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Israel ataca complexo militar do Irã e intercepta mísseis iranianos

Sirenes são ouvidas na capital israelense e Irã reativa defesa aérea em Teerã

Conflito entre Irã e Israel continua nesta segunda-feira, 23 (MENAHEM KAHANA / Colaborador/Getty Images)

Conflito entre Irã e Israel continua nesta segunda-feira, 23 (MENAHEM KAHANA / Colaborador/Getty Images)

Publicado em 22 de junho de 2025 às 21h59.

Última atualização em 22 de junho de 2025 às 22h52.

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Ataques aéreos israelenses atingiram um grande complexo militar iraniano, a sudeste de Teerã, na segunda-feira, 23, horário local, de acordo com mídia estatal Nour News e a Reuters.

Esse ataque, no entanto, já era esperado, segundo Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador da Universidade de Harvard.

“Israel tem atacado alvos militares desde o primeiro dia de ofensiva”, afirma o professor da UFF, que reforça que a grande preocupação agora está na resposta do Irã, que reativa defesa aérea em Teerã.

No mesmo período, sirenes foram ouvidas em Tel Aviv, em Israel, indicando que forças israelenses detectaram mísseis do Irã em direção ao país. Essa pode ser uma das respostas do Irã a Israel, e pode ser aos Estados Unidos também.

Neste domingo, 22, durante a reunião emergencial de Segurança da ONU, o embaixador do Conselho de Segurança do Irã, Amir Saeid Iravani, (que é a mais alta autoridade iraniana em solo americano) declarou que o país decidirá "o momento, a natureza e a escala da resposta proporcional aos Estados Unidos”.

Nenhum dos ataques são inesperados

Os ataques realizados por Israel são vistos como uma tentativa de retardar o programa nuclear do Irã, afirma Brustolin. Estimativas de inteligência dos Estados Unidos apontam que esses ataques poderiam atrasar o avanço do programa em até seis meses, afirma o pesquisador de Harvard - que reforça que os Estados Unidos atacaram com outro objetivo.

"A intenção dos Estados Unidos não é retardar, mas eliminar o programa nuclear iraniano”, diz.

Apesar dos ataques, o Irã não apresentou sinais de vazamentos significativos de radiação nas áreas afetadas, o que indica que o país conseguiu retirar os 408 quilos de urânio enriquecido a 60% de suas instalações.

"O Irã poderia retomar o enriquecimento do urânio em outras instalações, mas isso dependeria do acesso a informações de inteligência detalhadas para identificar quais locais estariam sendo utilizados", afirma Brustolin.

O conflito, portanto, continua e o desfecho é incerto e dependerá muito da resposta iraniana, afirma Brustolin.

As consequências da reposta iraniana

A escalada do conflito não afeta apenas os países diretamente envolvidos. Os países do Golfo, como Arábia Saudita, Bahrein, Kuwait, Qatar e Emirados Árabes Unidos, elevaram o nível de alerta e reforçaram a segurança, com alguns até iniciando a preparação de abrigos públicos. "Esses países, que recebem apoio militar dos Estados Unidos, se posicionam como possíveis alvos em retaliações iranianas", afirma Brustolin.

Caso o Irã decida retalhar diretamente os EUA em território americano ou em locais com bases americanas, isso desencadearia uma resposta militar americana, afirma o professor. "Se o Irã atacar os Estados Unidos poderia ampliar o conflito para uma guerra em larga escala", afirma.

No entanto, o professor também destaca que o cenário de guerra total é algo que o Irã procura evitar. "Embora o Irã tenha resistência e força militar consideráveis, ele sabe que um confronto com os Estados Unidos teria um custo altíssimo", diz Brustolin, se referindo à experiência dos EUA no Afeganistão e no Iraque, onde os custos e as consequências dessas intervenções foram catastróficos.

Diplomacia: uma saída possível 

A escalada do programa nuclear iraniano e os recentes ataques aéreos indicam que as tensões não devem diminuir em breve. "O Irã tem uma posição estratégica e busca projetar sua força, mas qualquer erro estratégico pode envolver o mundo em um conflito global", afirma. Brustolin.

O especialista ainda ressalta que, dada a complexidade das alianças regionais e internacionais, a situação exige uma diplomacia cautelosa para evitar que o Oriente Médio se torne o centro de uma nova guerra de grandes proporções.

Durante a reunião da ONU realizada de forma emergencial neste domingo, 22, Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, pediu aos membros da ONU que ajam com calma, reforçando a necessidade de um processo diplomático para resolver o impasse.

"Estamos diante de um momento perigoso. O povo não suportará outro ciclo de destruição. A segurança dos civis e a navegação marítima precisam ser garantidas”, disse Guterres.

A história do investimento nuclear iraniano

A origem do programa nuclear no Irã remonta a 1950, com o apoio dos EUA na iniciativa "Átomos para a Paz", promovida pela ONU. No entanto, o impacto da Revolução Islâmica de 1979 interrompeu esse apoio, gerando uma suspensão das atividades nucleares iranianas, que recomeçaram discretamente no final dos anos 1980 com a ajuda da China e do Paquistão.

“No decorrer das décadas, a participação de potências como a Rússia e a China tornou-se mais evidente, especialmente com o fornecimento de tecnologia de enriquecimento de urânio e reatores nucleares”, afirma o pesquisador na Universidade de Harvard.

A situação se tornou ainda mais tensa com a revelação de instalações secretas de enriquecimento, como as de Matanz, em 2002, e a escalada das atividades nucleares do país.

“Apesar da alegação iraniana de um programa pacífico, a descoberta de urânio enriquecido a 83,7% – muito próximo do nível necessário para a fabricação de armas nucleares – eleva as suspeitas sobre as intenções do país”, afirma Brustolin.

A dinâmica mudou com o acordo nuclear de 2015, no governo Obama, que visava conter o programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções internacionais. No entanto, com a retirada dos Estados Unidos do acordo em 2018, o Irã voltou a enriquecer urânio a níveis alarmantes, levando a uma intensificação das tensões com o Ocidente.

Na última semana, após combates aéreos entre Israel e Irã, os Estados Unidos decidiram entrar no conflito, como aliado de Israel para destruir alvos nucleares iranianos. Na reunião realizada neste domingo, 22, de forma emergencial na sede da ONU mostra que o conflito no Oriente Médio apenas começou e o fim ainda é incerto. 

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