Netanyahu: Israel realizou ataques contra quase todas as bases iraquianas na Síria (Sergei Ilnitsky/Reuters)
EFE
Publicado em 10 de maio de 2018 às 14h05.
Última atualização em 10 de maio de 2018 às 15h03.
Israel anunciou nesta quinta-feira (10) que bombardeou quase todas as infraestruturas iranianas na Síria, em represália por disparos de foguetes contra suas posições no Golã, atribuídos ao Irã, em uma escalada da tensão entre os dois países inimigos.
Os ataques noturnos mataram pelo menos 23 combatentes (cinco soldados sírios e 18 membros das forças aliadas ao regime), informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma ONG que tem uma ampla rede de fontes na Síria.
Nada permite determinar no momento se este foi um ataque pontual, ou o início de uma escalada militar, em um momento de grande tensão após várias ações israelenses contra alvos iranianos na Síria e a decisão do governo dos Estados Unidos de abandonar o acordo nuclear com o Irã, o que Israel desejava há muito tempo.
Mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, justificou que o Irã cruzou "uma linha vermelha" ao disparar mísseis contra as suas forças.
"Nossa reação foi consequência disso", explicou em um vídeo nas redes sociais.
"Não queremos uma escalada", afirmou mais cedo o porta-voz militar israelense, o coronel Jonathan Conricus, ao mesmo tempo em que advertiu que qualquer ataque iraniano contra Israel receberá uma resposta forte.
O governo dos Estados Unidos condenou o Irã pelos ataques com mísseis contra posições israelenses nas Colinas de Golã e expressou apoio ao direito de defesa de Israel.
"Os Estados Unidos condenam os provocativos ataques com mísseis do regime iraniano a partir da Síria contra cidadãos israelenses, apoiam fortemente o direito de Israel de atuar em defesa própria", afirmou a Casa Branca em um comunicado.
"A implantação iraniana de sistemas de mísseis e foguetes ofensivos na Síria contra Israel é um desenvolvimento inaceitável e muito perigoso para todo o Oriente Médio", acrescentou.
Além disso, indicou que a Guarda Revolucionária deve "assumir plena responsabilidade pelas consequências de suas ações imprudentes", pedindo ao exército de elite iraniano e às "suas milícias, incluindo o Hezbollah, para não ir mais longe na provocação".
Para o governo da Síria, os últimos ataques israelenses contra posições iranianas em território sírio constituem uma "nova fase" na guerra.
"A entidade sionista (Israel) e aqueles que a apoiam se envolveram de maneira direta no conflito (...) Isso é um indicador (do princípio) de uma nova fase na guerra", afirmou o ministério das Relações Exteriores, citado pela agência oficial Sana.
Aliada do governo sírio de Bashar al-Assad, a Rússia pediu um diálogo entre Israel e Irã.
"Isto é uma tendência muito preocupante. Nós partimos do fato de que todos os problemas devem ser solucionados por meio do diálogo", afirmou o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, antes de destacar que Moscou advertiu Israel a evitar "todas as ações que possam ser consideradas uma provocação".
O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu uma "desescalada", enquanto o governo da Alemanha denunciou uma "grave provocação" do Irã, que permanece em silêncio.
"A escalada das últimas horas nos mostra que é realmente uma questão de guerra, ou paz", advertiu a chanceler alemã, Angela Merkel.
Israel realizou uma de suas maiores operações militares dos últimos anos e o maior ataque aéreo deste tipo contra alvos iranianos, segundo o Exército do país.
"Atacamos quase todas as infraestruturas iranianas na Síria e não devem esquecer o ditado de que 'se uma chuva cair sobre nós, uma tempestade cairá sobre eles'", afirmou o ministro israelense da Defesa, Avigdor Lieberman.
A operação apontou contra as posições a partir das quais, horas antes, haviam sido disparados os foguetes contra Golã e instalações dos serviços de Inteligência e logística iranianas na Síria, afirmou o coronel Conricus.
De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, o Exército israelense utilizou 28 aviões e disparou 60 mísseis ar-terra, assim como mais de 10 mísseis táticos terra-terra a partir de seu território.
As posições israelenses nas Colinas de Golã sírias ocupadas por Israel foram alvo de 20 foguetes do tipo Fajr, ou Grad. De acordo com o porta-voz militar do país, os projéteis foram lançados após a meia-noite (18h de Brasília) pelas Brigadas Al-Qods, a força responsável pelas operações externas da Guarda Revolucionária, a unidade de elite do regime iraniano.
Os disparos não provocaram vítimas. Quatro projéteis foram interceptados pelos sistemas de defesa antiaéreos, e os outros não atingiram o território israelense.
O OSDH afirmou que dezenas de foguetes foram lançados da Síria em direção a Golã, mas não confirmou se foram disparados por forças iranianas.
Os aviões israelenses foram alvo de disparos da defesa antiaérea síria, mas todos retornaram para suas respectivas bases depois de atingirem todos os objetivos da missão, indicou o Exército.
Um correspondente da AFP constatou fortes explosões ao amanhecer desta quinta-feira na região de Damasco.
A TV estatal síria mostrou imagens "ao vivo" de disparos iluminando o céu de Damasco e de vários mísseis destruídos pelos sistemas antiaéreos.
Alguns mísseis israelenses lançados contra o território sírio atingiram bases militares, um depósito de armas e um radar militar, informou a agência oficial síria Sana, que não divulgou as localizações.
O OSDH disse à AFP que os mísseis israelenses atingiram bases que pertencem, aparentemente, "ao Hezbollah libanês, ao sudoeste da cidade de Homs e em Maadamiyat al-Cham, ao oeste de Damasco, onde há combatentes iranianos, do Hezbollah e da 4ª Brigada" do Exército sírio.
Israel permanece em "estado de alerta elevado" e os moradores de Golã receberam a instrução de permanecerem atentos às informações do comando militar.
Na terça-feira, o Exército solicitou a reabertura dos abrigos para civis.
Israel, que nos últimos meses atacou alvos iranianos em território sírio, preparava-se há semanas para possíveis represálias iranianas partindo da Síria, em particular para disparos de mísseis.
Esta é a primeira vez desde o início da guerra na Síria em 2011 e da intervenção iraniana que Israel acusa o Irã de atacá-la e afirma que não permitirá que a Síria sirva como base de operações do Irã contra seu território.