Até o momento, 16 reatores já foram submetidos aos chamados testes de resistência, obrigatórios após o acidente em Fukushima (Tepco/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2012 às 23h53.
Tóquio - Após o terremoto do dia 11 de março, o Japão enfrenta o desafio de reativar sua economia apesar do custo exorbitante da reconstrução, o de ter a maior dívida pública do mundo industrializado e o dilema de não depender da energia nuclear.
Por causa do desastre, o Japão aprovou quatro orçamentos adicionais de reconstrução no valor total de 20,63 trilhões de ienes. Esta foi a primeira vez que o país deu sinal verde a tantas verbas extraordinárias desde 1947, dois anos depois da Segunda Guerra Mundial.
Para financiar este orçamento, o governo japonês lançou mão de uma receita tributária mais alta do que o previsto inicialmente, corte de gastos em outros setores e a emissão dos chamados 'bônus para a reconstrução' no valor de pelo menos 11,5 trilhões de ienes.
Isso representa uma nova carga para a dívida soberana japonesa, a maior do mundo desenvolvido, que perante o aumento do gasto público chegava no final de 2011 ao recorde de 958,64 trilhões de ienes, cerca do dobro do PIB do país. Estima-se que para o final do ano fiscal de 2012, que termina em março de 2013, ela aumentará para 1,085 quatrilhões de ienes.
Agora, o governo luta para conseguir a aprovação do orçamento para o próximo ano fiscal, que começa em abril, de um recorde de 96 trilhões de ienes, o que representaria, em caso de ser referendado, o maior para um só ano fiscal da história do Japão. Da soma total, mais de 3,7 trilhões de ienes serão destinados exclusivamente à reconstrução das regiões devastadas há um ano.
Tudo isso mostra um difícil panorama para o primeiro-ministro, Yoshihiko Noda, que, além disso, tem pendente a aprovação de um polêmico plano para aumentar o IVA e reformar a seguridade social a fim de atenuar o custo de uma das sociedades mais envelhecidas do mundo.
Outro grande dilema que o Japão deve encarar com urgência como consequência do desastre do dia 11 de março é o de seu modelo energético. Um terço da eletricidade que o Japão consumia antes da catástrofe procedia da fissão nuclear, mas agora só dois dos 54 reatores do país estão operacionais, já que o restante está paralisado para revisões.
Até o momento, 16 reatores já foram submetidos aos chamados testes de resistência, obrigatórios após o acidente em Fukushima para verificar se as instalações podem suportar desastres como o do dia 11 de março, mas isso não bastou para convencer a opinião pública de que as unidades japonesas são seguras.
Noda e seus ministros, que devem autorizar a reativação, estudam agora se será necessário realizar exames adicionais nas instalações atômicas, como recomenda a Comissão de Segurança Nuclear japonesa e reivindicam os municípios que acolhem as centrais.
Neste contexto, a fatura para manter o nível de consumo elétrico sem energia atômica saiu cara para a terceira economia do mundo, que teve que aumentar suas importações de hidrocarbonetos para compensar com energia térmica a falta de reatores.
Isso contribuiu para que o Japão, cuja economia depende em 40% do que exporta para o resto do mundo, registrasse no primeiro mês de 2012 seu maior déficit comercial nos últimos 33 anos.
Por sua vez as empresas, que temem a ameaça de cortes na provisão de energia elétrica e pressionam o governo para que reative os reatores, enfrentam desde o dia 1º de abril uma alta de 17% na conta de luz na região de Tóquio.
Nesta região, a mais populosa e industrializada do país, a energia é fornecida pela Tepco, proprietária da central de Fukushima e que já advertiu que o aumento de preço é necessário para compensar os custos trazidos pelo maior rendimento de suas usinas térmicas.