Donald Trump, presidente dos EUA, em evento de assinatura de documentos nesta quarta-feira, 30 (Anna Moneymaker/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 30 de julho de 2025 às 18h18.
Última atualização em 30 de julho de 2025 às 18h34.
A isenção do aumento de tarifas concedida pelo presidente Donald Trump a produtos brasileiros alcançará 42,3% da pauta de exportações do país, o que equivale a US$ 18,3 bilhões em produtos, avalia cálculo feito pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham).
"Embora essas exceções atenuem parcialmente os efeitos da tarifa de 50% anunciada, a Amcham reforça que ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira. Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor", diz a entidade.
Nesta quarta-feira, Trump assinou uma ordem executiva que oficializa a tarifa de importação de 50% sobre os produtos brasileiros. A medida entrará em vigor em 6 de agosto.
A ordem coloca 40% adicionais de tarifas sobre a taxa de 10% anunciada em abril, adotada para todos os países, somando 50%. Assim, os itens isentos agora ficarão com tarifa de 10%.
A medida deixou de fora do aumento uma série de produtos que o Brasil exporta aos EUA, incluindo suco de laranja, minérios, aeronaves e petróleo. A lista completa soma cerca de 700 itens.
Os itens mais beneficiados pela isenção serão os combustíveis, que movimentaram US$ 8,5 bilhões de dólares em exportações brasileiras em 2024, seguidos por aeronaves e partes (US$ 2 bilhões) e ferro e aço (US$ 1,8 bilhão), de acordo com dados da Amcham.
Os produtos preparados de frutas, que incluem suco de laranja, movimentaram US$ 990 milhões no ano passado.
Ao mesmo tempo, a taxa vai incidir sobre outros itens importantes da pauta de exportações brasileiras, como a carne e o café, o que poderá inviabilizar exportações brasileiras desses itens.
Como justificativa para o aumento, o governo americano disse que a medida é uma "resposta a políticas, práticas e ações recentes do Governo do Brasil que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos", disse a Casa Branca, em comunicado.
Em 9 de julho, Trump havia enviado uma carta pública em que anunciava a medida contra o Brasil.
"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta", disse Trump.
Além da tarifa, o presidente americano determinou uma investigação contra o Brasil por práticas comerciais desleais, com base na seção 301. O processo está andamento e deverá ser concluído nos próximos meses. Por meio dele, o Brasil poderá sofrer punições comerciais adicionais.
Nas últimas semanas, o governo brasileiro buscou negociar a nova tarifa com os Estados Unidos, mas não obteve sucesso. Apesar disso, membros do governo Lula avaliam que o espaço para negociações permanece aberto.
Para a Amcham, a nova tarifa poderá frear exportações brasileiras e precisa seguir sendo negociada. "Trata-se de medida que fragiliza as relações econômicas e comerciais entre os dois países, afetando negativamente a competitividade de suas empresas, o emprego de seus trabalhadores e o poder de compra de seus consumidores", disse a entidade, em nota.
A Amcham fez uma pesquisa com seus associados, de 24 a 30 de julho, e mais da metade das empresas disseram que aumento tarifário poderá resultar na interrupção total ou acentuada (superior a 50%) das vendas para os Estados Unidos.
O estudo também apontou que 86% das empresas defendem que o Brasil evite retaliações, pois elas "trariam potenciais efeitos negativos sobre setores que dependem de insumos, tecnologias ou equipamentos americanos, bem como prejuízos à imagem e à segurança jurídica do Brasil como destino de investimentos e negócios", disse a entidade.