Alguns moradores de outras províncias chegaram a fretar ônibus para comparecer à manifestação (Mahmud Hams/AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2012 às 21h05.
Cairo - As forças islâmicas egípcias mostraram nesta sexta-feira seu poder de convocação com uma grande manifestação na praça Tahrir, no Cairo, para rejeitar a entrada na corrida à oresidência de candidatos ligados ao antigo regime.
Dezenas de milhares de pessoas, em sua maioria seguidores da Irmandade Muçulmana e de grupos salafistas, se reuniram na emblemática praça entre palavras de ordem contra o ex-vice-presidente Omar Suleiman, a quem denominaram 'o candidato dos sionistas', e o ex-primeiro ministro Ahmed Shafiq.
Esses dois remanescentes da era de Hosni Mubarak estão participando da disputa eleitoral, o que despertou uma grande polêmica no Egito e mobilizou em massa os islamitas. Alguns moradores de outras províncias chegaram a fretar ônibus para comparecer à manifestação.
Na praça Tahrir predominaram as bandeiras e cartazes da Irmandade Muçulmana e de seu braço político Partido Justiça e Liberdade, assim como os cartazes em apoio à candidatura do clérigo salafista Hazem Salah Abu Ismail.
Os cânticos mais entoados eram dirigidos contra os denominados 'fulul' (remanescentes do antigo regime), embora também muitos tenham expressado sua rejeição à Junta Militar que dirige o país desde a renúncia de Mubarak, em 11 de fevereiro de 2011.
O principal alvo das críticas no protesto, como pôde constatar a reportagem da Agência Efe, foi Suleiman. 'Não ao candidato dos sionistas', dizia uma mensagem que estava em várias cartazes nos quais o rosto do ex-vice-presidente de Mubarak aparecia sob a estrela de Davi.
Um dos manifestantes, Ahmed Sobhy, afirmou à Efe que Suleiman 'é igual aos sionistas e conta com o apoio a Israel', já que durante sua época como chefe dos serviços secretos ele manteve contatos diretos com as autoridades israelenses nas negociações com os palestinos.
Embora a rejeição aos 'fulul' seja também partilhada pelas forças liberais e os grupos de jovens revolucionários, estes boicotaram a manifestação de hoje e convocaram outro protesto para a próxima sexta-feira, dia 20 de abril, em um esforço para se distanciar dos interesses dos islamitas.
A luta contra os remanescentes do antigo regime começou ontem no Parlamento, que aprovou uma emenda a uma lei para que sejam suspensos por dez anos os direitos políticos de integrantes do alto escalão governamental da era Mubarak.
Segundo o texto, esta suspensão afetaria 'todos os que trabalharam durante os dez anos anteriores ao dia 11 de fevereiro de 2011 como presidente da República, vice-presidente ou primeiro-ministro' e, se for aprovada a tempo pela Junta Militar, impediria a chegada à presidência de Suleiman e Shafiq.