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"Já começamos a transição. Nada vai interromper o processo", diz Biden

Questionado se tinha algo a dizer a Trump, o democrata Joe Biden afirmou, sorrindo: "Estou ansioso para a nossa conversa"

Biden ainda não recebeu um telefonema do presidente, Donald Trump, reconhecendo a derrota (Joe Raedle/Getty Images)

Biden ainda não recebeu um telefonema do presidente, Donald Trump, reconhecendo a derrota (Joe Raedle/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de novembro de 2020 às 07h03.

Apesar dos entraves colocados pela Casa Branca, Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, disse nesta terça, 10, que sua equipe já trabalha na transferência de poder, para que ele tome posse em 20 de janeiro. "Já começamos a transição. Nada vai interromper o processo", afirmou o democrata.

Mesmo depois de declarado vencedor por agências de notícias, jornais e TVs, Biden ainda não recebeu um telefonema do presidente, Donald Trump, reconhecendo a derrota. Por isso, a agência federal que deveria iniciar os procedimentos de transição ainda não começou os seus trabalhos.

"O fato de eles não reconhecerem nossa vitória, neste ponto, não é algo que traga muita consequência ao nosso planejamento", garantiu o democrata, que discursou ontem ao lado de sua vice, Kamala Harris. Questionado se tinha algo a dizer a Trump, o democrata afirmou, sorrindo: "Estou ansioso para a nossa conversa".

Se o reconhecimento interno ainda não ocorreu, o externo está bem adiantado. Biden falou sobre os telefonemas que recebeu de líderes mundiais. "Estou dizendo a eles que os EUA estão de volta", afirmou. "As boas-vindas que recebemos pelo mundo de nossos aliados e amigos têm sido reais. E eu me sinto confiante em recolocar os EUA em um local de respeito, como era antes", afirmou o democrata.

Velhos aliados dos EUA, como o governo alemão, da chanceler Angela Merkel, e francês, do presidente Emmanuel Macron, enviaram felicitações para Biden. O premiê canadense, Justin Trudeau, também. Até líderes que tinham afinidade com Trump cumprimentaram o presidente eleito, como os premiês britânico, Boris Johnson, e israelense, Binyamin Netanyahu.

Chama atenção também quem não se manifestou: Vladimir Putin, da Rússia, Xi Jingping, da China, Andrés Manuel López Obrador, do México, e Jair Bolsonaro, do Brasil - oficialmente, todos dizem que estão aguardando o resultado da disputa judicial nos Estados Unidos.

Saúde

Ontem, Biden também criticou o caso que está sob análise da Suprema Corte que questiona o Obamacare - o processo foi movido por líderes republicanos que pretendem desmontar o legado do ex-presidente Obama, com apoio de Trump.

Os magistrados começaram a analisar a legalidade do programa que ampliou a cobertura para mais de 20 milhões de americanos.

Para o democrata, o sistema de saúde "não precisa ser tema de disputa política". "Para muitos americanos, isso é uma questão de vida e morte, literalmente", disse. "Eu não sou ingênuo e sei que o acesso à saúde é um assunto que dividiu os americanos no passado. Mas a verdade é que o povo está mais unido do que dividido sobre esse tema hoje", afirmou.

Ontem, no tribunal, a maioria dos magistrados parecia propensa a manter a maior parte do Affordable Care Act (Obamacare). Dois juízes conservadores importantes - John Roberts e Brett Kavanaugh - concordaram que a obrigação de adquirir um plano de saúde pode ser retirada do restante da lei, mas ela não precisa ser totalmente derrubada. A decisão definitiva, no entanto, só deve sair no ano que vem. 

Pompeo ignora resultado e prevê segundo mandato

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, apoiou as alegações do presidente Donald Trump de que ele venceu a eleição. Em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10, Pompeo ignorou resultado das urnas, não reconheceu a vitória de Joe Biden e garantiu que haverá uma transição pacífica de poder para um "segundo governo Trump".

A Casa Branca tem se negado a facilitar a transição de poder, diante da insistência do presidente em dizer que houve fraude generalizada na votação e afirmar que os tribunais reconhecerão a ilegalidade dos votos a favor de Biden. No entanto, não há até o momento nenhuma ação na Justiça com argumentos bem embasados para reverter o resultado da eleição.

Mesmo assim, a orientação dada os funcionários do governo federal é para todos agirem como se não houvesse um novo presidente a tomar posse em janeiro. Ontem, o jornal Washington Post revelou que a Casa Branca instruiu as agências a continuarem trabalhando na proposta de orçamento para o próximo ano fiscal, que deve ser apresentado em fevereiro. A posse de Biden acontece em 20 de janeiro e o orçamento, portanto, já seria uma atribuição do novo presidente.

Com medo de que o governo promova uma queima de arquivos e registros oficiais, quase duas dúzias de presidentes de comitês da Câmara enviaram cartas a mais de 50 agências federais pedindo que os funcionários cumpram as regras de preservação dos registros, segundo revelou o site Político. Uma das cartas foi endereçada ao gabinete executivo do presidente, na Casa Branca.

"Nos últimos quatro anos, o governo obstruiu inúmeras investigações do Congresso, recusando-se a fornecer informações adequadas", escreveram os deputados democratas. "Você é obrigado a garantir que qualquer informação previamente solicitada pelo Congresso - e qualquer outra informação que esteja preservada por lei - seja salva e devidamente arquivada de uma maneira que seja facilmente recuperável", diz a carta dos parlamentares.

Funcionários de carreira, tanto nas agências que tratam do orçamento como na diplomacia, estão irritados e surpresos com a posição do governo de ignorar a necessidade da transição. Alguns disseram que Pompeo falou em tom de piada sobre um segundo governo Trump, mas o secretário reiterou a tese do presidente de que ainda há votos a serem apurados.

"Nós estamos prontos. O mundo está assistindo ao que está acontecendo. Nós vamos contar todos os votos. Quando o processo estiver completo, haverá um eleito. Há um processo, a Constituição estabelece de maneira muito clara", afirmou Pompeo.

Durante a campanha, Pompeo rompeu tradições à frente da diplomacia americana ao se envolver politicamente com os esforços de reeleição de Trump. Nos últimos 75 anos, os secretários de Estado em exercício não participaram da convenção partidária, algo que ele fez por este ano. Pompeo é considerado um dos potenciais candidatos à eleição em 2024 pelo Partido Republicano.

Questionado se a recusa em admitir a vitória de Biden e a resistência em trabalhar com a equipe do democrata seriam ameaças à segurança nacional, Pompeo afirmou que "o mundo pode ter confiança" que a transição de poder necessária será feita. "Nós faremos tudo que for necessário para garantir que o governo americano continue a ser funcional."

"Eu estou recebendo ligações de todo o mundo. Eles entendem que isso leva tempo. Levou 37 dias a mais em 2000, tivemos uma transição bem sucedida. Estou muito confiante que precisamos contar todos os votos legais."

Reservadamente, diplomatas de várias partes do mundo vêm questionando o risco que os EUA correm de perder a capacidade de cobrar de outros países eleições limpas, se não conseguem organizar um processo eleitoral dentro da própria casa.

Ontem, Pompeo se irritou quando foi questionado sobre o assunto. "É ridículo", repetiu três vezes. "Esse departamento se preocupa que eleições sejam livres e justas ao redor do mundo. Meus funcionários arriscam a vida para garantir que isso aconteça. Também encontramos situações em que as coisas não estão claras. E nós trabalhamos para descobrir fatos, para entender se o resultado reflete a vontade do povo", disse.

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