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Istambul cria trajetos de ônibus "sob medida" para evitar assédio

"A partir das 10 da noite se uma mulher me pedir que pare, a deixo descer sem esperar a seguinte parada", relata um motorista de ônibus

Istambul: "Mais uma vez são tomadas medidas para proteger a mulher ao invés de educar o homem", avalia Armagan Sagam, da Associação de Mulheres pela Paz (Uriel Sinai/Getty Images)

Istambul: "Mais uma vez são tomadas medidas para proteger a mulher ao invés de educar o homem", avalia Armagan Sagam, da Associação de Mulheres pela Paz (Uriel Sinai/Getty Images)

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EFE

Publicado em 25 de novembro de 2016 às 15h29.

Istambul - "A partir das 10 da noite se uma mulher me pedir que pare, a deixo descer sem esperar a seguinte parada", relata Cem, um motorista de ônibus da parte asiática de Istambul, "assim ela está mais perto de casa e não corre perigo".

Desde 18 de novembro, a Prefeitura de Istambul introduziu esta medida para tentar reduzir os casos de agressão sexual popular, e que as mulheres possam retornar para casa evitando ruas consideradas "perigosas".

"Mais uma vez são tomadas medidas para proteger a mulher ao invés de educar o homem", avalia Armagan Sagam, da Associação de Mulheres pela Paz.

"Vamos um pouco mais rápido para casa, mas o problema segue aí", diz de forma taxativa.

Com Armagan concorda outro motorista de ônibus, Abdul, que percorre o centro da cidade. "Não me parece bom, é como se os homens tivessem a liberdade de atacar a partir das 10 da noite e necessitamos proteger as mulheres", comenta.

Segundo uma pesquisa da universidade de Hacettepe em Ancara, metade da mulheres na Turquia sofreram algum tipo de agressão verbal ou física na rua.

Os grupos feministas criaram várias iniciativas para combater o assédio na via pública, desde aulas de defesa pessoal, a manifestações noturnas para ocupar a rua e campanhas em redes sociais para dar voz aos abusos que sofrem.

Na hashtag #sendeanlat (conte você também), as mulheres relatam suas experiências de assédio na rua, e acumula mais de três milhões de mensagens desde que foi criada em meados de 2015, após o brutal estupro e assassinato da estudante Özgecan Aslan pelo motorista de um microônibus.

"É um problema social, começa na família, no marido, passa pela política, pelos discursos misóginos de Erdogan e acaba no assédio na rua", explica B.T., uma feminista de um grupo universitário que não quis se identificar.

"Após o golpe de estado aumentou, todas vimos, desde os feminicídios ao assédio na rua", indica.

Todos os grupos feministas da cidade denunciam o discurso do governo islamita do AKP, que expressou em várias ocasiões sua visão da mulher na sociedade.

O presidente Recep Tayyip Erdogan disse em junho que uma mulher que não é mãe é "menos feminina" e dois anos antes expressou que "as mulheres e os homens não são iguais".

"Que tipo de educação e proteção podemos esperar de políticas que vão nessa direção?" comenta B.T., "assim não se pode fazer uma sociedade mais igualitária".

A Universidade de Bahcesehir realizou uma pesquisa no ano passado que reflete como a sociedade interpreta a violência contra as mulheres: um terço dos indagados achava que "algumas mulheres" mereciam ser atacadas, enquanto 60% afirmavam que as empresas deveriam dar prioridade aos homens perante as mulheres.

"As agressões sexuais na rua fazem nos sentir incomodadas no espaço público, reduz nossa liberdade de movimento", conta uma representante do centro de estudos de gênero da universidade Kadir Hás em Istambul.

"Se o ônibus nos deixa mais perto de casa, continua reduzindo nossa liberdade de movimento", argumenta.

Há anos, o setor mais islamita propôs a iniciativa de instaurar um "ônibus rosa", destinado só para mulheres, para evitar o assédio, algo que deu de cara com a oposição frontal das organizações feministas.

"Que ponham todos os estupradores em um ônibus especial para eles!", responderam algumas nas redes sociais.

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