Trump e a equipe de negociadores do acordo entre Israel, Emirados Árabes Unidos e Bahrein: negociações entre os três países rompem um tabu entre lideranças do mundo árabe (Getty Images/Getty Images)
Leo Branco
Publicado em 15 de setembro de 2020 às 06h18.
Última atualização em 16 de setembro de 2020 às 12h26.
Num evento histórico para o Oriente Médio, as relações diplomáticas entre Israel e os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, ambos países de maioria muçulmana no golfo Pérsico, estão sendo estabelecidas a partir desta terça-feira, 15 de setembro.
A assinatura do acordo de paz entre os três países, até então inimigos, será na Casa Branca, sede da presidência dos Estados Unidos, e será comandada pessoalmente pelo presidente republicano Donald Trump, a partir das 13h (horário de Brasília).
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e os chanceleres Sheikh Adbullah bin Zayed al-Nahyan, dos Emirados Árabes, e Abdullatif Al Zayani, do Bahrein, estão em Washington para a cerimônia.
A assinatura do acordo entre os três países rompe um tabu entre lideranças do mundo árabe. Até agora, Israel tinha relações diplomáticas com apenas dois países vizinhos: o Egito (desde 1979) e a Jordânia (desde 1994).
Daqui para frente, por causa do termo assinado hoje, moradores de Israel poderão visitar destinos turísticos badalados do golfo Pérsico, como Dubai – e vice-versa. Ou, ainda, abrir empresas ou aportar recursos em fundos sediados num dos três países.
Criado em 1948 e predominantemente judeu, o Estado de Israel tem sido visto como um inimigo pela maioria dos países vizinhos, em virtude da relação problemática com os palestinos, povo que disputa o direito de viver em terras também cobiçadas pelos israelenses.
Por trás da aproximação entre Israel, Emirados Árabes e Bahrein está um medo comum aos três países: a influência crescente do Irã sobre grupos políticos do Oriente Médio. Basta lembrar que os aiatolás iranianos financiam grupos políticos (e armados) em países vizinhos, como o Hezbollah, no Líbano, e diversas autoridades religiosas no Iraque.
Para lideranças árabes, a influência iraniana desestabiliza o centro de poder do mundo árabe, atualmente calcado nos reinos ricos em petróleo, como a Arábia Saudita e o emirado de Abu Dhabi, parte dos Emirados Árabes.
Condenado pelos palestinos e iranianos, o acordo diplomático desta terça-feira, é visto por boa parcela do mundo árabe como uma vitória para Trump. Para o cientista social Sheik Jihad Hammadeh, consultor sobre assuntos de islamismo com sede em São Paulo, o acordo é importante para a reeleição de Trump, na eleição marcada para 3 de novembro. "É uma campanha eleitoral pró-Trump", diz Hammadeh.
Pelo lado de Israel, a visão é de que a normalização de relações entre Israel, Emirados Árabes Unidos e Bahrein devem estabilizar a região. "A cooperação entre eles gerará frutos para eles e seus respectivos vizinhos, principalmente devido ao desenvolvimento tecnológico de Israel em diversas áreas, incluindo segurança, agricultura e medicina", diz André Lajst, cientista político e diretor-executivo da StandWithUS Brasil, organização que faz advocacy para Israel.
"Claro que isso é uma vitória para Trump, da mesma forma que ocorreu com Jimmy Carter, na assinatura da paz entre Egito e Israel, e Bill Clinton, na assinatura dos acordos de Oslo. Mas os benefícios para o mundo são bem maiores do que um benefício pessoal, por mais que tenha um impacto nas eleições americanas."
Para o consultor Welber Barral, estrategista de comércio exterior do banco Ourinvest, o evento deve trazer votos entre cristãos evangélicos pró-Israel, uma importante base eleitoral do partido Republicano nos Estados Unidos.
"Traz um impacto não só na comunidade judaica nos Estados Unidos, mas também para conservadores americanos que vão achar que a política externa de Trump está correta", diz.