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Israelenses querem usar esperma de soldados mortos para serem avós; entenda

Se o projeto for aprovado, o soldado terá que dizer, a partir de agora, no início do serviço militar obrigatório, se permite o uso de seu esperma à esposa, ou aos pais, caso venha a falecer

Israeli soldiers hold positions at Netiv Ha'Asara near the site where an IDF vehicle was directly hit by a rocket fired from Gaza strip, injuring 2 and killing one, in Netiv Ha'Asara. May 12, 2021.  (Photo by Gili Yaari/NurPhoto via Getty Images) (Gili Yaari/Getty Images)

Israeli soldiers hold positions at Netiv Ha'Asara near the site where an IDF vehicle was directly hit by a rocket fired from Gaza strip, injuring 2 and killing one, in Netiv Ha'Asara. May 12, 2021. (Photo by Gili Yaari/NurPhoto via Getty Images) (Gili Yaari/Getty Images)

A

AFP

Publicado em 20 de outubro de 2022 às 11h10.

Desde que perdeu seu único filho em uma operação do Exército israelense há dois anos, Baruch Ben Ygal se apegou a uma esperança: tornar-se avô usando esperma preservado em fertilização in vitro. 

Divorciado, Baruch viveu sozinho com seu filho Amit até sua morte em maio de 2020, aos 21 anos, após ser atingido por uma pedra atirada por um palestino durante uma operação militar na Cisjordânia ocupada.

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Um projeto de lei aprovado em primeira leitura no Parlamento em setembro pode permitir que Baruch use o esperma de seu filho para fertilização in vitro com uma mulher de sua escolha.

Até agora, apenas a esposa do soldado podia obter seu esperma, que poderia ser usado, se extraído em até 72 horas após a morte.

"Amit era a minha vida inteira. Até hoje não consigo pronunciar a palavra 'morte'", desabafa o pai, de 53 anos, em seu apartamento em Ramat Gan, nos arredores de Tel Aviv.

Fotos e desenhos do rosto de Amit cobrem completamente as paredes de seu antigo quarto. Em sua cama, o pai colocou camisetas com o rosto do filho, assim como a capa de um jornal, em que aparece posando com dezenas de bebês chamados Amit, em homenagem ao filho.

Os bebês são exatamente o que Baruch Ben Ygal gostaria de ter em seu apartamento.

"Quero ser feliz de novo, quero ver um ou dois filhos de Amit nesta casa, durante o Shabat, durante as férias", disse o professor de história judaica, que considera que o Exército tem a "responsabilidade de ajudá-lo a ser um avô".

Se o texto for aprovado, o soldado terá que dizer, a partir de agora, no início do serviço militar obrigatório, se permite o uso de seu esperma à esposa, ou aos pais, caso venha a falecer.

"Obrigação moral"

Zvi Hauser, o parlamentar de direita que redigiu o projeto de lei, entende que a ideia pode parecer estranha e até chocante.

Ele garante,  no entanto, que seu projeto prevê um quadro jurídico para evitar a deriva, baseado no consentimento do soldado e em um controle minucioso dos arquivos das mulheres que queiram realizar a fecundação.

A lei se aplicará a todas as mortes, mas foi originalmente pensada para responder ao caso específico dos soldados, explicou Hauser.

"Se você morre em um acidente de carro, (foi) você que decidiu sair na estrada. Quando você morre no Exército, foi o Exército que decidiu que você estaria lá", disse ele à AFP. "Eles devem algo a você, e não apenas dinheiro", alegou.

Irit Oren Gunders, diretora de uma associação de apoio a famílias de soldados mortos em serviço, fala da "obrigação moral" de garantir a "continuidade" da família, inclusive trazendo filhos órfãos ao mundo.

Para ela, essa lei é semelhante à lei de reprodução assistida, que permite que mulheres solteiras tenham filhos.

"Há muitas mulheres que vão aos bancos de esperma e não sabem quem é o doador (...) Neste caso, todos ganham: vamos poder contar aos filhos quem foi o pai deles, um herói que lutou por seu país", diz Oren Gunders.

"Problema ético"

Aprovado sem ressalvas em primeira leitura, o projeto de lei provocou algumas críticas, principalmente entre os rabinos.

Embora Binyamin David, do Instituto Puah, diga entender "a dor" das famílias de soldados mortos, esse rabino vê "um problema ético" no fato de "usar" uma criança "como um memorial de seu falecido pai".

Não há garantias de que Amit quisesse ter um filho com uma mulher que não conhecia, acrescentou.

Amit Ben Ygal queria filhos e tinha uma namorada quando morreu, mas ela se sente jovem demais para uma gravidez, disse o pai do soldado.

Ele alegou ter sido contatado por centenas de mulheres que desejam ser a mãe de seu neto, garantindo que ele daria espaço à mãe. Baruch afirmou que precisava de um neto "para continuar vivendo".

Mostrando seu apartamento meio vazio, ele disse: "Se eu souber que terei netos que estarão aqui quando eu me for, ficarei feliz".

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