Mundo

Ingleses criaram até pornô para derrotar nazistas na guerra da desinformação, diz livro

Um dos oficiais mais graduados de Churchill chegou a dizer: "se é assim que vamos vencer, prefiro não ganhar"

Soldados nazistas ouvem as últimas notícias sobre a ocupação da Noruega, em 1940

Soldados nazistas ouvem as últimas notícias sobre a ocupação da Noruega, em 1940

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 23 de março de 2024 às 08h00.

Última atualização em 23 de março de 2024 às 09h06.

A Segunda Guerra Mundial é um dos episódios mais estudados, documentados e revisitados da história da humanidade. Um novo recorte acaba de ser mostrado ao público pelo livro How to win an information war (Como ganhar uma guerra de informação, em tradução livre), do Peter Pomerantsev, jornalista, escritor e produtor de TV  nascido na Ucrânia

Na obra, Pomerantsev mostra detalhes de uma operação até então desconhecida pelo grande público: como a desinformação, incluindo pornografia, ajudou a os ingleses a superarem os nazistas na guerra.

Sefton Delmer, durante a Segunda Guerra, tornou-se chefe de operações especiais do Political Warfare Executive. Ele dirigiu operações de propaganda para os britânicos contra o regime de Hitler.

Em entrevista ao podcast Fresh Air, da NPR, o escritor disse que Delmer criou programas de rádio transmitidos para a Alemanha com o objetivo de parecerem atrações apresentadas por alemães, e de fato eram. Eles apresentavam antigos escritores e estrelas de cabaré alemães que agora estavam refugiados na Inglaterra.

Algumas das transmissões que Delmer Sefton supervisionava relatavam a depravação moral e sexual dos líderes alemães de uma forma que beirava a pornografia sadomasoquista. Os alemães, na imagem que gostariam de passar, deveriam ser puros. O jazz, por exemplo, era um exemplo de algo decadente para eles.

Quando pessoas do gabinete do premiê Winston Churchill souberam que o governo britânico estava essencialmente criando pornografia para subverter os nazistas, ficaram indignadas e quiseram proibi-la. Segundo o livro, um dos oficiais mais graduados disse que, "se é assim que vamos vencer a guerra, prefiro que não a vençamos".

Ele estava se referindo a uma transmissão particularmente pornográfica, que trata de uma cena com uma espécie de oficial nazista de médio escalão. O episódio envolve capacetes, manteigas, marinheiros e prostituas.

"Essa foi uma transmissão que quase fez com que Sefton Delmer fosse demitido, mas o objetivo era destacar a manteiga. E o objetivo não era toda a pornografia. O ponto era a manteiga, porque a manteiga era racionada para os alemães, e o fato de os oficiais nazistas usarem manteiga em suas orgias era um sinal de como eles estavam se apropriando de itens muito raros para a época e, portanto, vivendo uma vida de opulência enquanto os alemães comuns passavam fome", disse o autor ao podcast.

“Durante a guerra, Delmer e sua trupe estavam numa corrida contra Goebbels no Ministério da propaganda do Reich para entender como a mídia nos molda, e como explora nossos traumas e desejos”, escreveu o autor.

“A maestria de Delmer na propaganda é mais relevante do que nunca na medida que nossas vidas se transformam com a tecnologia digital da mesma forma que o rádio transformou a de Delmer”.

Acompanhe tudo sobre:LivrosFake newsNazismo

Mais de Mundo

Mais de 60 são presos após confronto entre torcedores de Israel e manifestantes na Holanda

Milei tira monopólio em aeroportos e alerta Aerolíneas: “ou privatiza ou fecha”

Sinos da Notre Dame tocam pela primeira vez desde o incêndio de 2019

França busca aliados europeus para ativar veto ao acordo UE-Mercosul