Governo britânico demonstra preocupação com o crescimento dos crimes por armas brancas (Yui Mok/PA Image/Getty Images)
Repórter
Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 16h21.
Ronan Kanda tinha acabado de visitar um amigo depois da escola para comprar um controle de PlayStation. Ao sair de casa, com fones de ouvido, o jovem de 16 anos provavelmente não tinha ideia de que estava sendo seguido por outros dois adolescentes, armados com uma espada ninja e um facão, que o confundiram com o alvo pretendido. Poucos metros antes de chegar em casa, eles o esfaquearam até a morte.
De acordo com a The Economist, o assassinato de Ronan em Wolverhampton, na Inglaterra, em junho de 2022, provocou comoção na cidade, mas o caso não é uma exceção. O adolescente foi uma das 243 pessoas mortas com facas no Reino Unido daquele ano até março de 2023, sendo 32 delas crianças. Após uma queda durante a pandemia, os crimes com facas aumentaram novamente entre os britânicos. A relevância do crime também aumentou após o assassinato de três meninas em uma aula de dança em Southport, em julho passado, e uma campanha liderada pelo ator Idris Elba.
Em 19 de fevereiro, Yvette Cooper, a secretária do Interior, anunciou a "Lei de Ronan", um pacote de reformas para reprimir as vendas de facas e parte de um plano para reduzir pela metade os crimes cometidos com arma branca. As autoridades, porém, acreditam que atingir a meta também exigirá, em primeiro lugar, chegar à raiz do motivo pelo qual tantos jovens britânicos sentem a necessidade de portar uma faca.
Entre 2022 e março de 2024, mais de 500 crianças foram internadas em hospitais na Inglaterra e no País de Gales com ferimentos por faca. Embora não seja tão alto quanto o pico pré-pandêmico, foi 9% maior que no ano anterior. Uma pesquisa divulgada pela The Economist explica que 60% dos jovens londrinos se preocupam com sua segurança, e 25% deles veem carregar uma faca como uma boa maneira de se proteger. Já 2% dos jovens de 13 a 17 anos, o equivalente a 87.000 adolescentes em todo o país, dizem que carregaram uma faca.
As comparações internacionais são difíceis pela limitação de dados e as tendências são moldadas por mudanças na lei e capacidade policial. Especialistas defendem que o problema da violência com faca entre crianças é um problema britânico.
O plano do Ministério do Interior é reprimir o fornecimento. Os autores dos ataques de Wolverhampton e Southport acharam muito fácil obter facas de varejistas online, segundo Yvette Cooper. Sob as novas regras, haverá processos de verificação de idade mais rigorosos e sentenças mais longas para aqueles que venderam facas para crianças; os varejistas serão obrigados a relatar compras em abundância à polícia. Em setembro, Cooper proibiu a venda de "facas-zumbi", que são longas e serrilhadas. As investigações descobriram que elas continuam facilmente disponíveis.
Autoridades, organizações e campanhas de segurança pública, como a liderada por Idris Elba, reivindicam ao governo britânico que tome a medida mais ousada de eliminar ou restringir a venda de todas as facas pontiagudas. Essa ideia foi proposta no ano passado em um artigo da Universidade de Leeds. Embora as "facas-zumbi" atraiam muita atenção, o documento ressalta que a maioria dos homicídios é cometida com facas de cozinha, que permanecerão fáceis de acessar e são mais perigosas do que precisam ser. A proposta foi defendida até por muitos chefs de cozinha.
Em uma publicação nas redes sociais, Idris Elba destaca intervenções como "dissuasão focada", que foi pioneira nos Estados Unidos e envolve a polícia e os profissionais da educação. O plano é oferecer aos grupos de risco um caminho alternativo. Embora esses programas estejam sendo conduzidos no Reino Unido, eles têm como pano de fundo o governo local e os serviços para jovens. O problema das facas no país, porém, não será uma solução rápida.