Menino com bandeira da Palestina: Israel diz que a recusa palestina em reconhecê-lo como um Estado judaico é o principal obstáculo para um acordo de paz (AFP)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2014 às 21h05.
Genebra - Um investigador de direitos humanos da ONU acusou Israel nesta sexta-feira de "limpeza étnica" ao pressionar os palestinos para fora de Jerusalém Oriental e levantou dúvidas de que o governo israelense possa aceitar um Estado palestino considerando o clima atual.
Ele fez as declarações em meio a um cenário de estancamento das negociações de paz e aceleração da expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, áreas ocupadas por Israel, medida que diminui a esperança dos palestinos de estabelecerem um Estado viável em território contíguo.
Israel diz que a recusa palestina em reconhecê-lo como um Estado judaico é o principal obstáculo. Nesta semana, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pressionou o presidente palestino, Mahmoud Abbas, a ajudar a quebrar o impasse, dizendo que ambos os lados têm de assumir riscos políticos antes do prazo de 29 de abril para a definição das bases para o acordo.
O relator especial da Organização das Nações Unidas sobre os direitos humanos nos territórios palestinos, Richard Falk, disse em entrevista coletiva que as políticas israelenses têm "características inaceitáveis de colonialismo, apartheid e limpeza étnica".
"Cada incremento na ampliação dos assentamentos ou a cada incidente de demolição de casas é uma forma de agravamento da situação ao confrontar o povo palestino e reduzir as perspectivas que possam ter como resultado das supostas negociações de paz." Questionado sobre a acusação de limpeza étnica, Falk disse que mais de 11.000 palestinos perderam o direito de viver em Jerusalém desde 1996 pelo fato de Israel impor leis de residência que favorecem os judeus e revogam autorizações de residência de palestinos.
"O 11.000 é apenas a ponta do iceberg porque muitos mais estão diante de possíveis objeções aos seus direitos de residência." Isso agravou o "calvário dessa prolongada ocupação", afirmou Falk, especialista em direito internacional e professor emérito da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.
Israel capturou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e posteriormente anexou Jerusalém Oriental, declarando-a parte de sua eterna e indivisível capital - uma decisão nunca reconhecida internacionalmente.
Os palestinos querem criar seu Estado na Cisjordânia e em Gaza, com Jerusalém Oriental como sua capital. Em 2005, Israel retirou os colonos judeus da Faixa de Gaza, território agora governado pelo grupo Hamas, que se opõe aos esforços de paz de Abbas, mas o crescimento dos assentamentos continua na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
Falk disse que Israel em feito um esforço sistemático para "alterar a composição étnica" de Jerusalém Oriental, tornando a vida mais difícil para os palestinos que residem lá e incentivando a expansão dos assentamentos, considerados ilegais sob a lei internacional.
Em um relatório no mês passado, Falk afirmou que as políticas israelenses na Cisjordânia pareciam elevar-se a "apartheid e segregação", com uma anexação de facto de partes do território, negando o direito palestino à autodeterminação.
Não houve nesta sexta-feira uma resposta imediata de Israel às suas observações. Israel não respondeu oficialmente ao relatório de Falk de fevereiro.
No passado, Israel rejeitou com veemência as acusações de estar perseguindo palestinos e os acusou de incitar à violência anti-israelense e não estarem dispostos a fazer a paz permanente com o Estado judeu.
Segundo Falk, negociações de paz diretas geralmente coincidem com a intensificação da expansão dos assentamentos israelenses.
O processo de paz mediado pelos EUA parece ser principalmente um projeto do secretário de Estado, John Kerry, que recebe apenas "apoio mínimo do próprio Obama", disse Falk.
"Há outras razões para encorajar a ideia de que ainda é possível negociar um acordo com base no modelo de dois Estados, apesar de observadores mais informados considerarem isso como altamente improvável, dadas as mudanças que ocorreram durante o período de ocupação e o perfil do governo de Netanyahu", disse ele, deixando claro que se inclui entre os céticos.
Falk, um professor de Direito nos EUA que é judeu, chegou ao fim de um mandato de seis anos no cargo independente e o Conselho de Direitos Humanos da ONU deve nomear um sucessor em breve.