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Indianos se mudam para que elefantes tenham trânsito livre

Depois de mais de 40 anos de conflito entre humanos e animais, os moradores de Ram Terang, no estado de Assam, saíram de suas casas


	Elefantes: de acordo com a ONG Wildlife Trust of India (WTI), em todo o país há 88 corredores para estes mamíferos
 (Jorge Silva / Reuters)

Elefantes: de acordo com a ONG Wildlife Trust of India (WTI), em todo o país há 88 corredores para estes mamíferos (Jorge Silva / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2016 às 11h05.

Nova Délhi - No mês passado, uma aldeia indiana inteira se mudou de lugar para que elefantes possam transitar livremente por uma faixa de terra que serve de ligação entre dois de seus habitats.

Depois de mais de 40 anos de conflito entre humanos e animais, os moradores de Ram Terang, no estado de Assam, saíram de suas casas, já que anualmente 400 pessoas e uma centena de animais morrem por conta da passagem deles por zonas habitadas na Índia.

De acordo com a ONG Wildlife Trust of India (WTI), em todo o país há 88 corredores para estes mamíferos.

Durante gerações, os moradores de Ram Terang sofreram com este problema, uma relação de amor-ódio, já que os locais são "muito afetuosos" com os elefantes, que eles chamam carinhosamente de "pai", explicou à Agência Efe Rupa Gandhi, diretora adjunta da WTI, que participou da mudança da aldeia.

Talvez por isso, as 19 famílias tenham aceitado "voluntariamente" fazer as malas, e deixar para trás suas terras e casas de bambu com telhado de palha.

As novas casas são de tijolo e telhados verdes. Os imóveis têm cozinha, sistema de drenagem e vaso sanitário e ficam a cerca de seis quilômetros da aldeia original.

Segundo Rupa, as condições são muito melhores no povoado atual, onde inclusive foram instalados painéis solares à espera de um sistema elétrico, frente às "inadequadas" casas anteriores que ofereciam pouca proteção contra os paquidermes.

Contudo, a mudança levou tempo. Com apoio da organização britânica Elephant Family, presidida pelo príncipe Charles, a WTI comprou o terreno para a nova aldeia em 2013.

Dois anos depois, os moradores começaram a cultivar e no início do mês passado, finalmente, começaram a se mudar.

"Leva de 5 e 7 anos para concluir este tipo de mudanças", detalhou a diretora adjunta, que se mostrou otimista que o período será menor na sua próxima missão, na aldeia de Tokolangso.

Tokolangso fica no mesmo corredor que a antiga Ram Terang e as 23 famílias que moram lá já se mostraram dispostas a mudar. No final, a mudança destas duas populações proporcionará uma "passagem segura" para cerca de 1.800 elefantes.

"Os elefantes se movimentam o tempo todo, já que precisam de uma grande quantidade de comida", disse Rupa, explicando que eles usam sempre o mesmo corredor graças a "sua memória fantástica".

De acordo com o chefe do projeto de WTI, Sandeep Tiwari, pelo menos a metade dos corredores de elefantes do país apresenta "algum problema por conta da habitação humana".

Na superpovoada Índia, dezenas de elefantes morrem anualmente atropelados em estradas, eletrocutados por cabos de alta tensão ou envenenados por humanos. Em Assam, inclusive, algumas tribos consomem sua carne.

No entanto, o ele não se preocupa com este fenômeno de "baixa" incidência, mas com a "perda do habitat e sua fragmentação".

Neste sentido, o professor C.R. Babu de Estudos Ambientais da Universidade de Délhi advertiu que o habitat do elefante "está se deteriorando drasticamente" não só em "tamanho, mas também em termos de qualidade".

A escassez de alimentos é também, em sua opinião, a razão pela qual os animais estão adentrando em áreas dominadas pelo ser humano.

Com a Ram Terang, a WTI já transferiu quatro aldeias e, apesar do chefe do projeto ter assegurado que estes projetos são considerados "um modelo de situação na qual todos ganham", parece que ainda fica muito corredor por andar.

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