O cientista iraniano Mohsen Fakhrizadeh, uma das principais autoridades nucleares do país, em foto de 23 de janeiro de 2019 (AFP/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2020 às 06h00.
O governo do Irã deve anunciar nesta segunda-feira, 30, medidas de retaliação a Israel pela morte de um dos principais cientistas do programa nuclear iraniano, Mohsen Fakhrizadeh.
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Mohsen Fakhrizadeh foi assassinado nestaa sexta-feira, 28, em um ataque com carro-bomba seguido por um tiroteio contra seu veículo, segundo o ministério da Defesa iraniano, que apresentou a vítima como o diretor de seu Departamento de Pesquisa e Inovação, responsável pela "defesa antiatômica", entre outras questões.
O Irã atribui a Israel a morte de Fakhrizadeh, que deve ser enterrado numa cerimônia nesta segunda-feira.
No Parlamento iraniano, os deputados assinaram um texto que pede vingança à morte do cientista e a aprovação de uma lei com a qual o Irã impediria a inspeção de suas instalações nucleares pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Israel o considerava o diretor de um programa nuclear militar secreto cuja existência sempre foi negada por Teerã.
Depois de uma cerimônia especial em dois dos principais locais sagrados xiitas do Irã (em Mashhad, no nordeste do país, e em Qom, na região central), o corpo de Fakhrizadeh deve ser transportado até o mausoléu do Imã Khomeini em Teerã para uma nova homenagem. De acordo com a televisão estatal, o funeral está previsto para segunda-feira em Qom.
O governo do Irã acusou Israel de estar por trás da morte de Fakhrizadeh. O presidente iraniano, Hassan Rohani, disse que Israel busca semear o "caos" e prometeu uma resposta "no devido tempo", mas também advertiu que o Irã não cairia na "armadilha" preparada por Israel.
Desde o anúncio da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais americanas, Rohani multiplicou os sinais de abertura que mostram sua vontade de salvar o que for possível do acordo nuclear, abandonado pelo presidente americano Donald Trump em 2018.
Este pacto internacional oferece a Teerã uma flexibilização das sanções internacionais em troca de garantias, verificadas pela AIEA, que certifiquem o caráter exclusivamente pacífico de seu programa nuclear.
As sanções impostas por Washington levaram a economia iraniana a uma dura recessão e o país suspendeu o cumprimento da maioria de seus compromissos, mas não o acesso aos inspetores da AIEA.
Biden afirmou que deseja o retorno dos Estados Unidos ao acordo de Viena. Mas terá pouco tempo entre sua posse (20 de janeiro) e as eleições presidenciais iranianas (18 de junho).
Os conservadores são favoritos nas eleições após sua grande vitória nas legislativas de fevereiro, derrotando a aliança de moderados e reformistas que apoiam Rohani.
O presidente do Parlamento, Mohammad-Bagher Ghalibaf, pediu neste domingo "uma forte reação" que assegure "dissuasão e vingança".
Um comunicado assinado por todos os deputados afirma que "melhor resposta" aos atos de "terrorismo e sabotagem" de Israel, Estados Unidos e seus aliados é "reviver a gloriosa indústria nuclear do Irã", parando de aplicar o protocolo adicional da AIEA.
Com base o acordo de Viena, Teerã aceitou cumprir os requisitos do documento, que prevê o acesso ilimitado dos inspetores da AIEA a suas instalações nucleares, inclusive antes da ratificação pelo Parlamento.
De acordo com a rede americana CNN, o governo do Irã não demonstrou evidências do envolvimento de Israel na morte de Fakhrizadeh.
No fim de semana, um ministro do governo de Benjamin Netanyahu disse na tevê israelense "não ter ideia" de quem possa estar por trás do ataque, que considerou "bastante embaraçoso" para o governo do Irã.
A morte de Fakhrizadeh é a segunda em 2020 de uma autoridade de alta patente iraniana. Em janeiro, Qasem Soleimani, líder da Guarda Revolucionária Islâmica, uma das principais unidades militares iranianas, foi assassinado durante visita a tropas do país estacionadas no Iraque. Também atribuído a Israel, o ataque desencadeou o disparo de mísseis entre os dois países.