Nicolas Sarkozy foi indiciado na madrugada desta quarta-feira (Stephane Mahe/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de julho de 2014 às 15h39.
Paris - O indiciamento, na madrugada desta quarta-feira, do ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, compromete um eventual retorno dele à cena política e também o futuro da União por um Movimento Popular (UMP), formação conservadora que está dividida, arruinada e abalada por escândalos financeiros.
Reina a incerteza em torno do futuro político de Sarkozy, que ontem se tornou o primeiro ex-presidente da França obrigado a prestar depoimento à polícia, numa conversa que durou 15 horas.
O que ficou claro agora é que sua agenda pública estará marcada pela judicial por causa das acusações de corrupção ativa, tráfico de influência e encobrimento no segredo de instrução, um processo que deve durar um ano e meio pelo menos.
Até agora era dado como certo o retorno de Sarkozy à linha de frente da política, a começar pela reunião prevista para 29 de novembro para escolher o presidente da UMP, partido que em 2007 o levou ao Palácio do Eliseu, e já de olho nas eleições presidenciais de 2017.
Alguns analistas, como o chefe de política da emissora de televisão "BFM", Thierry Arnaud, defendiam que Sarkozy tomaria uma decisão sobre seu futuro após o verão europeu.
Outras informações, como a divulgada ontem pelo jornal "Le Parisien" e hoje pelo "Le Monde", baseada em declarações de colaboradores próximos, apontam que sua delicada situação judicial reforçaria ainda mais a determinação dele de retornar à arena política.
Tanto entre pessoas ligadas a Sarkozy quanto nas fileiras rivais há quem acredite que o acúmulo de processos poderia beneficiá-lo, caso decida se colocar na posição de vítima de um complô montado por juízes parciais, com o beneplácito do governo socialista.
Enquanto isso, os rivais dentro da UMP têm posições bem distintas. Enquanto uns se mantém à distância da polêmica, como o ex-primeiro-ministro François Fillon, outros o apoiam publicamente, como o ex-chefe do Executivo e atual prefeito de Bordeaux, Alain Juppé, que evocou a 'amizade' que o une a Sarkozy.
O "assunto judicial" pode se tornar um "assunto de Estado" em função do envolvimento do Executivo no andamento do processo, como acusava hoje nos microfones da 'RTL' o ex-ministro Bruno Le Maire, outro dos candidatos à presidência da UMP.
Esse partido, coalizão de distintas correntes conservadoras que está imerso em uma crise interna, ficou à beira da ruína econômica quando o Conselho Constitucional invalidou há um ano as contas da campanha para a reeleição de Sarkozy, obrigando a formação a reembolsar 11 milhões de euros.
Também se investiga se o ex-presidente, quando buscava um segundo mandato no Palácio do Eliseu, superfaturou custos de campanha com notas falsas emitidas pelo gabinete de comunicação Bygmalion, que organizou 44 de seus comícios eleitorais.
Segundo "Le Monde", a estratégia de vitimizá-lo pode encorajar seus adversários na convenção do próximo outono, mas afastá-lo do eleitorado de centro, um voto crucial para uma eventual vitória em 2017.
A tripla acusação por corrupção ativa, que tem pena máxima de dez anos de prisão, se apoia em escutas telefônicas ordenadas pelos dois juízes que instruem o caso.
Os investigadores deduziram que Sarkozy e seu advogado, Thierry Herzog, recebiam de parte de um alto magistrado informações vazadas sobre o andamento do caso contra o político conservador, sete no total.
Os três são acusados pelos mesmos delitos, a partir de uma instrução sobre o suposto financiamento ilegal da campanha de Sarkozy pelo ex-ditador líbio Muammar Kadafi.
Mas seu grupo não reconhece a validade legal das escutas telefônicas que provocaram a abertura do processo, por entenderem que elas violam o direito da confidencialidade entre advogado e cliente.
Já entre os socialistas, a estratégia de comunicação está centrada em reivindicar a independência do Poder Judiciário e lembrar que Sarkozy está amparado pela presunção de inocência, como qualquer outro cidadão, dois dos "grandes princípios" do Estado de direito.
Pode ser que a incógnita sobre as intenções de Sarkozy acabe esta noite. Ele dará uma entrevista exclusiva ao vivo às 18h à emissora "TF1" e à rádio "Europea 1".