Ministra da Justiça de Israel, Tzipi Livni, e negociador chefe palestino, Saeb Erekat, se comprimentam durante coletiva de imprensa em Washington (Jonathan Ernst/Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2013 às 21h59.
Jerusalém/Ramala - A pressão dos Estados Unidos fez com que neste ano palestinos e israelenses retomassem suas frágeis negociações de paz, que a duras penas conseguiram avançar apesar do impulso colonizador do Executivo israelense saído das urnas no início de 2013.
Quase três anos depois da última tentativa de alcançar uma solução ao conflito que os enfrenta, israelenses e palestinos retomaram as conversas em julho como resultado, principalmente, da atuação do secretário de Estado americano, John Kerry, que viajou em seis ocasiões à região desde sua chegada ao cargo.
'Quando alguém lhes disser que israelenses e palestinos não podem encontrar uma base comum ou enfrentar os problemas que lhes separam, não acreditem', disse Kerry ao dar o tiro de largada às conversas.
Desde então, as partes realizaram cerca de 20 encontros diretos em Jerusalém e Jericó, em várias ocasiões com a intervenção de mediadores americanos, dos quais o conteúdo não foi informado, mas sim a falta de resultados.
Em novembro, a equipe negociadora palestina anunciou que abandonava a mesa de negociação perante o que considerava uma falta de seriedade e boa fé demonstradas por Israel.
Tratava-se da resposta do negociador-chefe da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, e seu colega Mohammed Shtaye, aos contínuos anúncios de Israel de projetos de edificação em assentamentos da Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Segundo o jornal 'Haaretz', as reuniões continuaram a um ritmo de duas por semana apesar da decisão dos negociadores palestinos, no que parece tratar-se mais de um gesto diplomático de frustração que de uma interrupção definitiva do diálogo ou uma mudança de atores na equipe.
Além disso, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, reiterou seu compromisso de seguir negociando os nove meses estabelecidos pelas partes com os EUA, um prazo que expira no próximo dia 29 de abril.
Apenas depois, disse no início de dezembro perante um grupo de jornalistas de vários países árabes que lhe visitavam, decidirá se no final desse prazo recorrerá às instâncias internacionais para que condenem Israel pela continuação da construção nos assentamentos.
Desde que israelenses e palestinos selaram em Washington seu enésimo apertão de mãos dando início ao diálogo, Israel anunciou sucessivos projetos, licitações e planos futuros para construir milhares de casas em colônias judaicas.
Alguns deles, de até 20 mil novas unidades, foram inclusive desmentidos posteriormente pelo próprio primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a fim de apaziguar as críticas americanas.
'Infelizmente os fatos demonstram que Netanyahu não entrou nas negociações a fim de poder conseguir um acordo', se queixou à Efe o assessor de comunicação do Departamento de Negociações da OLP, Xavier Abu Eid.
Em sua opinião, 'o que um vê no terreno na Palestina é a continuação do projeto colonial e muito pouco do que poderia ser uma solução' ao eterno conflito no Oriente Médio.
Após as reservas dos últimos anos, os palestinos entraram no processo com especial desconfiança pela falta de compromisso israelense que as fronteiras de 1967 seriam o marco de referência, além de não ter conseguido uma promessa da paralisação das colônias enquanto durasse o diálogo.
Em Israel também não abunda o otimismo, pois Netanyahu aprovou como gesto destinado a aplanar o retorno ao diálogo a libertação de 104 presos palestinos condenados por delitos de sangue cometidos antes de 1993.
Meia centena deles foram libertados nas duas primeiras fases - de quatro - do processo, suscitando os mencionados protestos dos familiares de suas vítimas e dos políticos mais nacionalistas em seu governo.
Como contrapartida a esta decisão, e para dissipar as criticas da direita, o primeiro-ministro resolveu fazer avançar a colonização em blocos de assentamentos.
A libertação de palestinos representou uma das medidas mais controvertidas aprovadas pelo Executivo que se formou após as eleições de janeiro, que levaram Netanyahu pela terceira vez à chefia do governo em Israel.
Apesar de a centrista Tzipi Livni, de perfil amável e atual negociadora israelense, integrar o gabinete, provavelmente este é o mais direitista dos últimos anos.
Figuras como o ultraconservador Avigdor Lieberman, que retornou recentemente à chancelaria após ser exonerado de culpa em um caso de fraude, e o líder da formação que lidera a causa dos colonos, Nafatli Benett, ambos contrários a uma solução de dois Estados, deixam pouco espaço a concessões.
O porta-voz do primeiro-ministro israelense, Mark Reguev, declarou à Efe que seu governo 'está preparado para uma solução real, dois Estados para dois povos, na qual a legitimidade de Israel e seus interesses de segurança estejam salvaguardados'.
Uma das reivindicações israelenses é que Abbas reconheça Israel como 'Estado judeu', a fim de que no futuro não haja mais reivindicações palestinas.