Representantes dos índìgenas bolivianos se reuniram em La Paz antes de um encontro com o governo (Aizar Raldes/AFP)
Da Redação
Publicado em 27 de abril de 2012 às 18h59.
Última atualização em 7 de abril de 2017 às 18h08.
Trinidad - Centenas de indígenas da Amazônia boliviana começaram nesta sexta-feira sua segunda passeata em menos de um ano rumo a La Paz para defender um parque natural que o presidente Evo Morales quer dividir em dois com uma estrada financiada pelo Brasil.
Os amazônicos, apoiados por outros grupos étnicos do planalto e do sul do país e por ecologistas e sindicalistas, iniciaram sua caminhada em clima festivo na praça principal da cidade de Trinidad e devem percorrer hoje seus primeiros 17 quilômetros, segundo comprovaram enviados da Agência Efe.
A Confederação de Povos Indígenas do Oriente da Bolívia (Cidob) lidera a mobilização, que começou após uma celebração religiosa na catedral de Trinidad, capital do departamento de Beni, na fronteira com o Brasil.
Mais de 300 nativos, inclusive crianças e mulheres, iniciaram a travessia de mais de 500 quilômetros, vários deles vestidos com trajes típicos e agitando bandeiras e símbolos indígenas, rumo a uma primeira escala em Puerto Varador, na beira do rio Mamoré.
Os manifestantes rejeitam que a estrada passe pelo coração do Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), situado no centro da Bolívia, porque temem que destrua o que consideram um paraíso ideal para viver, no meio de um extraordinário habitat animal e vegetal.
Trata-se de uma área de 1,2 milhões de hectares em forma de triângulo invertido, localizado entre os departamentos de Cochabamba e Beni, que Morales diz que quer integrar com a estrada.
Os indígenas começaram sua caminhada em Trinidad após não poderem reunir-se na quarta-feira no povoado de Chaparina, primeiro ponto de encontro, pelo bloqueio de rotas por partidários de Morales.
O início da passeata de hoje estava menos lotado que a primeira manifestação contra a estrada, entre agosto e outubro de 2011, mas os indígenas esperam somar adesões no trajeto, disse o deputado indígena Pedro Nuni, que se distanciou do Movimento para o Socialismo (MAS), partido de Morales, por causa desta disputa.
O grande ausente no começo do protesto foi o líder máximo das etnias do Tipnis, Fernando Vargas, internado em um hospital com dengue.
De sua cama, Vargas disse aos meios de comunicação que lamenta sua situação, mas que é melhor que esteja internado agora para depois juntar-se à mobilização, embora isso possa demorar seis dias, segundo outros dirigentes.
''O governo tem que começar a entender que os direitos têm que ser respeitados e não podem ser violados continuamente'', declarou o dirigente do Tipnis.
As etnias do parque defendem que seu território foi reconhecido pelo Estado em 1990 e protestam contra Morales porque sua decisão de construir a estrada, sob responsabilidade da empresa brasileira OAS, viola seus direitos e põe em risco sua existência como cultura.
No entanto, alguns nativos do Tipnis rejeitam a nova passeata e respaldam a obra, após uma campanha de Morales, mestiço de origem aimara, que levou presentes e selou acordos com esses setores para que não se somassem à manifestação.
Estes grupos exigem uma consulta sobre a estrada entre as etnias do parque, respaldados por uma recente lei de Morales que contradiz outra emitida por ele mesmo após o protesto de 2011, que está vigente e veta qualquer via no Tipnis.
Essa primeira passeata durou 66 dias e também sofreu bloqueios de partidários de Morales e repressão da polícia, mas chegou triunfal a La Paz, quebrando a imagem do líder como indigenista e ecologista.