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Intensos combates ao redor da residência de Kadafi

Capital Trípoli, onde está o líder líbio, ainda é um campo de batalha entre rebeldes e partidários do governo

O governo da África do Sul negou nesta segunda-feira ter enviado aviões à Líbia para facilitar a saída de Muammar Kadafi (Filippo Monteforte/AFP)

O governo da África do Sul negou nesta segunda-feira ter enviado aviões à Líbia para facilitar a saída de Muammar Kadafi (Filippo Monteforte/AFP)

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Da Redação

Publicado em 22 de agosto de 2011 às 09h20.

Trípoli - Os combates ganharam força na manhã desta segunda-feira ao redor da residência do ditador líbio Muammar Kadafi em Trípoli, um dia depois da vasta ofensiva dos rebeldes na capital líbia, que os países ocidentais esperam que termine com uma vitória rápida.

Segundo uma fonte diplomática que pediu anonimato, Kadafi ainda estaria dentro de sua residência do bairro de Bab al-Aziziya.

Também eram registrados combates no sul da capital.

O fim do regime de Kadafi está próximo, afirmou nesta segunda-feira o porta-voz da chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton.

"Parece que estamos presenciando o final do regime de Kadafi", disse à AFP Michael Mann.

"Kadafi deve abandonar o poder rapidamente e evitar mais derramamento de sangue", completou.

O porta-voz também pediu aos rebeldes líbios moderação no campo de batalha, já que "é importante que as forças opositoras respeitem totalmente o direito humanitário e os direitos humanos e protejam os cidadãos".

"A Líbia está no princípio de um processo de transição", declarou Mann.

Em Roma, o ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, afirmou que o regime líbio contra apenas entre 10 e 15%" da capital Trípoli.

"Observamos nas últimas horas uma consolidação do avanço da oposição ao regime e podemos dizer que neste momento apenas entre 10 e 15% da cidade permanece nas mãos do regime", declarou o ministro ao canal SKY TG24.

Ao mesmo tempo, o governo da África do Sul negou nesta segunda-feira ter enviado aviões à Líbia para facilitar a saída de Muammar Kadafi, em declarações da chanceler Maite Nkoana-Mashabane.


"O governo sul-africano quer rebater e desmentir os boatos de que enviou aviões à Líbia para transportar o coronel Kadafi e sua família a um destino desconhecido", declarou a ministra.

"Ninguém solicitou asilo político à África do Sul. Para nós ele permanece na Líbia", completou a chanceler.

Depois de reafirmar que o "futuro de Kadafi deve ser decidido pelos próprios líbios", Nkoana-Mashabane declarou que "neste momento não há razões para criar um Estado dentro do Estado".

"Ante a iminente queda do governo do coronel Kadafi, pedimos às autoridades interinas de Trípoli que convoquem imediatamente um diálogo político dentro da Líbia que associe todas as partes e estimule a construção de uma autoridade verdadeiramente representativa de todo o povo", destacou.

O comitê ad hoc de alto nível da União Africana (UA) se reunirá na quinta-feira para examinar a situação na Líbia. O Conselho de Paz e Segurança do organismo regional se reunirá no dia seguinte.

Os rebeldes líbios entraram no domingo à noite em Trípoli e chegaram ao coração da capital, onde foram travados intensos combates, enquanto a Otan anunciou o fim iminente do regime de Kadafi, mas um dos líderes da insurgência pediu cautela quanto aos focos de resistência de forças leais ao ditador.

Mahmud Jibril, um dos principais membros do Conselho Nacional de Transição (CNT), pediu aos combatentes rebeldes que fiquem alerta para "bolsões" de resistência pró-Kadafi na capital.

"Fiquem alerta. Bolsões de resistência (das forças pró-Kadafi) ainda são localizados dentro e no entorno de Trípoli (...)", disse Jibril.

"Devem ser prudentes. O combate não acabou. Mas, se Deus quiser, em algumas horas nossa vitória será completa", afirmou ele, que exerce o cargo de primeiro-ministro à frente do Executivo rebelde.

Jibril também pediu que seus combatentes não se vinguem dos partidários do líder líbio.

"Hoje, que comemoramos a vitória, apelo para a sua consciência e para a sua responsabilidade: não se vinguem, não saqueiem, não culpem os estrangeiros e respeitem os prisioneiros", declarou Jibril, em um discurso oficial à televisão rebelde Libya al-Ahrar.

"Estes desafios são uma oportunidade única neste período de transição, de dar vida a todos os direitos pelos quais lutamos", considerou Jibril.

Em uma tentativa de manter o comando, o coronel Kadafi pediu em uma mensagem de áudio divulgada pela televisão líbia que seus partidários "limpem" a capital dos rebeldes que haviam tomado o controle de vários bairros de Trípoli.


Os tripolitanos "devem sair agora para limpar a capital", declarou o coronel Kadafi, afirmando que "não há lugar para agentes do colonialismo em Trípoli e na Líbia".

"Voltem para de onde vocês vieram", disse aos rebeldes o líder líbio.

Pouco antes, o porta-voz do regime havia afirmado que 1.300 pessoas morreram nas últimas 24 horas em Trípoli, classificando os combates de "verdadeira tragédia".

"Em 24 horas, 1.300 pessoas foram mortas em Trípoli", disse Mussa Ibrahim, durante uma entrevista coletiva à imprensa, indicando que "seu regime permanece forte e que milhares de voluntários e soldados estão preparados para lutar".

Apesar do aparente êxito dos rebeldes, o porta-voz do regime, Mussa Ibrahim, afirmou durante uma entrevista coletiva à imprensa que "seu regime permanece forte e que milhares de voluntários e soldados estão preparados para lutar".

"Temos um líder que vai nos conduzir à paz (...) e vocês não podem privar os líbios dela", concluiu Ibrahim.

Enquanto o regime se esforçava para aparentar estar no controle da situação, os clientes do serviço de telefonia móvel da operadora Libyana recebiam uma mensagem do CNT felicitando o "povo líbio pela queda de Muamar Kadafi". Segundo moradores de alguns bairros da capital, o serviço de internet foi restabelecido, cerca de seis meses depois de ter sido cortado durante o início das manifestações contra o governo.

Em Haia, o procurador do Tribunal Penal Internacional, Luis Moreno-Ocampo, confirmou a prisão de Seif al-Islam, um dos filhos do coronel Muamar Kadafi, que tem contra si um mandado de prisão do TPI por crimes contra a Humanidade cometidos em seu país.

"Recebi informações confidenciais segundo as quais ele foi preso", declarou Moreno-Ocampo à AFP.

"Esperamos que ele possa estar em breve na Haia" para ser julgado, acrescentou o procurador do TPI, indicando que "deve entrar em contato com o governo de transição" líbio durante o dia.

O TPI confirmou que está em contato com os rebeldes líbios para obter a transferência a sua sede em Haia de Saif al-Islam.

"Todo tribunal está envolvido", declarou à AFP Fadi al-Abdallah, porta-voz do TPI. Ao ser questionado se isto significava contatos com os rebeldes líbios, a resposta foi apenas "sim".

Saif al-Islam é acusado, ao lado do pai e do diretor do serviços de inteligência, Abdallah al-Senusi, de crimes contra a humanidade pela repressão contra as manifestações que reclamavam a queda do regime desde 15 de fevereiro.

Antes da revolta líbia, Saif al-Islam era considerado o futuro sucessor de Kadafi e se apresentava como emissário e porta-voz do regime.

Durante a noite de domingo para segunda-feira, os rebeldes, que lançaram uma ofensiva no sábado à noite, chegaram à Praça Verde, local simbólico onde os partidários do regime costumavam a se reunir para manifestar sua fidelidade ao líder quando começaram os protestos em meados de fevereiro.

A rede de televisão britânica, Sky News, exibiuu imagens de uma multidão exultante dançando aos gritos de "Alá Akbar" (Deus é grande) e agitando bandeiras líbias do governo derrubado por Kadafi em 1969, com as cores vermelha, preta e verde, que os rebeldes adotaram.

Em Benghazi, dezenas de milhares de moradores saíram às ruas da "capital" dos rebeldes no leste da Líbia para comemorar o iminente fim do regime de Kadafi.

Motoristas buzinavam, tiros de armas automáticas eram ouvidos e gritos de vitória explodiram em toda a cidade após o anúncio feito pelas redes de televisão da chegada dos rebeldes ao coração da capital do país.

A Otan considerou neste domingo que o fim do regime está próximo.

"O regime de Kadafi desmorona claramente", declarou em um comunicado apresentado na madrugada desta segunda-feira o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen.

Em Washington, o presidente americano, Barack Obama, disse nesta segunda que o regime de "punho de ferro" de Muammar Kadafi chegou ao seu "momento decisivo" e que o "tirano" líbio deve partir agora para evitar um banho de sangue.

Em uma primeira reação à situação atual na Líbia, Obama também pediu em um comunicado que os rebeldes líbios, que entraram em Trípoli no domingo, respeitem os Direitos Humanos, preservem as instituições do Estado e sigam para a democracia.


"Esta noite o ímpeto contra o regime de Kadafi chegou a um ponto decisivo. Trípoli escapa do punho do tirano", afirma Obama em um comunicado divulgado a partir do balneário Martha's Vineyard (nordeste), onde passa as férias.

"O regime de Kadafi apresenta sinais de colapso. O povo da Líbia prova que a busca universal pela dignidade e pela liberdade é muito mais forte do que o punho de ferro de um ditador".

Obama indicou que a melhor forma de se pôr um fim ao derramamento de sangue na Líbia é simples: "Muammar Kadafi e seu regime precisam reconhecer a realidade de que já não controlam a Líbia. Precisam deixar o poder de uma vez por todas".

A China afirmou que respeita a decisão do povo líbio.

"A China respeita a escolha do povo líbio e espera que a estabilidade volte rapidamente à Líbia", afirma o ministério chinês das Relações Exteriores em um comunicado.

"A China está disposta a trabalhar com a comunidade internacional e desempenhar um papel positivo na reconstrução da Líbia no futuro", completa a nota.

Pequim intensificou nos últimos meses os contatos com autoridades do Conselho Nacional de Transição (CNT, órgão político da rebelião), que reconheceu em junho como "interlocutor importante".

A China tem importantes interesses na Líbia e em uma gigantesca operação retirou, entre fevereiro e março, 36.000 trabalhadores dos setores petroleiro, da construção civil, ferrovias ou telecomunicações.

Membro permanente do Conselho de Segurança da ONU com direito a veto, a China optou pela abstenção na votação de março que abriu caminho para os ataques aéreos da Otan na Líbia.

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