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Irã suspende cooperação com agência atômica da ONU e exige garantias de segurança para cientistas

Medida deixa AIEA sem acesso ao trabalho nuclear iraniano após os ataques dos EUA e de Israel; Teerã também considera proibir entrada do diretor do órgão no país

O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, dá uma entrevista coletiva em Teerã  (ATTA KENARE / AFP)

O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, dá uma entrevista coletiva em Teerã (ATTA KENARE / AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 2 de julho de 2025 às 14h01.

Última atualização em 2 de julho de 2025 às 14h10.

O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, sancionou nesta quarta-feira, 2, uma lei aprovada pelo Parlamento que suspende a cooperação do país com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão das Nações Unidas responsável por monitorar programas nucleares pelo mundo.

A medida impede o acesso de inspetores internacionais às principais instalações nucleares iranianas, bombardeadas no mês passado por Estados Unidos e Israel, e reacende a crise em torno do programa atômico da República Islâmica.

Com a decisão, que já havia sido sinalizada por autoridades iranianas na semana passada, a AIEA não deverá conseguir inspecionar, sem a aprovação prévia do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, qualquer trabalho nuclear que Teerã consiga retomar.

A organização também deverá ser incapaz de verificar a localização do grande estoque de urânio já enriquecido no país. Segundo a lei aprovada, a suspensão valerá até que sejam dadas garantias de segurança às instalações nucleares do Irã e a seus cientistas.

Na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores do Irã já havia afirmado que o chefe da AIEA, Rafael Grossi — duramente criticado por Teerã por não condenar os ataques de Israel e dos Estados Unidos durante o conflito — não é mais bem-vindo no país. Autoridades iranianas também criticam Grossi por conta de uma resolução aprovada em 12 de junho pelo conselho da AIEA que acusa Teerã de não cumprir suas obrigações nucleares.

Na avaliação do Irã, o documento foi uma das “desculpas” usadas por Israel para iniciar os ataques.

Lideranças iranianas ainda rejeitaram um pedido de Grossi para visitar as instalações nucleares bombardeadas durante a guerra, com o chanceler do Irã, Abbas Araghchi, afirmando no X que a insistência do argentino em conferir os locais “sob o pretexto das salvaguardas é sem sentido e possivelmente mal-intencionada”.

Ele acrescentou que seu país reserva “o direito de tomar todas as medidas necessárias em defesa de seus interesses, de seu povo e de sua soberania”.

No início da semana, Pezeshkian criticou a conduta “destrutiva” de Grossi, enquanto França, Alemanha e Reino Unido condenaram “ameaças não especificadas” contra o chefe da AIEA — uma reação que foi manifestada após o jornal ultraconservador iraniano Kayhan afirmar que documentos provavam que Grossi era um espião de Israel e que deveria ser executado.

O Irã, porém, insiste que nenhuma ameaça foi feita contra Grossi ou contra os inspetores da agência.

Um porta-voz da AIEA disse que está ciente dos relatos, mas que “aguarda informações oficiais adicionais do Irã” sobre a suspensão da cooperação, publicou o Wall Street Journal.

A agência ainda mantém uma equipe de inspetores no Irã, mas eles estão impossibilitados de trabalhar desde o ataque de Israel em 13 de junho.

Entraves nas negociações

A medida anunciada nesta quarta-feira pelo governo iraniano pode complicar ainda mais uma eventual retomada das negociações nucleares entre Irã e Estados Unidos. O presidente americano, Donald Trump, sinalizou que está aberto ao diálogo, enquanto Teerã disse querer que Washington se comprometa a não realizar novos ataques militares antes de considerar o retorno às negociações.

O rompimento de Teerã com a AIEA ocorre após os ataques coordenados de Israel e dos EUA contra centros nucleares estratégicos do Irã, como as instalações subterrâneas de Fordow, os complexos de Natanz e Isfahan, e alvos militares de alto escalão. Segundo o Irã, ao menos 935 pessoas morreram nos bombardeios — entre elas 132 mulheres e 38 crianças — e diversos cientistas e comandantes militares foram assassinados.

Em resposta, o Irã lançou uma série de ataques com mísseis e drones contra o território israelense, matando ao menos 28 pessoas. O conflito de 12 dias terminou em 24 de junho com um cessar-fogo anunciado pelo líder americano nas redes sociais — e agora agências de Inteligência ocidentais avaliam a extensão dos danos às instalações nucleares iranianas, que, segundo Trump, foram “obliteradas” pelos ataques.

O endurecimento iraniano com a agência da ONU provocou reações imediatas no Ocidente, que tem feito apelos crescentes para que o Irã não feche o acesso aos inspetores da AIEA. Ministros das Relações Exteriores do G7, incluindo o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, exigem acesso irrestrito da agência da ONU às instalações, além de informações verificáveis sobre todas as atividades e materiais nucleares do país, como condição essencial para qualquer solução diplomática.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, pediu que os países europeus restabeleçam todas as sanções internacionais suspensas pelo acordo nuclear de 2015, afirmando que “a comunidade internacional precisa agir com firmeza e usar todos os meios à sua disposição para impedir as ambições nucleares iranianas”. O Irã alertou que, se isso ocorrer, poderá deixar o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), compromisso que apenas a Coreia do Norte abandonou até hoje.

Durante o conflito, Grossi disse ser urgente que os inspetores tivessem acesso às instalações bombardeadas no Irã para avaliar os danos e garantir sua segurança. Outra prioridade, segundo ele, é determinar a localização e o estado do estoque iraniano de urânio — especialmente os mais de 400 quilos de urânio altamente enriquecido, o suficiente para abastecer dez armas nucleares, segundo especialistas.

Enquanto isso, Teerã — que nega ter como objetivo o desenvolvimento de armamentos nucleares — segue trabalhando para restaurar suas instalações danificadas. Em entrevista à CBS News, o chanceler Araghchi reconheceu a extensão dos estragos provocados durante a guerra, mas disse que a tecnologia iraniana não será “aniquilada por bombas”.

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