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Itália e França fazem propostas para solucionar a crise migratória

Emmanuel Macron e Giuseppe Conte discutiram a criação de centros europeus nos países de saída dos imigrantes para evitar viagens de navio para a Europa

A gestão da crise migratória na União Europeia será abordada durante a cúpula europeia de 28 e 29 de junho (Ludovic Marin/Reuters)

A gestão da crise migratória na União Europeia será abordada durante a cúpula europeia de 28 e 29 de junho (Ludovic Marin/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de junho de 2018 às 15h49.

Última atualização em 15 de junho de 2018 às 16h15.

O chefe de Governo italiano, Giuseppe Conte, e o presidente francês, Emmanuel Macron, pediram a criação de centros europeus para tramitar as solicitações de refúgio dos migrantes em seus países de origem, medida que busca evitar novas tragédias no Mar Mediterrâneo.

"Devemos criar centros europeus nos países de saída", disse Conte em uma entrevista coletiva conjunta com Macron, em Paris, após a crise provocada pela gestão do barco humanitário "Aquarius", que agora se dirige à Espanha com 629 migrantes a bordo.

"O perigo não começa nos barcos", mas quando os migrantes "entram nos barcos em seus países de origem", acrescentou o novo chefe de Governo italiano. "Devemos evitar essas viagens da morte".

A proposta da Itália, um dos países na linha de frente na crise migratória que atinge a Europa, foi apoiada por Macron, que disse ser a favor de "sucursais de nossas agências de refúgio para lidar com esta questão do outro lado" do Mediterrâneo.

O presidente francês também pediu uma maior solidariedade com a Itália, que desde 2015 viu chegar quase 500 mil migrantes a sua costa.

"Junto com nossos sócios, queremos uma reforma profunda do sistema de Dublin", apontou, em referência a um regulamento europeu que estipula que os migrantes devem solicitar refúgio no primeiro país europeu onde chegam. Segundo Roma, esta regra impõe uma carga desproporcional aos países mediterrâneos.

O presidente francês também mencionou "iniciativas complementares" com alguns países europeus, como Espanha e Alemanha.

Mas todas essas propostas não serão facilmente adotadas, considerando as profundas fissuras na UE sobre o manejo da crise migratória.

Além do Grupo de Visegrado (Polônia, Romênia, Eslováquia e República Tcheca), contrário à acolhida de refugiados, o discurso anti-imigração tem ecoado em outros países como Áustria e, inclusive, Itália.

E os ministros italiano, austríaco e alemão do Interior, falcões a respeito da delicada questão migratória, disseram esta semana que constituirão "um eixo de voluntários" para enfrentar a imigração clandestina, algo que se acrescenta a outras discordâncias europeias.

'Bloqueio na realocação dos refugiados'

A gestão da crise migratória na UE será abordada durante a cúpula europeia de 28 e 29 de junho, que reunirá em Bruxelas os chefes de Estado e de Governo do bloco.

Mas, desde já, o encontro se mostra complicado. "É claro que em junho não teremos resultados sobre a reforma de Dublin, já que a questão da realocação dos refugiados impede", disse uma fonte da presidência francesa.

Para enfrentar a crise migratória, a UE adotou excepcionalmente cotas para dividir até setembro de 2017 os refugiados de Itália e Grécia, mas alguns países, sobretudo do leste, não receberam nenhum e outros estão muito abaixo de seus compromissos.

O encontro entre Conte e Macron aconteceu após uma semana de tensões diplomáticas entre Paris e Roma, depois que a Itália se negou a abrir seus portos ao "Aquarius", um navio de salvamento fretado por uma ONG com mais de 600 migrantes socorridos.

Macron reagiu à decisão do país vizinho acusando-o de "cinismo e irresponsabilidade". Roma criticou a França por "olhar para o outro lado em matéria de imigração".

Apesar disso, os dois dirigentes concordaram em se encontrar após uma ligação feita na noite de terça-feira, na qual o francês assegurou "que não fez nenhum comentário com o objetivo de ofender a Itália nem o povo italiano".

Enquanto isso, o "Aquarius" continuava nesta sexta-feira sua rota até a Espanha, país que se ofereceu a acolhê-lo para "evitar uma catástrofe humanitária". Sua chegada ao porto de Valência está prevista para os próximos dias.

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