Jeff Bezos e a viúva do jornalista Jamal Khashoggi: príncipe saudita envolvido na morte do jornalista estaria por trás de invasão ao dispositivo do dono da Amazon e do jornal The Washington Post (Umit Bektas/File Photo/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 25 de janeiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 25 de janeiro de 2020 às 07h00.
A bombástica suspeita de que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita estaria envolvido na invasão do celular de Jeff Bezos, diretor-presidente da Amazon.com, volta as atenções para o polêmico jovem líder, justo quando Mohammed bin Salman tentava melhorar sua imagem e se preparava para um ano sob os holofotes globais.
Na quarta-feira, especialistas da ONU pediram uma investigação sobre as alegações, publicadas em reportagem do The Guardian. As acusações sugerem um possível envolvimento do príncipe Mohammed, de 34 anos, na vigilância de Bezos, que também é dono do Washington Post, em uma suposta tentativa de influenciar as reportagens do jornal sobre a Arábia Saudita e também na esteira do suposto envolvimento do príncipe no assassinato de Jamal Khashoggi, colunista do Washington Post, em 2018.
Uma investigação levaria tempo, mas os danos à imagem da Arábia Saudita poderiam ser mais imediatos, com especulações fervilhando quando o reino se prepara para receber ministros das Finanças do G-20 no próximo mês. Esse é um dos muitos eventos destinados a mostrar o programa econômico do príncipe para transformar o país e atrair bilhões em investimentos estrangeiros.
As alegações reforçam a percepção de alguns especialistas “de que ele não é um cara legal”, disse Kamran Bokhari, diretor-fundador do Center for Global Policy, em Washington. As pessoas já têm uma opinião formada sobre o príncipe Mohammed, o governante de fato da Arábia Saudita, e, a menos que ele promova grandes reformas políticas, é improvável que a opinião pública mude no Ocidente, disse o especialista.
Autoridades passaram 2019 tentando reconstruir a reputação do país após o assassinato de Khashoggi no consulado saudita em Istambul. O país recebeu apoio do presidente dos EUA, Donald Trump, que defendeu o príncipe e protegeu o reino contra qualquer retaliação de congressistas norte-americanos. O governo organizou uma importante conferência de investimentos em outubro e depois abriu o capital de sua gigante do petróleo Aramco no contexto de um ataque de mísseis que fechou temporariamente sua maior instalação de processamento de petróleo.
Riad também tentou resolver problemas regionais com resultados limitados. O país mostrou abertura às negociações em uma longa disputa do Golfo com o Catar, ajudou a acabar com os confrontos entre duas facções aliadas da Arábia Saudita na guerra no Iêmen e buscou se conciliar com o principal inimigo Irã, o qual culpa pelo ataque de mísseis, sem acreditar na negativa de Teerã.
“Nos últimos meses, vimos uma abordagem muito mais consultiva e multilateral, em parte desencadeada por dúvidas sobre confiabilidade dos EUA e devido à presidência do G-20 ”, afirmou James M. Dorsey, um estudioso do Oriente Médio da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura.
A acusação sobre a invasão não ajuda a melhorar a reputação da Arábia Saudita e do príncipe Mohammed, disse. Se Bezos, o homem mais rico do mundo, pode ser um alvo, o que dizer de outras pessoas que fazem negócios no reino?
Na quinta-feira, uma hashtag exortando os sauditas a boicotar os produtos da Amazon era “trending topic” no Twitter, com usuários defendendo o príncipe Mohammed e sugerindo a troca por outras empresas de compras on-line, além de fotos de Bezos sentado ao lado ou abraçando a noiva de Khashoggi.
Em resposta a perguntas que citam uma autoridade não identificada, o Ministério da Informação da Arábia Saudita contestou as notícias sobre a invasão do celular de Bezos como “alegações totalmente sem fundamento” e disse que não conduz nem tolera atividades ilícitas.