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Irã acusa EUA de interferência após apoio a protestos sobre combustíveis

Várias cidades do Irã registraram protestos nos últimos dias contra o aumento de 50% do preço da gasolina

Irã: mais de 200 pessoas foram detidas durante os protestos (Nazanin Tabatabaee/WANA/Reuters)

Irã: mais de 200 pessoas foram detidas durante os protestos (Nazanin Tabatabaee/WANA/Reuters)

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AFP

Publicado em 18 de novembro de 2019 às 10h47.

O Irã acusou o governo dos Estados Unidos de interferência em seus assuntos internos depois do apoio de Washington às manifestações dos últimos dias do povo iraniano contra o aumento do preço da gasolina.

Várias cidades iranianas registraram protestos nos últimos dias, com estradas bloqueadas, edifícios públicos incendiados. Os distúrbios deixaram dois mortos, um policial e um civil.

O governo iraniano, no entanto, afirmou nesta segunda-feira que, "na comparação com domingo, a situação está 80% mais tranquila".

"Ainda existem alguns problemas menores, mas amanhã ou depois de amanhã não teremos nenhum problema de distúrbios" declarou o porta-voz do governo, Ali Rabii.

As manifestações começaram na sexta-feira em muitas cidades do país, após o anúncio do aumento de pelo menos 50% do preço da gasolina. As autoridades da República Islâmica anunciaram a detenção de mais de 200 pessoas e uma restrição ao acesso à internet.

Os protestos acontecem em um cenário de crise econômica no Irã, agravada pela retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018 do acordo sobre o programa nuclear iraniano, que provocou o retorno das sanções contra Teerã, o que tem graves consequências para o país.

Nesta segunda-feira, o Irã criticou em um comunicado do ministério das Relações Exteriores o "apoio" dos Estados Unidos ao que chamou de "grupo de amotinados" e condenou os comentários "intervencionistas" de Washington.

No domingo, a Casa Branca condenou o Irã pelo uso de "força letal" contra manifestações.

"Estados Unidos apoiam o povo iraniano em seus protestos pacíficos contra o regime que deve governá-lo", afirmou a porta-voz do governo americano, Stephanie Grisham.

"O nobre povo iraniano sabe que comentários hipócritas deste tipo não representam nenhuma marca honesta de simpatia", respondeu o ministério iraniano.

Sem internet

A agência iraniana Fars, ligada aos conservadores, afirmou que é difícil saber quando serão retiradas as restrições de acesso à internet.

A medida que provocou as manifestações implica um aumento do preço da gasolina de 50% para os primeiros 60 litros comprados a cada mês - de 10.000 a 15.000 riais (11 centavos de euro) - e de 300% para os litros adicionais.

As autoridades afirmam que a arrecadação com o aumento vai beneficiar os 60 milhões de iranianos mais desfavorecidos, sobre uma população total de 83 milhões.

As manifestações acontecem a poucos meses das eleições legislativas previstas para fevereiro.

No domingo, o presidente iraniano Hassan Rohani afirmou que o Estado não deve permitir a insegurança diante dos distúrbios.

"Manifestar seu descontentamento é um direito, a manifestação é uma coisa, e o distúrbio é outra", declarou Rohani em um conselho de ministros, segundo comunicado da presidência.

O guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khameneimafirmou que algumas entidades contrárias ao governo "comemoravam" a situação do país

"Peço que ninguém ajude estes criminosos", afirmou o aiatolá Khamenei.

As manifestações evidenciam a crise econômica: a moeda local, o rial, registrou forte desvalorização, a inflação supera 40% e o FMI prevê para este ano uma queda de 9,5% do PIB iraniano.

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