Indígenas: uma caça regulamentada pode incentivar os proprietários das terras a colaborar (Getty Images)
EFE
Publicado em 3 de março de 2017 às 13h03.
Última atualização em 23 de maio de 2017 às 13h34.
Roma - Os povos indígenas podem ajudar a controlar a caça e proteger a fauna, alcançando benefícios sempre que sejam respeitadas suas próprias decisões nos territórios que habitam, segundo um estudo divulgado nesta sexta-feira pela FAO pelo dia mundial da vida silvestre.
Entre os casos recopilados pela publicação "Unasylva" da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), está o experimento realizado na reserva de Ticoya, na região mais meridional da Amazônia colombiana.
Neste lugar, a associação local de caçadores Airumaküchi recopilou informações sobre suas atividades mediante um aplicativo instalado em seus telefones celulares ao invés de utilizarem cadernos, com os quais perdiam mais tempo.
A partir disso, conseguiu gerar dados mensais que a longo prazo podem servir para tomar decisões e conseguir uma caça mais sustentável, segundo o estudo.
E no Quênia destaca um povo masai que administra o único santuário de rinocerontes de propriedade comunitária e que, entre outras coisas, reduziu a poda de arbustos para dar mais gramados aos animais silvestres e evitar a degradação do ecossistema.
"O empoderamento destes grupos, combinado com seus conhecimentos e capacidade de planejamento, é essencial para assegurar a sobrevivência das gerações futuras, tanto dos seres humanos como da vida silvestre", afirmou em uma nota a diretora de Políticas e Recursos Florestais da FAO, Eva Müller.
O responsável ressaltou que esses povos e comunidades locais custodiam a vida silvestre, "não podem conceber sua vida separada da natureza e têm um grande interesse no uso sustentável dos recursos".
Um conjunto de ferramentas desenvolvidas pela agência da ONU e outros parceiros como o Centro de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional (CIRAD) da França procura dar alternativas às comunidades locais para evitar os conflitos entre pessoas e animais.
Assim, por exemplo, em um parque nacional do Gabão os camponeses aprenderam que podem cercar as plantações, acender fogueira ou fazer barulho para assustar e impedir que elefantes, antílopes e outros animais selvagens destruam suas colheitas.
A publicação também analisa o impacto da caça esportiva e considera que, se for bem administrada, pode apoiar a conservação e a economia das pessoas pobres nas zonas rurais, frente à proibição total dessa atividade, que pode afetar seus meios de vida.
Segundo os especialistas, os benefícios de uma caça regulamentada e sustentável podem incentivar os proprietários das terras a manter e restaurarem o habitat e as populações de animais, assim como a combater a caça ilegal.
O estudo cita o caso de uma espécie ameaçada de leopardo mais presente em montanhas do Tadjiquistão onde é permitida a caça esportiva de ovelhas e cabras selvagens do que em outras zonas onde a prática está proibida, devido possivelmente ao maior número de presas e a menor caça ilegal.