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Indígenas derrubam estátua de colonizador espanhol na Colômbia

A Colômbia vem sendo palco de protestos há uma semana. O prefeito da cidade onde estava a estátua criticou a ação e disse que a região é "multicultural"

Estátua derrubada na Colômbia: país vem sendo palco de protestos há uma semana (AFP/AFP)

Estátua derrubada na Colômbia: país vem sendo palco de protestos há uma semana (AFP/AFP)

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Carolina Riveira

Publicado em 17 de setembro de 2020 às 11h05.

Última atualização em 17 de setembro de 2020 às 11h49.

A Colômbia segue tomada por protestos contra a violência policial que começaram na semana passada. E o movimento tem trazido também participação de indígenas colombianos, que questionam uma repressão histórica contra os povos nativos. Nesta quarta-feira, 16, indígenas colombianos derrubaram com cordas, uma estátua de Sebastián de Belalcázar, conquistador espanhol do século 16.

Segundo os porta-vozes do movimento, a derrubada aconteceu em repúdio à violência que os povos índigenas enfrentaram historicamente durante a colonização. A derrubada ou reflexão sobre o papel de estátuas de colonizadores e apoiadores da escravidão se tornou símbolo também em protestos em outros países, incluindo nos Estados Unidos e na Europa.

Vídeos publicados em redes sociais mostram dezenas de indígenas derrubando o monumento do conquistador a cavalo, na presença de três policiais. Com gritos, os manifestantes comemoraram o momento em que a estátua atingiu o chão. Belalcázar é fundador das cidades de Cali, a terceira maior da Colômbia, e Popayán, região onde estava a estátua. Ele também fundou cidades no Equador, como a capital Quito.

"Com a força das pessoas, conseguiu-se derrubar, como ato simbólico de repúdio a tanto extermínio dos povos", disse Diana Jembuel, do povoado indígena Misak. Segundo ela, o fato ocorreu como parte de uma mobilização convocada pelos povos indígenas Misak, Nasa e Pijao para protestar "contra o extermínio físico e cultural dos povos indígenas do Cauca e os diferentes líderes sociais do país".

Os protestos na Colômbia tiveram como estopim a morte de Javier Ordoñez, um advogado de 46 anos que foi imobilizado por policiais e recebeu choques elétricos.

Na semana passada, a resposta dos policiais aos protestos que se seguiram, sobretudo na capital Bogotá, deixaram ao menos 12 mortos. Além do tema da violência policial, começaram a participar dos atos organizações de oposição ao presidente de direita Iván Duque, como sindicatos, estudantes e o Comitê Nacional de Desemprego -- que já haviam organizado "panelaços" contra o presidente no ano passado.

O prefeito de Popayán, Juan Carlos López, criticou a ação dos indígenas com relação à estatua, que considerou "um ato violento contra um símbolo de uma cidade que é multicultural". Ele afirmou que o monumento será restaurado, e ressaltou que "a discussão cultural e histórica pode ocorrer, mas não com violência".

Quase metade da população na Colômbia é mestiça, uma combinação entre europeus e indígenas. Outros 37% são brancos, 11% são negros e 3% são indígenas, segundo os dados oficiais do país. A Colômbia é o segundo país mais populoso da América do Sul, com mais de 46 milhões de habitantes, ficando atrás somente do Brasil.

Os indígenas travam uma disputa histórica por terras na região de Popayán. Os povos originários enfrentam, ainda, a violência dos grupos financiados pelo narcotráfico, após o acordo de paz que desarmou a outrora poderosa guerrilha marxista das Farc.

A estátua de Belalcázar foi instalada em 1937. Diana Jembuel explicou que, para o povo Misak, Belalcázar "foi um dos líderes que criaram a escravidão, exterminaram os povos indígenas e massacraram os povos afros" naquela região. "As pessoas da oligarquia queriam que essa estátua estivesse em Popayán."

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