Zika vírus: os mosquitos carregam uma bactéria chamada Wolbachia, que os cientistas introduziram em gerações anteriores (Luis Robayo/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de fevereiro de 2016 às 12h23.
Yogyakarta/Jacarta - Um pesquisador de um laboratório da Indonésia estende os braços dentro de caixas de plástico transparente cheias de mosquitos, e ao longo dos 20 minutos seguintes pequenas bolhas surgem em sua pele à medida que ele recebe dezenas de picadas.
A "alimentação" voluntária, na qual os pesquisadores se alternam, é parte de um programa da cidade de Yogyakarta para tentar eliminar doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue e o Zika vírus --ou assim esperam os cientistas diante do aumento dos temores sobre o surto de Zika na América Latina e no Caribe.
Os mosquitos carregam uma bactéria chamada Wolbachia, que os cientistas introduziram em gerações anteriores, e mais tarde serão liberados para cruzarem com mosquitos selvagens.
À medida que se dissemina de um inseto para outro, a bactéria reduz a possibilidade de os mosquitos transmitirem o vírus da dengue para humanos.
Resultados iniciais sobre o impacto do experimento na disseminação da dengue incentivaram cientistas indonésios e australianos a ampliarem o programa e incluir o Zika.
"Já temos indícios em nossos laboratórios de que o método que refreia o poder da dengue de se desenvolver no mosquito também funciona com o Zika vírus", afirmou Scott O'Neill, diretor do Programa Elimine a Dengue (EDP, na sigla em inglês) à Reuters, acrescentando que a pesquisa aguarda análises de seus pares na comunidade científica.
Ainda pouco se conhece sobre o Zika, inclusive se o vírus causa má-formação craniana.
No dia 1o de fevereiro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o Zika uma emergência de saúde pública mundial, afirmando "suspeitar fortemente" de uma ligação entre a presença do vírus em gestantes e a má-formação craniana conhecida como microcefalia. Não existe tratamento nem vacina para a doença, e a OMS recomendou limitar a exposição humana aos mosquitos.
O número de casos de dengue em uma instalação de testes de Yogyakarta onde o método da bactéria foi utilizado diminuiu de 10 em 2015 para somente 1 este ano, mas ele ainda não demonstrou resultados conclusivos fora dos laboratórios.
"Não acredito que exista uma única solução mágica", opinou Adi Utarini, que lidera a pesquisa indonésia. "A nova tecnologia que trazemos não foi concebida para substituir todas as atividades existentes... a prevenção é muito importante".
Financiado em parte pela Fundação Bill and Melinda Gates, o EDP também está testando seus métodos no Vietnã, mas eles estão em seu estágio mais avançado na Indonésia, país tropical que tem o segundo maior índice de casos de dengue, só atrás do Brasil.