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Como a Islândia se tornou o melhor país do mundo para mulheres

Em 1975, 90% das islandesas entraram em greve em prol da igualdade. 40 anos depois, país celebra o oitavo ano consecutivo como o mais igualitário do mundo

Pela oitava vez consecutiva, a Islândia reinou soberana como o país mais igualitário do mundo (JimmyLung/Thinkstock)

Pela oitava vez consecutiva, a Islândia reinou soberana como o país mais igualitário do mundo (JimmyLung/Thinkstock)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 26 de outubro de 2016 às 13h14.

Última atualização em 7 de março de 2017 às 16h27.

São Paulo – Em 24 de outubro de 1975, 90% as islandesas se recusaram a executar qualquer tipo de tarefa, fosse no ambiente corporativo ou em casa. Com o objetivo de mostrar sua relevância para a força de trabalho e o funcionamento da Islândia, elas simplesmente pararam.

Quatro décadas depois, a Islândia celebra o oitavo ano consecutivo de seu reinado como o melhor e mais igualitário país do planeta para mulheres e a comunidade internacional observa com atenção as ações que trouxeram essa pequena ilha nórdica ao topo desse ranking anual produzido pelo Fórum Econômico Mundial.

A edição 2016 do Relatório Anual de Desigualdade de Gênero mostrou que a Islândia está próxima de atingir a igualdade plena entre homens em mulheres nos quatro pilares avaliados (Participação Econômica e Oportunidade, Acesso à Educação, Saúde e Sobrevivência e Empoderamento Político). 87% da lacuna está fechada e esse é um dos países que registram os avanços mais rápidos entre os 144 investigados pelo estudo.

Mas como, afinal, a Islândia chegou até aqui?

A história das mulheres e a luta por direitos iguais na Islândia não é de hoje. Um dos primeiros marcos veio em 1850, quando elas conquistaram os mesmos direitos de herança reservados aos homens. Foi nessa época que também passaram a ter o direito a educação.

O direito ao voto e à disputa por cargos eletivos no poder público vieram pouco depois, nos idos de 1900. Nos anos 70, vieram as conquistas no campo da saúde reprodutiva, com uma nova lei sobre aborto e saúde da mulher. No mesmo ano em que a grande greve aconteceu, três meses depois dela, nascia a primeira lei de licença maternidade.

As conquistas não pararam por aí e não demorou até que alguns resultados interessantes fossem observados. Em 1980, Vigdis Finnbogadottir se tornaria a primeira presidente mulher da Islândia e da Europa, além de ser a primeira mulher eleita democraticamente para esse cargo em todo o mundo.

Nos últimos anos, medidas importantes de promoção da igualdade entraram em vigor e contribuíram positivamente para o cenário no país. Uma delas foi a estipulação de um sistema de cotas que prevê que a proporção de mulheres e homens em órgãos públicos não seja menor que 40% para ambos os sexos. Isso vale também para as empresas com mais de 50 funcionários.

A licença concedida aos pais, biológicos ou não, é outro ingrediente essencial na receita de sucesso da Islândia. Cada responsável tem direito a três meses de licença e outros três que podem ser usados livremente pelo casal. Ao todo, são nove meses. Essa inovação veio no início dos anos 2000 e deu tão certo que o governo agora estuda estender para 12 meses esse período.

Desde então, a Islândia acumula bons resultados em indicadores importantes de qualidade de vida e igualdade de gênero, é claro. Segundo a Comissão Europeia, em um estudo sobre a Islândia, 77% das mulheres estão hoje empregadas (a média nos países da União Europeia é de 58,6%) e 33,7% delas completaram a educação superior (contra 25,8% da média na UE).

No que diz respeito ao acesso à educação, mostrou o relatório do Fórum Econômico Mundial, a lacuna entre homens e mulheres está completamente fechada, assim como também está resolvida no que diz respeito à participação delas na política.

Desafios

O panorama na Islândia é invejável frente aos outros países do mundo. No entanto, a situação ainda não é a ideal. Ainda sobre o estudo da entidade, o país tem um longo caminho a percorrer no aspecto econômico. A pesquisa notou que a desigualdade salarial entre os islandeses e islandesas que executam o mesmo trabalho persiste, embora o país seja dono do maior índice do mundo de participação feminina na força de trabalho.

Essa falha não é novidade na Islândia, sendo uma das razões que motivou a grande greve em 1975 e motivo de uma nova nesta semana. Hoje, estima-se que os salários das mulheres islandesas seja até 17% menor que os dos homens nas mesmas funções. De acordo com os sindicatos do país, isso significa que elas trabalham de graça diariamente a partir das 14h38.

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