Manifestantes interagem com a Polícia do Capitólio dentro do Edifício do Congresso dos EUA em 06 de janeiro de 2021 em Washington, DC (Win McNamee/Getty Images)
Fabiane Stefano
Publicado em 6 de janeiro de 2021 às 20h23.
Última atualização em 6 de janeiro de 2021 às 20h57.
A invasão do Capitólio por apoiadores do presidente Donald Trump, com o intuito de impedir o reconhecimento da vitória de Joe Biden, já é considerada um episódio de "terrorismo doméstico" - tanto por especialistas quanto pelos próprios políticos americanos.
Poucas horas após o início da confusão - que culminou em um toque de recolher em Washington DC -, a senadora Elizabeth Warren usou o termo "terroristas domésticos" para se referir aos apoiadores de Trump. Na mesma linha, Meghan McCain, filha do senador republicano John McCain, defendeu o termo "terroristas" como o ideal para se referir aos invasores do Capitólio.
This is domestic terrorism. Stop calling it protesting.
— Meghan McCain (@MeghanMcCain) January 6, 2021
We cannot allow the actions of domestic terrorists to undermine the peaceful transition of power in our country. Americans picked a new president who wants to save lives, save our economy, and save our democracy. The certification of this election must resume immediately.
— Elizabeth Warren (@SenWarren) January 6, 2021
"Terrorismo doméstico" é quando os cidadãos de um país lançam mão de violência para desorganizar as instituições e fragilizar o poder do próprio estado em que vivem. Essa sistemática é hoje um dos principais vetores de violência nos EUA. Em agosto, o próprio presidente Trump usou o termo para se referir aos tiroteios em massa que o país sofre frequentemente.
Para o professor de relações internacionais da FAAP, Lucas Leite, a invasão ao Capitólio incitada por Trump é um ato de terrorismo doméstico praticado por grupos supremacistas brancos que, durante o governo Trump, tiveram liberdade para crescerem e se organizarem. Justamente por isso, ainda que chocante, o episódio era esperado.
"Os EUA, querendo ou não, ainda são colocados como exemplo institucional para o mundo. Então, se isso é possível nos EUA, porque não seria em outros lugares?', indaga Leite. "Ao pressionar as instituições ao máximo, esperando que a corda estoure, o presidente é conivente. Se isso evolui para um conflito maior, se há uma organização mais ampla, isso gera um conflito civil."
Leite explica que, ainda que este episódio não seja suficiente para impedir a posse de Biden, por exemplo, ele já mina a narrativa americana de ser "o país da liberdade", além de servir de inspiração para grupos extremistas em outros países hoje liderados pela extrema direita, como o Brasil, Polônia, Turquia e Indonésia. "Em países com instituições mais frágeis ou grupos mais organizados, isso poderia inspirar esses indivíduos a pressionarem as instituições da mesma maneira, levando o discurso da negação e da mentira até as últimas instâncias.", disse o professor.
FOI GOLPE?
Além de um ato terrorista, a invasão do Capitólio também está sendo chamada de "tentativa golpe de estado" por diversos congressistas americanos e também pela imprensa - um termo inimaginável no cenário político americano há alguns anos. Para o professor de relações internacionais Arthur Murta, da PUC-SP, não houve a consumação de um golpe de estado - mas uma tentativa, certamente, ocorreu.