Fumaça no norte de Gaza, em 16 de dezembro de 2023 (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 9 de fevereiro de 2024 às 10h02.
Israel bombardeou nesta sexta-feira, 9, a cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, onde centenas de milhares de palestinos estão refugiados, e recebeu críticas do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que classificou a resposta israelense como "excessiva".
Israel iniciou a ofensiva militar contra a Faixa em 7 de outubro, em resposta a um ataque do movimento islamista palestino Hamas contra seu território.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, que concluiu na quinta-feira, 8, uma viagem regional para tentar promover uma trégua, fez um apelo e pediu a Israel para "proteger" os civis em suas operações em Gaza.
Em uma primeira etapa, as forças israelenses concentraram suas operações na cidade de Gaza, norte da Faixa, e depois avançaram para Khan Yunis, sul do território.
Na quarta-feira, 7, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordenou a preparação de uma ofensiva em Rafah, uma localidade próxima da fronteira com o Egito, que está fechada.
A cidade tem 1,3 milhão de pessoas atualmente, a maioria deslocados que fugiram de outras áreas da Faixa de Gaza, devido aos combates, e que convivem diariamente com o medo, abrigados em barracas e cabanas construídas com lençóis, pedaços de metal e galhos.
Esta é a situação de Adel Al Hajj, que chegou a Rafah procedente do campo de Al Shati da Cidade de Gaza e teme uma "invasão" dos militares israelenses, algo que, segundo ele, poderia resultar em "massacres".
"Se Rafah for atacada, haverá massacres e um genocídio. Não sei se conseguiremos fugir para o Egito, ou se os massacres também nos alcançarão", afirmou Um Ahmed al Burai, uma palestina de 59 anos, também procedente de Al Shati. Antes de chegar a Rafah, ela passou por Khan Yunis e por Jirbet Al Adas.
Na quinta-feira, Washington advertiu que Rafah pode ser o cenário de um "desastre" humanitário e afirmou que não apoia uma operação "sem planejamento e sem reflexão" a respeito dos civis.
"Minha opinião é que a resposta em Gaza, na Faixa de Gaza, tem sido excessiva", declarou o presidente americano na quinta-feira, em uma rara crítica a Israel, aliado próximo de Washington.
"Há muitas pessoas inocentes passando fome, muitas pessoas inocentes que estão em dificuldades e morrendo, e isto tem que parar", completou Biden.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também se declarou "alarmado" com a operação, que segundo ele "aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário".
Na madrugada desta sexta-feira, várias testemunhas relataram bombardeios israelenses no centro e no sul de Gaza.
"Ouvimos o barulho de uma explosão enorme perto de nossa casa (...) Encontramos duas crianças mortas na rua", declarou Jaber Al Bardini, morador de Rafah, de 60 anos.
"Se (Israel) executar um ataque (terrestre) contra Rafah, vamos morrer em nossas casas. Não temos escolha, não temos para onde ir", acrescentou.
Segundo um funcionário da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), que pediu anonimato, algumas pessoas em Rafah estão seguindo em direção ao mar, porque "acreditam que uma eventual operação terrestre" começará perto da fronteira israelense.
A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram mais de 1.160 pessoas, na maioria civis, e sequestraram mais de 250 em um ataque no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses. Entre os mortos, estão mais de 300 militares.
Uma trégua de uma semana em novembro permitiu a troca de mais de 100 reféns por prisioneiros palestinos detidos em Israel. Analistas acreditam que 132 permanecem em cativeiro em Gaza e que 29 deles morreram.
Os bombardeios e as operações de represália israelenses em Gaza mataram pelo menos 27.947 pessoas, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Hamas, uma organização classificada como terrorista por União Europeia e Estados Unidos.
O Exército israelense afirmou que, na quinta-feira, aconteceram combates em toda Faixa de Gaza e que 15 "terroristas" morreram em Khan Yunis.
Nesta sexta-feira, o diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini, voltou a pedir um "cessar-fogo humanitário".
"Mais de meio milhão de meninos e meninas não frequentam mais a escola em Gaza (...) Estão roubando a infância", escreveu na rede social X.
No campo diplomático, um "novo ciclo de negociações", com mediação do Egito e do Catar, e com a participação do Hamas, começou na quinta-feira, no Cairo, com o objetivo de alcançar uma "calma na Faixa de Gaza" de várias semanas e uma troca de prisioneiros palestinos por reféns que estão sob poder do movimento islamista, segundo uma fonte egípcia.
Uma fonte próxima à direção do Hamas afirmou que as negociações serão "difíceis", mas que o movimento islamista "está aberto a conversas e deseja obter um cessar-fogo".
A guerra em Gaza também exacerbou as tensões no Líbano, no Iraque, na Síria e no Iêmen, onde grupos apoiados pelo Irã executaram ataques em apoio ao Hamas. Essa ofensiva provocou represálias por parte de Israel, Estados Unidos e seus aliados.
O norte de Israel foi atingido por quase 30 foguetes lançados do sul do Líbano, depois de um ataque israelense contra um integrante de alto escalão do grupo Hezbollah que ficou gravemente ferido.