Agência Eurosat aponta que conflito na Ucrânia é o impacto nos mercados internacionais (Alessia Pierdomenico/Bloomberg)
AFP
Publicado em 1 de julho de 2022 às 10h38.
Última atualização em 1 de julho de 2022 às 12h23.
A inflação da Eurozona prosseguiu com a tendência de alta em junho e bateu um recorde, ao atingir a marca de 8,6% em ritmo anual, estimulada pelos aumentos expressivos nos preços da energia e dos alimentos, consequência da guerra na Ucrânia.
O índice divulgado pela agência europeia de estatísticas Eurostat é o mais elevado da série histórica, que começou em janeiro de 1997, e está meio ponto percentual acima do nível de maio, que foi de 8,1%.
Até o fim do ano passado, as autoridades europeias consideravam que a alta da inflação era resultado da acelerada recuperação das atividades após a flexibilização das medidas anticovid aplicadas durante a pandemia.
O aumento nos preços da energia, no entanto, provocou o alerta, em uma tendência que se tornou dominante com o início da guerra na Ucrânia.
O Banco Central Europeu (BCE) havia projetado no fim de 2021 uma inflação "próxima mas inferior a 2%", uma previsão atropelada pela realidade.
A perspectiva aumenta o risco de uma crise da dívida na zona do euro, uma consequência da crescente diferença de taxas de juro exigidas dos Estados do norte e do sul da Europa para obter empréstimos e financiar seus déficits.
A presidenta do BCE, Christine Lagarde, afirmou nesta semana que a instituição irá ""até onde for necessário" para controlar a inflação "excessivamente elevada", mas admitiu que o índice permanecerá elevado "por algum tempo".
De acordo com a Eurostat, o principal fator da inflação em junho foi mais uma vez o aumento nos preços da energia (eletricidade, petróleo e gás), que registraram avanço de 41,9%, depois da alta de 39,1% em maio.
Outra consequência do conflito na Ucrânia é o impacto nos mercados internacionais de alimentos, em particular cereais e grãos, diante da impossibilidade de Kiev exportar sua produção.
A Eurostat destaca que em junho o setor de alimentos (que inclui tabaco e álcool) registrou aumento de 8,9% em ritmo anual. Em maio o avanço foi de 7,5%.
Entre as principais economias da Eurozona, a França registrou um dos menores índices de inflação em junho, a 6,5%.
Na Alemanha, a taxa foi de 8,2%, enquanto a Itália registrou 8,5% e a Espanha 10,0%.
Vários países do bloco registraram alta de preços de dois dígitos, como Grécia (12,0%), Luxemburgo (10,3%), Eslováquia (12,5%) ou Eslovênia (10,8%).
O cenário mais grave aconteceu nos países bálticos: Letônia com 19%, Lituânia com 20,5% e Estônia com 22%.
Philippe Waechter, economista da Ostrum Assets Management, declarou à AFP que a alta dos alimentos "terá um efeito muito pesado".
"Historicamente, nunca tivemos um indicador tão elevado sobre a contribuição dos alimentos na inflação geral.
"A situação não está melhorando e, inclusive, tem uma tendência a piorar ainda mais. Isto quer dizer que muitos europeus têm problemas para se alimentar", comentou o analista.
Para Andrew Kenningham, da consultoria Capital Economics, a inflação permanecerá "muito alta até o final do ano", pois os aumentos nos preços da gasolina serão repassados aos varejistas e os alimentos ficarão mais caros.
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