Fumaça se ergue de escombros após bombardeio de Israel contra a área do Hospital Batista, em Daraj, na Faixa de Gaza (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 31 de maio de 2025 às 17h31.
O Gabinete do Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, rejeitou a contraproposta do Hamas ao plano de trégua apresentado pelos EUA, após o enviado especial americano, Steve Witkoff, classificar a resposta do grupo terrorista palestino como "inaceitável". O Hamas anunciou mais cedo que havia respondido "positivamente" aos termos enviados com Washington, mas "com ênfase na garantia de um cessar-fogo permanente e na retirada total israelense".
"Embora Israel tenha concordado com o esboço atualizado de Witkoff para a libertação de nossos reféns, o Hamas continua a manter-se fiel à sua recusa... Israel continuará sua ação pelo retorno de nossos reféns e pela derrota do Hamas", manifestou-se o Gabinete de Netanyahu na tarde deste sábado.
A manifestação israelense veio pouco depois do enviado especial americano ter classificado como "totalmente inaceitável" a resposta oferecida pelo Hamas horas mais cedo. Em uma publicação na rede social X, Witkoff afirmou que a contraproposta palestina atrasaria qualquer possível avanço nas negociações.
"Eu recebi a resposta do Hamas à proposta dos Estados Unidos. É totalmente inaceitável e apenas nos faz andar para trás", escreveu Witkoff em uma publicação na rede social X na tarde deste sábado. "O Hamas deve aceitar o formato proposto que nós colocamos como base para para as negociações de proximidade, que podemos iniciar imediatamente na próxima semana. Essa é a única maneira de fecharmos um acordo de cessar-fogo de 60 dias nos próximos dias [...] e no qual poderemos ter negociações substanciais de boa-fé nas negociações de proximidade para tentar chegar a um cessar-fogo permanente".
Não está claro que mudança na proposta original foi apontada pelo Hamas. O formato americano estabelecia uma trégua de 60 dias, em que o Hamas se comprometeria a libertar metade dos reféns ainda mantidos em Gaza, em troca de prisioneiros palestinos. Ainda neste período seriam iniciadas novas negociações com apoio dos EUA, tendo em vista o fim permanente da guerra.
Em um comunicado, o grupo palestino afirmou que aceitava libertar 10 reféns israelenses ainda vivos, e também devolver os corpos de 18 pessoas, em troca de "um número acordado de prisioneiros". No comunicado, o grupo disse ainda que sua proposta "visa alcançar um cessar-fogo permanente, uma retirada abrangente da Faixa de Gaza e garantir o fluxo de ajuda ao nosso povo e às nossas famílias na Faixa de Gaza".
O número de reféns vivos e os corpos dos falecidos que o Hamas se diz disposto a entregar é idêntico ao da proposta apresentada por Witkoff. Contudo, a julgar pelos pontos destacados no comunicado, é provável que as novas reivindicações sejam similares às anteriormente rejeitadas por Israel, como a saída dos militares de Gaza e o encaminhamento de um fim da guerra, e não apenas uma trégua.
O grupo palestino foi colocado em uma situação de extrema pressão após EUA e Israel anunciarem que haviam chegado a um termo para interromper a guerra por 60 dias. Enfrentando uma renovada ação militar que matou centenas de pessoas nas últimas semanas em Gaza, e uma crise de fome e falta de insumos pelo controle exercido pelos israelenses na fronteira — que não é mais absoluto, mas ainda limita a quantidade de comida, água e medicamentos que entra no enclave —, qualquer decisão que não levasse a uma interrupção das hostilidades seria prejudicial aos palestinos.
Por outro lado, aceitar libertar uma grande quantidade de reféns mantidos em Gaza — que o Hamas usa como moeda de troca e forma de pressão política — na configuração atual seria aceitar termos piores de que outros propostos anteriormente, e não ofereceria ao grupo nenhuma garantia sobre o futuro do enclave ou sua própria existência.