Mundo

Irã ameaça 'danos irreparáveis': como Teerã deve retaliar se EUA se unirem à guerra com Israel?

Comandantes americanos puseram tropas em alerta máximo em toda a região à medida que crescem os temores de uma guerra mais ampla

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 18 de junho de 2025 às 09h07.

Última atualização em 18 de junho de 2025 às 09h44.

Após ameaças do presidente Donald Trump, o líder suprema do Irã, aiatolá Ali Khamenei, advertiu nesta quarta-feira, 18, os EUA a não aderir ao esforço de guerra de Israel contra a República Islâmica, afirmando que isso causaria "danos irreparáveis". De acordo com autoridades americanas que revisaram relatórios de inteligência, o Irã preparou mísseis e outros equipamentos militares para ataques a bases americanas no Oriente Médio.

Autoridades americanas disseram que o Irã não precisaria de muita preparação para atacar bases americanas na região. O Exército iraniano possui bases de mísseis com fácil alcance de ataque no Bahrein, Catar e Emirados Árabes Unidos.

Comandantes puseram tropas americanas em alerta máximo em bases militares por toda a região, incluindo Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Arábia Saudita. Os Estados Unidos têm mais de 40 mil soldados destacados no Oriente Médio.

Duas autoridades iranianas indicaram que os ataques de retaliação começariam pelas bases dos EUA no Iraque e que o país teria como alvo quaisquer bases que estejam em países árabes e que participem de um ataque.

Outras autoridades disseram que, no caso de um ataque, o Irã poderia começar a minar o Estreito de Ormuz, uma tática que visa encurralar navios de guerra americanos no Golfo Pérsico.

"Nossos inimigos devem saber que não podem chegar a uma solução com ataques militares contra nós e não serão capazes de impor sua vontade ao povo iraniano", disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, em um comunicado na segunda-feira.

Araghchi disse a seus colegas europeus, em conversas telefônicas, que, se a guerra se alastrasse, a culpa recairia sobre Israel e seus principais apoiadores, de acordo com um resumo das ligações fornecido pelo Ministério das Relações Exteriores do Irã.

Apoio de milícias pró-Teerã

Se os Estados Unidos se juntarem à campanha israelense e atacarem Fordow, uma importante instalação nuclear iraniana, a milícia Houthi, apoiada por Teerã, quase certamente retomará os ataques a navios no Mar Vermelho, disseram as autoridades. Acrescentaram ainda que milícias pró-iranianas no Iraque e na Síria provavelmente tentarão atacar bases americanas nesses locais.

A perspectiva de as forças dos EUA se juntarem à guerra aumentou nos últimos dias, à medida que Israel continua sua campanha, e o Irã lançou ondas de mísseis contra Israel em resposta.

Não está claro quanto dano um ataque a Fordow causaria às capacidades nucleares do Irã ou quanto tempo atrasaria o desenvolvimento de uma arma. O atual estoque de urânio enriquecido do Irã também está escondido em túneis em diferentes locais do país.

Várias autoridades americanas disseram que Israel precisaria da ajuda dos EUA para causar danos mais significativos ao programa nuclear do Irã.

A assistência americana poderia incluir o fornecimento de cobertura aérea para comandos israelenses que entram no Irã por terra. Mas, segundo autoridades, o resultado mais provável é um ataque de bombardeiros furtivos B-2 americanos armados com o Massive Ordnance Penetrator, uma arma que, teoricamente, tem a capacidade de perfurar a montanha que abriga a instalação subterrânea de Fordow.

Qualquer ataque a Fordow pelos Estados Unidos ou com assistência dos EUA levaria o Irã e seus aliados a retaliar.

O Irã e seus aliados já conseguiram prejudicar americanos no passado. Os Houthis contiveram seus ataques depois que o governo de Donald Trump intensificou os ataques contra eles.

Mas, nos últimos anos, eles tentaram repetidamente atacar navios de guerra americanos e navios comerciais. Em janeiro de 2024, uma milícia apoiada pelo Irã realizou um ataque de drones contra uma base americana na Jordânia, perto da fronteira com a Síria, que matou três soldados americanos.

As agências de inteligência americanas há muito concluíram que o Irã estava perto de ser capaz de fabricar uma arma nuclear, mas ainda não haviam decidido se o faria. O presidente Trump afirmou repetidamente que não permitirá que o Irã obtenha uma arma nuclear. Na terça-feira, ele pediu a rendição incondicional do Irã. Mas os ataques israelenses podem ter mudado os cálculos do Irã.

Autoridades americanas céticas em relação à campanha israelense disseram na terça-feira que ela provavelmente convenceu Teerã de que a única maneira de prevenir futuros ataques seria desenvolver um sistema de dissuasão nuclear completo.

Algumas dessas autoridades disseram que, se o Irã pretende desenvolver uma arma nuclear, não importa o que aconteça, a pressão sobre o governo Trump para atacar pode aumentar. Mas os críticos da política externa agressiva e militarista disseram que não era tarde demais para os Estados Unidos recuarem.

"Nunca é tarde demais para não começar uma guerra", disse Rosemary Kelanic, diretora do programa do Oriente Médio na Defense Priorities, um centro de estudos que defende uma política externa contida.

Kelanic reconheceu que o ataque israelense deu ao Irã um incentivo para potencialmente desenvolver uma arma nuclear. Mas acrescentou que o incentivo "se multiplicaria dramaticamente se os Estados Unidos se juntassem à guerra".

"Quando você se envolve, cara, é muito difícil recuar", disse ela. "Você vai se entregar de corpo e alma".

Acompanhe tudo sobre:Irã - PaísIsraelEstados Unidos (EUA)Conflito árabe-israelense

Mais de Mundo

Da diplomacia ao flerte com a guerra: Como Trump cedeu à Netanyahu e mudou posição sobre Irã

Israel fala em mudança de regime no Irã, mesmo com futuro pós-Khamenei envolto em dúvidas

Israel x Irã: quando conflito deve acabar?

Líder supremo iraniano, aiatolá Khamenei adverte: 'A batalha começa'