No próximo ano haverá recorde de cadeiras ocupadas por representantes da comunidade LGBTI+ no Congresso e nas Assembleias estaduais: 18, ao menos, sendo 16 mulheres – 5 delas trans ou travestis – e 14 pessoas negras. (Marc Bruxelle/EyeEm/Getty Images)
AFP
Publicado em 22 de outubro de 2019 às 06h41.
Última atualização em 22 de outubro de 2019 às 06h51.
O aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo foram legalizados na Irlanda do Norte por decisão do Parlamento britânico, apesar de uma última tentativa simbólica da oposição, lançada por deputados da Assembleia regional norte-irlandesa.
Ao contrário do resto do Reino Unido, onde o aborto é autorizado desde 1967, na Irlanda é ilegal, exceto no caso da gravidez ameaçar a vida da mãe. O casamento entre pessoas do mesmo sexo também era proibido.
Sem Executivo regional desde 2017, por conta de um escândalo político-financeiro, os temas cotidianos da Irlanda do Norte são geridos de Londres.
Por conta desta situação, em julho passado, os deputados britânicos aprovaram emendas para estender à província o direito ao aborto e ao casamento homossexual se não se formasse um governo até 21 de outubro. Como isso não aconteceu, entraram em vigor a partir do primeiro minuto desta terça-feira (20H00 de segunda-feira em Brasília).
Os primeiros casamentos entre pessoas do mesmo sexo serão realizados "o mais tardar" durante "a Semana dos Namorados de 2020", de acordo com o secretário de Estado da Irlanda do Norte, Julian Smith.
Hoje é "o dia em que nos despedimos das leis opressivas do aborto que controlaram nossos corpos e nos rejeitaram o direito de decidir", comemorou Grainne Teggart, encarregada desta campanha na Anistia Internacional na Irlanda do Norte, em seu perfil no Twitter.
THIS IS IT, the day we say bye to oppressive abortion laws that have policed our bodies & denied us choice. At midnight 158yr old abortion ban will finally be lifted & this healthcare decriminalised. #FreeSafeLegalLocal services will soon be reality #TheNorthIsNow - it really is pic.twitter.com/uYoytE4e0A
— Grainne Teggart (@GTeggart) October 21, 2019
Num ato simbólico contra a adoção dessas medidas, alguns deputados do parlamento regional norte-irlandês voltaram ao plenário na segunda-feira, pela primeira vez em dois anos e meio.
Entre os deputados presentes, a maioria pertencia ao Partido Unionista Democrático ultra-conservador (DUP), liderado pela ex-chefe do governo regional Arlene Foster, que se opõe a menor flexibilização dessas questões.
"É um dia triste", declarou Foster à imprensa após uma curta sessão parlamentar.
"Sei que algumas pessoas vão querer comemorar hoje e digo a elas: 'pense naqueles que estão tristes hoje e que acreditam ser uma afronta à dignidade e à vida humana", afirmou Foster.
Em frente o parlamento norte-irlandês, um grupo de ativistas contrárias ao aborto criticavam a aprovação da medida e exibiam cartazes onde podia-se ler: "Aborto? Não no meu nome".
"Foi o governo de Westminster que impôs a legislação, não foi o governo que escolhemos aqui ", então isso é antidemocrático e incorreto"", disse à AFP Bernadette Smyth, diretora do grupo Precious Life Northern Ireland.
Trevor Lunn, deputado da Aliança MLA, atribuiu aos deputados que foram ao Parlamento apenas "para tentar negar às mulheres e à comunidade LGTBQ os direitos que tem garantidos no resto do Reino Unido".
Do lado de fora do Parlamento, também havia um grupo pró-aborto que exibia grandes letras brancas que formavam a palavra "Descriminalizado".