O conflito entre Israel e Irã tomou novas proporções nas últimas semanas. Após um longo período de tensões, Israel lançou um ataque contra o Irã na semana passada, que não só abalou as bases do programa nuclear iraniano, mas também ampliou significativamente os objetivos de sua ofensiva, que agora incluem destruir o arsenal de mísseis balísticos do Irã, deter o enriquecimento nuclear em diversas instalações subterrâneas e enfraquecer o regime de Teerã a ponto de comprometê-lo estruturalmente.
Esse movimento da Israel Defense Forces (IDF) marca uma mudança radical em relação ao histórico de ataques pontuais que caracterizaram o conflito nos últimos anos. Em 1981, Israel já havia realizado uma operação bem-sucedida contra o programa nuclear iraquiano, mas a atual ofensiva contra o Irã busca atingir múltiplos alvos militares e estratégicos em um período prolongado, provavelmente semanas, e com o objetivo de quebrar o poderio militar iraniano de forma mais definitiva.
Para especialistas, o cenário que se desenha agora é de um conflito prolongado, com a IDF dominando os céus iranianos, mas enfrentando uma resposta intensa e resiliente de Teerã, que continua a disparar mísseis e drones em retaliação. A questão geopolítica se complica ainda mais à medida que o impacto global do conflito se amplia, com grandes potências observando atentamente, especialmente os Estados Unidos, que, embora tenham se mantido em um papel relativamente neutro, poderiam entrar no jogo como um mediador decisivo.
O que antes parecia ser uma guerra localizada, com limitações estratégicas bem definidas, agora envolve um escalonamento de proporções regionais, com o risco de a situação se expandir ainda mais para outros países do Oriente Médio.
A guerra de mísseis
A guerra, até o momento, tem sido predominantemente travada no ar, com Israel utilizando sua superioridade aérea para atacar pontos vitais do Irã, como instalações nucleares, bases de mísseis e infraestruturas militares.
"O caminho para o Irã foi pavimentado", disse Tomer Bar, comandante da Força Aérea de Israel, em comentário ao Financial Times, após a destruição dos sistemas de defesa aérea iranianos, que garantiu liberdade para os caças israelenses dominarem os céus iranianos.
Não demorou para o Irã responder aos ataques. Ahmad Vahidi, conselheiro militar dos Guardas Revolucionários do Irã, afirmou à Al Jazeera que "o país está preparado para qualquer contingência". "Não estamos preocupados com uma guerra prolongada", afirmou.
Um dos maiores desafios deste confronto é a guerra de mísseis, já que Israel e Irã se enfrentam com ataques balísticos e drones. A Israel Defense Forces (IDF) já destruiu uma parte significativa dos lançadores de mísseis iranianos, mas ainda há mais de mil mísseis capazes de atingir Israel, segundo Danny Citrinowicz, especialista em Irã do Instituto de Estudos Estratégicos de Tel Aviv., da IDF. Segundo ele, "o Irã tem uma grande quantidade de mísseis à disposição, mas terá que calcular o tempo necessário para enfrentar Israel."
Por outro lado, Israel se apoia em sua defesa antimísseis, incluindo o sistema domo de ferro. Esses sistemas, no entanto, não são infinitos. "O questionamento é: quanto tempo o Irã pode continuar disparando mísseis a essa taxa, e quanto tempo os sistemas de defesa israelenses podem interceptá-los?", questionou o ex-assessor de segurança nacional do Reino Unido, Paddy McGuinness ao Financial Times.
Para McGuinness, a fadiga do sistema de interceptação ao longo de um conflito prolongado poderia prejudicar a eficácia de Israel em proteger seus cidadãos e instalações.
O papel dos EUA e das potências globais
O papel dos Estados Unidos no conflito continua sendo um ponto de atenção. "Espero que os dois países cheguem a um acordo, mas reconheço que eles podem precisar ‘lutar’ primeiro", afirmou o presidente americano, Donald Trump.
Sua postura, até agora, tem sido de neutralidade estratégica, permitindo que Israel tome as rédeas da ofensiva, embora também tenha sugerido que os EUA possam intervir, caso o conflito se intensifique.
Para Jon Alterman, especialista do Center for International and Strategic Studies em Washington, "operações militares criam consequências políticas, mas as guerras têm objetivos e resultados profundamente políticos". Alterman explicou, em entrevista ao Financial Times, que o impacto geopolítico do conflito entre Israel e Irã pode se expandir, afetando relações internacionais e o equilíbrio de forças no Oriente Médio, especialmente se o confronto continuar a envolver as potências globais e suas políticas externas.
Quanto tempo o conflito deve durar?
O futuro imediato do conflito entre Israel e Irã permanece incerto, mas uma coisa é clara: ele não terminará rapidamente.
Alex Vanka, especialista do Middle East Institute, destacou que "o Irã está isolado, enquanto Israel tem o apoio dos EUA e de grandes potências europeias". "Isso coloca Teerã em uma posição delicada", afirmou. Ele aponta que a intervenção internacional será crucial, podendo tanto moderá-la quanto exacerbar a guerra, dependendo de como as potências externas reagirem às ações de Israel e Irã.
Já Elijah Magnier, analista internacional, disse ao Al Jazeera que acredita que a situação não deve acabar tão cedo. "O conflito vai continuar, estamos apenas nos primeiros dias", afirmou.