Bandeira de Israel 10/05/2018 REUTERS/Ronen Zvulun (Ronen Zvulun/Reuters)
Publicado em 23 de março de 2025 às 17h45.
Em uma ofensiva cruzada, o governo de Israel avançou com agendas de interesse da extrema direita do país neste domingo. No âmbito internacional, o Estado judeu anunciou a criação de uma estrutura administrativa especial para promover a "saída voluntária" de palestinos da Faixa de Gaza — medida com potencial de operacionalizar o plano de limpeza do enclave, sugerido pelo presidente americano, Donald Trump —, enquanto, internamente, o Gabinete de ministros aprovou um voto de desconfiança contra a procuradora-geral Gali Baharav-Miara, que recentemente se posicionou criticamente quanto à decisão do premier, Benjamin Netanyahu, de demitir o diretor do Shin Bet, Ronen Bar — movimento que foi apontado por especialistas como uma tentativa de concentração de poder no Executivo.
O plano para Gaza foi apresentado pelo ministro da Defesa, Israel Katz, que descreveu a criação de um órgão de administração dedicado à "saída voluntária de habitantes da Faixa de Gaza para um terceiro país", sob autoridade de sua pasta. Katz não mencionou para onde os palestinos seriam enviados, mas sugeriu que "organizações internacionais" poderiam cooperar no processo para "garantir passagem segura".
Embora tenha ganhado impulso com Trump, a ideia de retirar a população palestina era uma proposta marginal que subsistia entre setores da extrema direita israelense, sobretudo figuras que almejam a anexação dos territórios palestinos. O próprio Katz defendeu na sexta-feira o avanço do plano do líder americano pelos meios de pressão possíveis e a anexação de partes de Gaza.
A criação de uma estrutura administrativa para executar o projeto havia sido mencionada nas últimas semanas pelo ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, principal figura do partido extremista Sionismo Religioso.
— Esse plano ganha forma em coordenação com o governo americano — disse o ministro, no começo do mês.
A ONG Paz Agora denunciou "a expulsão" de palestinos por meio da criação do órgão administrativo como uma "mancha indelével no Estado israelense", e que o país na prática "reconhece que comete crimes de guerra".
O avanço das pautas da extrema direita israelense em Gaza, incluindo a retomada da guerra, acontece em um momento em que Netanyahu se fecha com os aliados mais radicais de sua coalizão, à medida que a pressão da sociedade civil cresce contra ele. As medidas linha-dura atraíram de volta para a coalizão de governo o líder extremista Itamar Ben Gvir, do Poder Judaico, que havia abandonado a formação com a suspensão da guerra.
Além da pressão das ruas, Netanyahu também é alvo de investigações ativas relacionadas a uma série de questões, sendo réu em um processo em que é acusado de suborno, fraude e abuso de confiança. Diante da pressão das autoridades, o premier parece ter encampado uma cruzada pessoal contra as instituições do país, sobretudo ligadas ao Judiciário e ao sistema penal, que acusa de perseguição.
Na medida mais recente, neste domingo, o governo chefiado por Netanyahu aprovou um voto de desconfiança contra a procuradora-geral de Israel, Gali Baharav-Miara, na primeira etapa de um processo que busca a destituição da autoridade — o que seria um desfecho sem precedentes no Estado judeu.
"O governo israelense aprovou por unanimidade uma decisão sem precedentes proposta pelo (...) ministro da Justiça, Yariv Levin, que expressou sua falta de confiança na Conselheira Jurídica do governo, Gali Baharav-Miara", afirmou em um comunicadon argumentando que a procuradora manteve uma "conduta inapropriada" e manteve "importantes e prolongados desentendimentos" com o governo, "impedindo uma cooperação eficaz".
A decisão do Gabinete de Governo ocorre poucos dias após o mesmo órgão ter tentado destituir o diretor dos serviço de inteligência e segurança interna, o Shin Bet, Ronen Bar. A decisão foi barrada pela Corte Suprema de Israel, mas a procuradora-geral havia se manifestado previamente contra a tentativa do governo, afirmando que seria necessário obter autorização do mesmo órgão que aprovou a nomeação do diretor em 2021, o Comitê Consultivo de Nomeações Sênior.
Na frente de guerra, Israel lançou neste domingo uma ofensiva em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, enquanto mantinha suas operações no norte, cinco dias após romper uma trégua com o Hamas. Paralelamente, também ealizou novos ataques no Líbano, nos quais uma pessoa morreu, segundo fontes oficiais. Na véspera, oito pessoas foram mortas por bombardeios israelenses, segundo autoridades. O governo afirmou que esses ataques são uma "resposta" aos lançamentos de foguetes contra seu território, depois que seu exército interceptou projéteis lançados do Líbano.