akira Kato, professor de Política Internacional na Universidade J. F. Oberlin.

Também existem as rivalidades históricas entre Coreia do Norte e Japão. Pyongyang explicou que escolheu o dia 29 de agosto para marcar o 107º aniversário do tratado de anexação da Coreia por Tóquio, assinado em 1910. O período de colonização terminou em 15 de agosto de 1945 com a rendição do Japão ao fim da Segunda Guerra Mundial.

Ao tomar esta decisão, Kim Jong-un "expressou o rancor que o povo coreano sente há muito tempo em relação aos cruéis habitantes do arquipélago japonês, insensíveis ao sangrento 29 de agosto", afirmou a agência oficial de notícias norte-coreana, a KCNA.

 O que o Japão pode fazer a respeito da ameaça?

Além das sanções unilaterais contra Pyongyang, o Japão exige que o Conselho de Segurança da ONU aumente a pressão contra o regime norte-coreano.

No plano militar, o mais recente lançamento de míssil serve de pretexto para o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, reforçar o sistema de defesa antimísseis.

O Japão almeja adicionar um dispositivo Aegis terrestre, em complemento aos navios desse tipo.

"O disparo também iniciará o debate sobre ter o próprio sistema de detecção por satélite", declarou à AFP o especialista em Coreia do Norte Hideshi Takesada, professor da Universidade Takushoku.

Por que o Japão não destruiu o míssil em voo?

O ministro da Defesa do Japão, Itsunori Onodera, explicou que a decisão de não interceptar o míssil norte-coreano com o sistema de defesa antimísseis foi baseado em dados de radares e em outras informações que confirmaram que o projétil não provocaria danos no Japão.

"Emitimos uma ordem para destruir (mísseis) quando consideramos provável que um artefato disparado cairá em nosso território, ou em nossas águas territoriais", argumentou o ministro Onodera.

Analistas questionam se o Japão poderia, de fato, reagir a tempo.

Embora o Ministério não divulgue a capacidade exata de seu sistema de defesa antimísseis, alguns especialistas consideram que as baterias SM-3 nos navios Aegis têm alcance de 500 quilômetros de altitude. E o míssil norte-coreano de terça-feira sobrevoou o arquipélago a 550 km.

Para completar, a decisão de destruir durante um míssil durante o voo é politicamente difícil de tomar no Japão, "que deseja evitar uma conflagração na península", explica Robert Dujarric, da Universidade Temple, em Tóquio.

"O Japão não está apenas menos armado como é relutante a qualquer risco", completou Dujarric.

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