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Isenção de tarifas de Trump abrange 42% das exportações brasileiras, diz Amcham

Itens beneficiados representaram US$ 18,3 bilhões em produtos no ano passado

Donald Trump, presidente dos EUA: trégua com a China termina nesta terça-feira, 12 (Anna Moneymaker/AFP)

Donald Trump, presidente dos EUA: trégua com a China termina nesta terça-feira, 12 (Anna Moneymaker/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 30 de julho de 2025 às 18h18.

Última atualização em 30 de julho de 2025 às 18h34.

A isenção do aumento de tarifas concedida pelo presidente Donald Trump a produtos brasileiros alcançará 42,3% da pauta de exportações do país, o que equivale a US$ 18,3 bilhões em produtos, avalia cálculo feito pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham).

"Embora essas exceções atenuem parcialmente os efeitos da tarifa de 50% anunciada, a Amcham reforça que ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira. Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor", diz a entidade.

Nesta quarta-feira, Trump assinou uma ordem executiva que oficializa a tarifa de importação de 50% sobre os produtos brasileiros. A medida entrará em vigor em 6 de agosto.

A ordem coloca 40% adicionais de tarifas sobre a taxa de 10% anunciada em abril, adotada para todos os países, somando 50%. Assim, os itens isentos agora ficarão com tarifa de 10%.

A medida deixou de fora do aumento uma série de produtos que o Brasil exporta aos EUA, incluindo suco de laranja, minérios, aeronaves e petróleo. A lista completa soma cerca de 700 itens.

Os itens mais beneficiados pela isenção serão os combustíveis, que movimentaram US$ 8,5 bilhões de dólares em exportações brasileiras em 2024, seguidos por aeronaves e partes (US$ 2 bilhões) e ferro e aço (US$ 1,8 bilhão), de acordo com dados da Amcham.

Os produtos preparados de frutas, que incluem suco de laranja, movimentaram US$ 990 milhões no ano passado.

Ao mesmo tempo, a taxa vai incidir sobre outros itens importantes da pauta de exportações brasileiras, como a carne e o café, o que poderá inviabilizar exportações brasileiras desses itens.

Entenda a nova tarifa de Trump

Como justificativa para o aumento, o governo americano disse que a medida é uma "resposta a políticas, práticas e ações recentes do Governo do Brasil que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos", disse a Casa Branca, em comunicado.

Em 9 de julho, Trump havia enviado uma carta pública em que anunciava a medida contra o Brasil.

"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta", disse Trump.

Além da tarifa, o presidente americano determinou uma investigação contra o Brasil por práticas comerciais desleais, com base na seção 301. O processo está andamento e deverá ser concluído nos próximos meses. Por meio dele, o Brasil poderá sofrer punições comerciais adicionais.

Nas últimas semanas, o governo brasileiro buscou negociar a nova tarifa com os Estados Unidos, mas não obteve sucesso. Apesar disso, membros do governo Lula avaliam que o espaço para negociações permanece aberto.

Para a Amcham, a nova tarifa poderá frear exportações brasileiras e precisa seguir sendo negociada. "Trata-se de medida que fragiliza as relações econômicas e comerciais entre os dois países, afetando negativamente a competitividade de suas empresas, o emprego de seus trabalhadores e o poder de compra de seus consumidores", disse a entidade, em nota.

A Amcham fez uma pesquisa com seus associados, de 24 a 30 de julho, e mais da metade das empresas disseram que aumento tarifário poderá resultar na interrupção total ou acentuada (superior a 50%) das vendas para os Estados Unidos.

O estudo também apontou que 86% das empresas defendem que o Brasil evite retaliações, pois elas "trariam potenciais efeitos negativos sobre setores que dependem de insumos, tecnologias ou equipamentos americanos, bem como prejuízos à imagem e à segurança jurídica do Brasil como destino de investimentos e negócios", disse a entidade.

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