Israel: nestes novos fragmentos, "encontramos uma mudança textual completamente inesperada, que ainda não explicamos totalmente" (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 16 de março de 2021 às 13h53.
Israel revelou nesta terça-feira (16) fragmentos de um pergaminho bíblico de 2.000 anos de antiguidade, descoberto no deserto da Judeia, no sul do país, e considerou se tratar de uma descoberta "histórica" e uma das mais importantes desde os Manuscritos do Mar Morto.
"Pela primeira vez em quase 60 anos, as escavações arqueológicas revelaram fragmentos de um pergaminho bíblico", afirma a Autoridade de Antiguidades de Israel (AAI) em um comunicado.
Escritos em grego, os fragmentos tornaram possível, segundo pesquisadores israelenses, reconstruir passagens dos livros de Zacarias e Naum, que fazem parte do livro dos 12 profetas menores da Bíblia.
O material foi encontrado durante escavações em uma caverna em um penhasco na reserva natural Nahal Hever, no âmbito de uma campanha para combater o saque de patrimônio.
Para realizar a operação, que se estendeu pela parte do deserto da Judeia localizada na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967, a AAI forneceu aos arqueólogos drones e equipamentos de montanha, incluindo cordas para descida de rapel.
Fragmentos anteriores foram descobertos por beduínos nas décadas de 1950 e 1960 nesta "caverna dos horrores", assim chamada por causa dos muitos esqueletos encontrados lá, disse Oren Ableman, da AAI.
Nestes novos fragmentos, "encontramos uma mudança textual completamente inesperada, que ainda não explicamos totalmente", disse Ableman à AFP.
Em uma passagem "em vez da palavra 'portais' encontrada nas outras versões, o termo 'ruas' aparece".
Os arqueólogos estão tentando descobrir o significado desta variação, acrescentou.
Além dos fragmentos de pergaminho, os cientistas desenterraram objetos que remontam à revolta judaica de Bar Kokhba contra os romanos (132-136 DC), assim como um esqueleto de criança mumificado de 6.000 anos de antiguidade envolto em tecido e uma cesta de 10.500 anos, provavelmente a mais antiga do mundo, acredita a AAI.
Desde a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, há mais de 70 anos, nas cavernas de Qumran, as cavernas rochosas do Deserto da Judeia se tornaram alvo de saqueadores de antiguidades.
Esses 900 manuscritos são considerados uma das descobertas arqueológicas mais importantes de todos os tempos, porque incluem textos religiosos em hebraico, aramaico e grego, assim como a versão mais antiga conhecida do Antigo Testamento.
De acordo com Israel Hasson, diretor da AAI, que expõe as peças em seu laboratório do Museu de Israel, em Jerusalém, a iniciativa lançada em 2017 tem como objetivo "salvar estas raras e importantes peças patrimoniais das garras dos ladrões".
Os arqueólogos israelenses acreditam que as cavernas serviram como refúgio para os judeus na época da destruição do Segundo Templo em Jerusalém pelos romanos em 70 d.C e durante a revolta de Bar Kokhba cerca de 65 anos depois.
De acordo com Avi Cohen, diretor do ministério de Jerusalém e Patrimônio, que financiou a escavação, o pergaminho testemunha a história judaica da região e o "elo inseparável entre as atividades culturais judaicas e nosso lugar nesta terra".
As descobertas arqueológicas são o assunto de disputas entre palestinos e israelenses, que às vezes são acusados de querer justificar reivindicações territoriais na Cisjordânia.