Manifestação palestina: ao menos 140 países reconhecerão o Estado palestino independente nas Nações Unidas no final do mês (Said Khatib/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2011 às 11h35.
Jerusalém - Israel sabe que não conseguirá um amplo apoio contra uma resolução na Assembleia Geral da ONU pelo reconhecimento de um Estado palestino, mas espera pelo menos obter um voto favorável de peso dos Estados Unidos e da União Europeia (UE).
Ao menos 140 países reconhecerão o Estado palestino independente nas Nações Unidas no final do mês, quando os palestinos solicitarem o apoio internacional a essa reivindicação, revelou o negociador palestino Nabil Shaath no domingo.
O embaixador israelense na ONU, Ron Prosor, considerado um dos diplomatas mais experientes do país, alertou recentemente à Chancelaria israelense em uma mensagem sigilosa que Israel não tinha nenhuma opção para frear o reconhecimento do Estado palestino.
Segundo o jornal Ha'aretz, em um relatório Prosor previu um resultado pouco favorável para seu país e expôs uma visão pessimista sobre a capacidade do país em influir nos resultados de uma eventual votação.
"O máximo que podemos aspirar (em uma votação na ONU) é que um grupo de Estados se abstenha ou esteja ausente na hora de votar", redigiu Prosor, acrescentando que seus comentários se baseiam em mais de 60 encontros que manteve nas últimas semanas com diplomatas em Nova York.
A opinião é compartilhada pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, Yigal Palmor, para quem "os palestinos têm uma maioria automática garantida na ONU seja qual for sua proposta".
No entanto, Palmor destacou que "a pergunta é como vão votar os países que estão verdadeiramente implicados no que ocorre no Oriente Médio e cuja voz conta de verdade", aos quais Israel tenta convencer a não apoiar a resolução.
O enfoque do Estado judeu sobre a campanha palestina em busca de reconhecimento, seja para um Estado membro pleno da ONU ou um que não integre a organização, segue invariável e consiste na rejeição plena a qualquer resolução nesse sentido, ao considerá-la "perigosa e desestabilizadora".
"Os palestinos vão acordar no dia seguinte muito satisfeitos com a votação, mas vão se dar conta de que nada vai mudar em sua vida. Com a decepção e a frustração, e inspirados na Primavera Árabe, podem partir para a violência", alerta Palmor.
Eran Shayshon, analista e líder da equipe de Segurança Nacional do Instituto Reut, explica que a preocupação de Israel é que se estabeleça um Estado palestino sem as regras de segurança firmadas com seu país.
Entre os temores do Executivo israelense está que as fronteiras sejam decididas de forma unilateral, ou que Israel se transforme em um país isolado internacionalmente.
Na opinião do analista, o pior cenário que poderia enfrentar após setembro é que ocorra uma revolta popular palestina e "seja preciso retomar responsabilidades na Cisjordânia".
Shayshon sustenta que diante do esperado apoio internacional à campanha palestina, "a batalha foca-se no apoio americano e europeu".
Outro dos debates que surgiram em círculos diplomáticos é quem representará Israel nesta árdua missão na ONU.
Fontes do gabinete do primeiro-ministro disseram que Benjamin Netanyahu está estudando a possibilidade de não participar da Assembleia Geral nesta ocasião e enviar em seu lugar o presidente, Shimon Peres, que já representou Israel neste fórum no ano passado e conta com prestígio internacional.
No entanto, já há quem seja contra essa medida e, segundo diplomatas estrangeiros pró-Israel em Nova York, enviar Peres poderia chegar a ser contraproducente e desembocar em um aumento do apoio à reivindicação palestina.
O porta-voz da Chancelaria israelense prefere não entrar em especulações, mas deixa claro que as opções são Netanyahu, Peres ou em ministro das Relações Exteriores, o ultradireitista Avigdor Lieberman, já que o país não espera enviar um representante de menor categoria.