O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, com seu chefe de gabinete, Andriy Yarmak (Oscar del Pozo/AFP)
Repórter
Publicado em 28 de novembro de 2025 às 12h16.
Última atualização em 28 de novembro de 2025 às 13h02.
Agentes anticorrupção ucranianas investigaram a residência do chefe de gabinete e amigo próximo de Zelensky, Andriy Yermak, nessa sexta-feira, 28. Pouco tempodepois, Yermak renunciou de seu cargo. Zelensky já anunciou na plataforma Telegram queiria consultar potenciais substitutos, sem entrar em detalhes sobre o motivo da renúncia.
Yermak liderava o time de negociação que busca acordos mais favoráveis para a Ucrânia depois que Washington apresentou um rascunho apoiando muitas demandas russas. O chefe de gabinete confirmou que sua casa estava sendo investigada e disse que estaria colaborando com o processo.
“Os investigadores não enfrentam obstáculos”, disse Yermak na plataforma Telegram, adicionando que seus advogados também estariam presentes.
Até o momento, pouco se sabe do resultado das buscas. Ao mesmo tempo, a política do país é palco de intensas investigações anticorrupção após um escândalo milionário alvejando a empresa de energia estatal foi descoberto. Entre os principais suspeitos nas investigações, há pessoas próximas a Zelensky, o que causou danos políticos ao seu partido. Alguns deles foram dispensados de seus cargos ministeriais.
Por mais que Yermak não tenha sido declarado suspeito formal na investigação, partidos da oposição e até mesmo membros do partido de Zelensky passaram a pressionar por sua renúncia, o que pode ter colaborado com sua decisão. Aliás, segundo a Reuters, abrir mão de aliados próximos sob acusações de corrupção pode mandar mensagens positivas de "limpeza da casa". Por mais que ocupe uma posição de alto poder político, Yermak não era um oficial eleito – o que fez muitos cidadãos questionarem sua presença no cargo.
A influência de Yermak sobre Zelensky teve atraído a atenção dos ucranianos desde o início da guerra e despertado questionamentos até mesmo no próprio círculo presidencial.
Críticos indicam que o chefe de gabinete concentrava um poder excessivo, exercendo de fato o controle da política externa do país e limitando o acesso ao presidente.
É como se ele tivesse "hipnotizado" Zelensky, ironizou em novembro uma fonte de alto escalão do partido presidencial em declarações à AFP, afirmando que Yermak "afastou o Ministério das Relações Exteriores" das negociações com Washington. O chefe do gabinete presidencial "não deixa ninguém se aproximar de Zelensky, exceto os leais", e busca "influenciar quase todas as decisões da presidência", disse à AFP um ex-alto funcionário que trabalhou com o mandatário.
No passado, dois deputados conectados a Yermak – Olah Tatarov e Rostyslav Shurma – saíram de seus cargos governamentais após investigações semelhantes sem suas casas em busca de transgressões financeiras. Além disso, um terceiro deputado, Andrii Smyrnov, também foi investigado sob suspeitas de propina, mas continuou trabalhando para Yermak, segundo apuração da CBS News.
Em um depoimento publicado nessa quinta-feira, o partido de oposição Solidariedade Europeia criticou o papel de Yermak como negociador e demandou “diálogo honesto” de Zelensky com outros partidos.
“O presidente não deve limitar-se a uma comunicação confortável com a sua facção — ele tem a obrigação de explicar a todo o parlamento... quais foram as diretrizes e os “limites” impostos à equipe de negociação ucraniana.”
Um deputado da oposição afirma que o chefe de gabinete presidencial é mencionado em gravações de conversas dos suspeitos, onde lhe são atribuídas ordens para pressionar as estruturas anticorrupção. Mais cedo esse ano, uma decisão por Zelensky de passar uma lei que traria a supervisão das agências anticorrupção no país – NABU e SAPO - foi considerada um grave erro, e gerou intensos protestos na Ucrânia. De acordo com o The Economist, as investigações que se sucederam e expuseram o escândalo mais cedo esse mês só foram possíveis por causa dos protestos, que fizeram com o que presidente voltasse atrás nas suas decisões.
Nestas gravações, ele é identificado pelo apelido "Ali Baba", formado a partir das primeiras letras de seu nome e sobrenome. Ex-produtor de cinema e jurista especializado em propriedade intelectual, Yermak trabalhou ao lado de Zelensky nos anos em que o atual presidente era um comediante muito popular.
Internamente, as investigações são um forte golpe à legitimidade do partido, visto que muitos dos acusados não só trabalhariam próximos a Zelensky, como seriam conhecidos e amigos pessoais do presidente. Ao longo do mandato, o presidente tem sido elogiado nacional e internacionalmente por seus esforços para controlar a corrupção, notavelmente dispensando diversos oficiais de alto escalão do governo, demonstrando que mesmo pessoas no poder estariam acima da lei.
Além disso, o escândalo significa problemas para o apoio financeiro de outros países à Ucrânia. A União Europeia, bloco ao qual Zelensky busca se juntar, o alertou para reprimir a corrupção. Além disso, escândalos assim podem danificar a reputação do país.
Com Informações da AFP