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Islã é foco de debate eleitoral egípcio

A aplicação desta Carta Magna, de 1971, ficou suspensa a partir de 13 de fevereiro de 2011, após o triunfo da revolução que pôs fim ao regime de Hosni Mubarak

Aspirantes islamitas como o moderado Abdel Moneim Abul Futuh ou o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Moursi, defendem o predomínio da "sharia" (Mohammed Abed/AFP)

Aspirantes islamitas como o moderado Abdel Moneim Abul Futuh ou o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Moursi, defendem o predomínio da "sharia" (Mohammed Abed/AFP)

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Da Redação

Publicado em 18 de maio de 2012 às 20h36.

Cairo - A religião se transformou em um dos principais campos de batalha da corrida eleitoral à Presidência egípcia, na qual os candidatos se definem pelo nível de islamismo que influenciará na vida política do futuro Egito.

No foco das discussões, o modelo de Estado e a separação entre religião e política entram em destaque neste país árabe conservador, cuja última Constituição estabelecia, no artigo 2, que o islã é a religião do Estado e os princípios da "sharia" (lei islâmica) são a base da legislação.

A aplicação desta Carta Magna, de 1971, ficou suspensa a partir de 13 de fevereiro de 2011, após o triunfo da revolução que pôs fim ao regime de Hosni Mubarak. Diante da falta de um marco constitucional, a postura dos candidatos presidenciais sobre o assunto adquire uma maior relevância.

"Todos os candidatos utilizam a religião para ganhar votos, mas o grau do islã que cada um pretende botar em prática ao chegar ao poder é diferente", explicou à Agência Efe o especialista em assuntos religiosos Ibrahim Ishak.

Entre os onze candidatos que concorrerão ao pleito, as opiniões são diversas. Nesse cenário, os liberais e cristãos são os mais preocupados com o futuro do país islâmico.

Um dos favoritos à Presidência, o ex-secretário-geral da Liga Árabe Amr Moussa, se apresenta como candidato laico, apoiando a aplicação somente dos princípios gerais da "sharia" e mantendo o artigo 2 da antiga Constituição. Em seu programa eleitoral, Moussa defende que os fiéis de outras religiões professem sua própria fé.


Do mesmo modo, outros candidatos laicos, entre eles Ahmed Shafiq - último primeiro-ministro da era de Mubarak - e o nacionalista Hamden Sabahi, defendem a manutenção do artigo 2, além de um "Estado civil", conceito utilizado no Egito para diferenciar do regime religioso.

No entanto, aspirantes islamitas como o moderado Abdel Moneim Abul Futuh ou o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Moursi, defendem o predomínio da "sharia" para reger o destino do Egito.

O programa de Futuh não faz referência ao tema, mas em um documento prévio o candidato defendia que na lei islâmica "se encontra a identidade da sociedade, sua ordem pública e sua estrutura ética fundamental". Segundo Ishak, membro da Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais, o candidato argumenta que a "sharia" deve ser aplicada somente quando a sociedade esteja preparada

Enquanto isso, Mursi e Futh têm a intenção de aplicar a lei islâmica como um dos principais recursos na luta pelo voto islamita, que nas eleições legislativas demonstrou seu poder ao dar aos partidos com esta tendência três quartos das cadeiras. Com um grande apoio entre as forças islamitas, primeiro conta com o respaldo da Irmandade Muçulmana, e o segundo tem adesão de importantes grupos salafistas (ultraconservadores), assim como de parte dos ativistas revolucionários.

Para Mursi, a "sharia" é o único meio pelo qual os egípcios podem "recuperar sua dignidade". Em sua opinião, a lei islâmica garante também os direitos da minoria cristã, segundo disse neste mês durante um ato de campanha. Se chegar à Presidência, Mursi efetuaria mudanças em muitas leis para recolher restrições religiosas ou censura nas artes, previu Ishak.

Diante do papel privilegiado da religião no debate eleitoral no pleito dos próximos dias, 23 e 24 de maio, os eleitores deverão resolver até que ponto o islã deve ser a referência ou não para o presidente que construa o novo Egito. 

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